Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Discurso perverso

Quando o discurso do psicanalista é pautado pela ideologia, estamos perante uma ideia social e política, que se encontra aquém e além dos princípios teóricos em psicanálise, sendo uma nova forma de exercer um poder como substituto de outro existente. Cada vez mais é notada a ausência da dissociação entre ciência e política, em que ao saber o sujeito exige um poder, que na realidade não deveria estar vinculado, dado que o mais saber deveria pautar-se pelo reconhecimento de sua própria ignorância. Num mundo globalizado, em que as novas tecnologias permitem a viagem e a comunicação em tempo real com os demais, sendo acessível ao mais comum dos mortais, a verbalização tende a perder algum de seu sentido, pelo que a sedução deve imperar para conduzir o sujeito naquilo que a outros interessa. Tenta-se combater o poder com outro poder, numa substituição infinita de objetos, que julgamos de outra dimensão, quando bem vistas as coisas, pouco vem acrescentar à problemática da humanização e socialização, de que seus autores tanto falam. Falar de poder e o desejar sem dar a ideia de o querer, nada melhor que combater o poder instituído, como forma de se instalar na cadeira do poder, dado que este não deve esvaziar-se de sentido, sendo a bússola que orienta qualquer ser vivo. Incorremos por vezes na prática de responsabilizar os mercados consumistas, ditos regimes capitalistas, pelo alastrar das crises psíquicas, do mesmo modo que o neurótico tenta responsabilizar sempre o outro pelos seus desaires, não percebendo o autor deste texto qual seja a diferença de ambos os comportamentos. Continuamos a fugir à responsabilidade de encontrar um caminho alternativo, que não passa pelo outro, mas por descobrir o seu próprio caminho, como forma autônoma de se apresentar perante a vida e os obstáculos que exigem superação. Falamos do gozo que nos oferece a liberdade de gozar em tudo que possa representar o estético, o atraente, tentando dizer que o sujeito do gozo que goza, só o pode fazer porque o poder capitalista assim o incentiva, transformando em coitados, aqueles a quem devia ser mostrada a força de sua energia dispersada no seu próprio gozo, transmitindo-lhes que podem, e devem tomar as rédeas de seu poder interior. Este tomar as rédeas de seu próprio poder interior é o fim último a que se propõe a psicanálise, a que só deve ser exigida uma coisa simples, embora pareça a alguns ser difícil cumprir, o respeito e consideração pelos demais. Fazer a apologia da destruição de um sistema, neste caso capitalista, consumista, logo nos assalta a ideia da substituição por outro mais tenebroso, dizem outros, por afetar a liberdade do sujeito, como seja o comunismo, ou o socialismo, pelo que nos enredamos em formas ideológicas, que pertencem ao mundo do coletivo, da sociedade, que não da individualidade. Devo afirmar que a análise é um processo individual, embora transportando consigo o histórico do sujeito adquirido ao longo de sua existência, não terá condições de sucesso se continuar a valorizar e a cultivar sentimentos de vergonha, constrangimento e de culpa, perante uma formação repressiva familiar e da própria sociedade. Valorizar um regime, seja qual for, é não se valorizar a si mesmo, em que o poder encontra-se no outro, e com o outro, tornando-se submisso e neurótico, sujeitando-se desta feita ás drogas autorizadas e à verbalização sedutora, será tratar o sintoma, que não a própria neurose. A psicanálise finda a sua missão quando, mediante a análise o sujeito recupera o gozo pela vida, em que o vício da vida tende a superar a morte, não cabendo ao psicanalista tentar seduzir, ou conduzir a vida do sujeito posteriormente, por intermédio de seu suposto saber.

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