Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Os sonhos como realização de desejo

Ontem sonhei que me deixei acariciar e beijar por uma mulher, de que não senti repulsa alguma, bem pelo contrário. Qual o significado desse sonho ? Na realidade desejava interrogar-se acerca da sua possível inclinação homossexual. O sonho, se é verdade, que são realizações de desejos, como falar sobre o acontecido ? Aqui, voltamos á velha história que o desejo em si mesmo já será a construção do pecado, pelo menos muita gente assim entende, em que o sentimento de culpa antecede o próprio ato. Retirar a culpa daquele que ainda não agiu, e falar sobre isso exige uma sensibilidade e conhecimento bastante para que o diálogo não se encontre com a dramatização de fenômenos mentais que são da própria natureza, e que o ser humano não domina de todo. Podemos observar a existência de uma pulsão nesse sentido, mas não conseguimos, ou temos grande dificuldade em determinar como foi processada, muito embora possamos admitir, que tal sonho seja a realização de um desejo de um Ego objetal não permitido por outra instância psíquica. Aqui, somos levados a considerar que um objeto feminino, mãe, foi mais determinante em sua intimidade quando criança, que o objeto masculino, pai, mas continua insuficiente para explicação do fenômeno. Porém, trata-se de uma pulsão parcial interrompida por um superego que tende a destruir tais intenções, que por isso só no sonho pode ser possível, que não na vida real, embora possa vir a acontecer numa outra circunstância qualquer não determinada. O que antes era instinto, mas não reconhecido como sexual, faz agora sua aparição sob a forma sexualizada, devido à maturidade dos órgãos e da evolução de sua própria vida como ser humano. O que foi um dia erotizado apresenta-se hoje com todos os componentes desenvolvidos, em que a ligação da energia entre dois corpos, sejam eles quais forem, é processada de forma completa, digamos. Refira-se que a completude aqui descrita representa o clímax, o culminar de um processo afetivo que tem seu encontro com o corpo do outro, entendido como alguma dependência. A esta excitação, a maioria das pessoas designa por amor, quando, a meu ver, deve ser estudado e investigado ao nível da energia e seu deslocamento para objetos que possam merecer o afeto da pessoa, ou pelo menos assim julga. Se o corpo apresenta a tendência para o relaxamento profundo após um período de tensão porque passa o sujeito no seu dia a dia, o lado afetivo \ sexual do sonho tende a favorecer a descarga de alguma energia retida, que de vez em quando necessita de ser renovada. Renovação e sexo devem ter algo em comum, embora possamos reconhecer que a morte de um desejo ocasional, nada, ou muito pouco nos diz como foi construído.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

O mistério das relações

Meus relacionamentos não dão certo, mas não consigo descobrir porquê. Algo estou a repetir sucessivamente sem aperceber-me do que possa ser, e quais suas causas, que me conduzem sempre ao mesmo resultado. Desconheço este movimento interior que me leva à repetição. Depois de algum tempo de colocar a culpa no outro comecei a sentir-me também culpado, nem sei bem porquê, porém, duvidando que as pessoas com quem me relacionei fossem todas iguais, e que eu seria o bonzinho desta história mal sucedida, e as outras só pretendiam um momentos de diversão. Talvez fosse demasiado sério para as pessoas me levarem a sério. Esta intuição, de que a culpa fosse minha, fez-me pedir ajuda, que enquanto não tomei a responsabilidade de algo que não deu certo em minha vida, não a procurei. Deixei de perseguir o causador da minha angústia, o outro, libertei-me desse sentimento de vítima, e finalmente consegui enxergar o sujeito que estava a sujeitar-se à sua própria vitimização. Finalmente a liberdade, pensei eu, quando na realidade ainda não sabia a direção a tomar, embora soubesse o caminho a seguir, o da autonomia e libertação do outro, e de mim mesmo. Mas qual seria o outro de que pretendia libertar-me ? Não. O que fiz, foi dar a liberdade ao outro de ser tal como é, e não como gostaria que fosse, daí que a culpa se tenha virado para mim, como se fosse a interrogação relativamente à minha interioridade, que não conseguia dar uma resposta. A falta do objeto nos faz pensar um pouco assim. Afinal, o que minha interioridade sabia, ou executava, que eu próprio ignorava ? Devo considerar que o sujeito do conhecimento, por vezes, pouco ou nada sabe a seu respeito, do que se passa na interioridade oculta de seu corpo. Este sentir ignorante, e as sucessivas frustrações amorosas, criaram uma ruptura entre um desejo consciente, e algo interior que impedia a sua realização, provocando uma ruptura da energia que ligava ambos os corpos, deixando-me sozinho, entregue a mim mesmo, sem possuir o objeto de desejo. O que fazer com essa liberdade ? Nunca me fora dada a condição de caminhar por mim mesmo, que decerto não saberei, e a insegurança não se fez esperar, e foi talvez por isso, e não por sentir a culpa, que fui em busca de ajuda de alguém que dissesse o que deveria fazer. A insegurança de uma criança que espera a mão da mãe, ou do pai para a conduzir já não estava mais aqui, fora então substituída na pessoa do psicanalista, esperando dele exatamente o mesmo tipo de atitude de meus pais. Abandonado e inseguro resgatei o pai, pensava eu, no poder do psicanalista, que me iria conduzir ao paraíso, como se fosse o histérico a conduzir a dama neurótica por prazeres nunca antes experimentados, eternizando desse modo a criança dentro de mim. Triste e abandonado, deixo-me levar, pensava eu, em que não haveria esforço a fazer da minha parte, e tudo seria resolvido pelo papai, não percebendo que o comodismo é sinônimo da inação, e que por via disso, me mantive sempre de bico aberto à espera do alimento. Desse lugar teimava o psicanalista em não me tirar, como se não quisesse, ou pudesse fazer alguma coisa por mim, dando-me apenas os instrumentos necessários para salvar—me a mim próprio. Como salvar-me da aflição, dos tormentos, se minha alma atormentada, não sabe, nem percebe como fazê-lo ? Esse é o ¨ drama ¨ da análise, tanto para o psicanalista, quanto para o paciente, que deve ser gerido com todo o cuidado, em que não existe mistério, mas exige um saber.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Pulsões destrutivas e mal estar da civilização

