Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Bilogia e psiquismo

O registro da fome é orgânico, afirmam alguns. A meu ver, será apenas a diferença de potencial entre elementos químicos no corpo que obedece a parâmetros estabelecidos funcionais, pelo que não devemos falar em registros físicos, mas apenas, e tão só, de limites, que o aparelho psíquico, mesmo rudimentar que seja, emite sinais, como despertador para agitar o corpo na procura de suas necessidades. O aparelho psíquico, por mais rudimentar que seja, reproduz os parâmetros funcionais orgânicos, emitindo seus sinais ao corpo, irritação, para que possa movimentar-se no sentido de satisfazer suas necessidades. Existe uma valorização crescente de acordo com as necessidades, que são sinalizadas pelo psiquismo, que sempre parece traduzir-se quando estabelecida a escassez. Daqui, talvez possamos retirar a primeira lição, que é propriedade de Freud, de que tanto a escassez, como os excessos serão prejudiciais ao corpo, o que nos remete para a ideia do que possa ser suficiente para a vida, e do sentido que possamos retirar dela. Supostamente podemos falar de qualidade, quando na realidade a função parece reger-se através de valências entre a diversidade de elementos químicos que constituem um corpo, apresentando elas um patamar preestabelecido, que possa ser traduzida em estabilidade funcional, ou seja,emocional. A partir daí, o que se coloca ao indivíduo será a motricidade suficiente para que possa alcançar a realização de suas necessidades, que no caso de um recém nascido não a terá por certo. Ao movimento condicionado pela biologia, mera função, deve seguir-se o movimento dirigido ao objeto exterior, pelo que a evolução e o aprendizado dependem das sucessivas relações do indivíduo com os objetos exteriores, em que de manipulado passa um dia a manipulador. Assim, somos levados a deduzir, que depende da forma como foi o indivíduo manipulado, que pode tornar-se em sujeito manipulador com, mais ou menos, as mesmas características incorporadas daquele que o manipulou. Entre o presente, que se traduz em passado, e o futuro, o indivíduo está posicionado no aqui e agora, como forma de adaptação de suas características inatas ao mundo exterior, que inexoravelmente necessita de tempo, em que o aprendizado será precedido de movimentos oscilantes, até que possa existir uma consolidação de uma forma conseguida de estar, e manipular os objetos exteriores. A repetição como forma de estruturação e construção do movimento, apenas parece refletir uma qualidade funcional de justaposição de atos semelhantes, até ser encontrada uma forma definida de lidar com os objetos exteriores e ideias a eles associadas. É alheia à função qualquer ideia de bem e do mal, designada pelo pensamento humano, pelo que a repetição se não for interrompida, não obstante tais designações, os atos daí resultante serão mais ou menos os mesmos, ou semelhantes. A dúvida persiste ao longo dos séculos, quanto à melhor forma de interromper o movimento repetitivo, em que o melhor deve ser observado através das consequências, e não de conceitos que possam traduzir-se no contrário. De que adiante construir conceitos, se colocados em prática na formação humana eles resultam na doença física, nos transtornos psíquicos, na violação e na agressão ao semelhante ?

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Tesão e afeto

Partindo do entendimento que aquilo a que designamos por tesão será uma sensação do corpo, que todo o ser animal experimenta, em que a sua erotização traz consigo uma determinada irritabilidade que deve ser descarregada para ser dissolvida, e o corpo voltar à sua condição de funcionalidade normal, diremos que se trata de um processo primário e circunscrito a uma ordem biológica. Tratando-se de sensações, diremos que elas são despertas apenas através da relação entre corpos, mas a realidade nos faz saber, que as coisas não são bem assim, dado que nos é dado a observar a ereção do pénis, nomeadamente em crianças de tenra idade, sem a participação ativa de outros objetos. Qualquer homem sabe, por exemplo, que ao acordar de manhã é muito usual o pénis mostrar-se ereto, sem que houvesse manipulação para que tal viesse a acontecer, pelo que devemos concordar que sua causa primária provém do organismo. Certo, que essa sensação, derivada de um acúmulo de energia vital se aloja tantas vezes nos órgãos sexuais, como sendo parte excedente de determinada ordem biológica, como forma de um corpo não a perder, e que por isso deve ser estimulada. O que fica por saber ao nível biológico será como essa ordem a fabrica e quais os estímulos que provocam tais sensações de volúpia, que devemos considerar, não possuir uma ideia definida relativamente a um objeto exterior, nem aparentemente podemos saber seu objetivo, apesar de considerar ser da própria natureza animal. Dirão que o objetivo será a procriação, mas a realidade nos faz saber, que numa criança de tenra idade tal fato é irrelevante por mostrar-se incapaz de ter relações sexuais e fecundar, pelo que devemos admitir a teoria de Freud do polimorfismo na criança como algo a levar em conta. Ou seja, uma força bruta da natureza, sem objeto exterior e supostamente sem objetivo, como sensação sentida no corpo derivada da biologia, a que urge dar uma direção, ao contrário da tentativa de a castrar, sendo esta a primeira causa das neuroses, em que a possibilidade da amputação garante ao ser vivo a sua inutilidade. Saber dirigir um carro e não proibir o indivíduo de o fazer parece residir o segredo de toda a formação infantil. Afinal para que serviria aquilo que a própria natureza nos deu ? Não tem qualquer lógica amputar a própria natureza, pelo contrário a lógica tem seu caminho na condução dessas forças que nos habitam, em que o bem estar coincide com a realização de um desejo nos objetos considerados pela sociedade como adequados. A psicanálise não pode ser invenção, mas construção, derivada de processos anteriores que se apresentam inscritos na ordem biológica, e não podem ser anulados. A análise serve para isso, descobrir caminhos e atalhos para o bem estar. Será pois, na relação objetal que reside o bem ou mau estar posterior, que qualquer ser vivo possa sentir. Como fazer para que parte dessa energia bruta, tesão, que apresenta como finalidade a posse do objeto sem os distinguir, não os separando em adequados e inadequados, possa ser distribuída por uma ordem que os possa reconhecer e os aceitar. Devemos entender que os inadequados não devem receber essa energia bruta, tesão, em que a questão da proibição do incesto nos vem mostrar essa impossibilidade, a transformando em afeto. Mas levanta-se aqui uma ordem de construção estrutural posterior, em que supostamente o afeto deveria vir em primeiro lugar, em vez de uma indiferenciação da própria energia fabricada pelo corpo, que se encontra em seu estado polimorfo. Freud - Vol. XIX – (8) A DISSOLUÇÃO DO COMPLEXO DE ÉDIPO (1924) A autoridade do pai ou dos pais é introjetada no ego e aí forma o núcleo do superego, que assume a severidade do pai e perpetua a proibição deste contra o incesto, defendendo assim o ego do retorno da catexia libidinal. As tendências libidinais pertencentes ao complexo de Édipo são em parte dessexualizadas e sublimadas (coisa que provavelmente acontece com toda transformação em uma identificação) e em parte são inibidas em seu objetivo e transformadas em impulsos de afeição. Assim, nos é a dado a saber pelas palavras de Freud, que os impulsos de afeição são derivados de inibições capazes de criar uma cisão nesse movimento repetitivo e natural das forças emergentes de um corpo, pura energia.