A questão do mal estar da civilização de Freud é entendida como derivada da afetação do indivíduo em sua formação familiar, e da repressão sobre ele exercida através de modelos societários impostos. Não existe separação entre psicologia individual e coletiva, diz Freud. Se num primeiro tempo podemos perceber a afetação dos instintos animais exercida pela repressão familiar, num segundo momento damos conta de uma reação do corpo perante a agressão exterior, em que o poder do outro transforma-se em seu próprio poder. Podemos falar em pulsão destrutiva, mas ela será sempre posterior a todos os acontecimento que a antecedem, e que provocaram tal poder de destruição, pelo que falar de seus efeitos pertence à Sociologia e Filosofia, e de suas causas à Psicanálise. Falar do que é, mas não devia ser, será entrar num jogo neurótico onde se multiplicam razões e verdades absolutas acerca de um cenário a nossos olhos degradantes, que ao longo dos tempos não se vislumbra qualquer solução, e tende a agravar-se nos dias de hoje, quando a criminalidade impera, e as agressões ideológicas se multiplicam. Falar do que deve ser feito ao nível do indivíduo para o retirar, ou o impedir de algum modo de chegar até ao crime exige um outro tipo de trabalho, em que a prevenção tende a substituir o julgamento e punição Tentar estancar a fonte da miséria humana, do mal estar e da infelicidade é o campo preferido da psicanálise Freudiana.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Técnicas de análise

Técnicas de análise Responsabilizar o sujeito pelos seus atos, mesmo inconscientes que sejam, será como fixá-los no lugar que ocupam até que possam resolver seus conflitos, o que pode tornar-se doloroso em alguns casos, e prazeroso noutros. Talvez aqui possamos rever a história do neurótico e de um perverso, em que a tendência do psicanalista será retirar um do sofrimento e o outro do prazer. Essa tendência provém de uma mentalidade embutida na sociedade em que o prazer do perverso não é aceite e o sofrimento do neurótico exige compaixão. A questão da neutralidade do psicanalista, neste caso, parece ficar comprometida, a menos que para ele seja irrelevante, tanto o sofrimento quanto o prazer, entendido, claro, como essencial para a reelaboração e posterior resolução dos conflitos. Para além dos valores morais temos o sucesso ou insucesso de uma análise, e este problema que trago aqui, parece estar sempre em cima da mesa na relação entre psicanalista e paciente. Porém, um dado interessante que constato, é que ignorando os destemperos de uns e sofrimento de outros, quando a análise é bem sucedida a tendência será sempre para um ajuste do comportamento mais equilibrado.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Felicidade

Felicidade • O que ela não é. Até hoje ninguém deu resposta definitiva do que é a felicidade, ou possa ser, talvez, porque seja um estado transitório entre a alegria e a tristeza, a satisfação e insatisfação, a dor e o sofrimento. Portanto, felicidade não é um estado absoluto de alegria e satisfação, dado que de vez em quando é contrariado por estados de tristeza, de dor e sofrimento. Assim, devemos considerar que a felicidade depende muito mais da existência de conflitos emocionais, do que da procura em qualquer lugar, aliás, inexistente, dado resultar de um rácio entre satisfação e insatisfação. Desse modo, a felicidade eterna não pode existir, e quem a promete, mesmo que seja uma questão de fé, não passa de uma possibilidade por cumprir, uma ilusão. Trabalhamos sob a influência de uma ilusão de felicidade, que conseguimos por momentos, mas não a tempo inteiro, para apaziguar nossas angústias e tristezas, que não se encontrando neste lugar encontra-se no além. Se ela não existe, pelo menos não é visível, há que procurá-la, dizem alguns. O problema é que quanto mais a procuramos mais ela nos parece fugir, dado que existe uma teoria para a prática do bem estar que o ser humano não quer, ou não sabe enxergar, porque isso exigiria dele uma transformação real. Não a procurar parece ser a primeira condição, não para a encontrar, mas para refletir, como, e o que fazer, para que possa ser possível retornar a um estado de felicidade então perdido, que impõe a tristeza, a dor e o sofrimento. Se a procuramos é porque se transformou em desejo, devido a um outro desejo que não deseja sentir a tristeza e insatisfação, o que nos leva a estudar com maior cuidado os princípios básicos da psicanálise Freudiana, no que é referido ao princípio do prazer. Felicidade, por isso, não é sentimento a que tenhamos acesso de forma direta, que só se revela por intermédio de outras realizações, como sejam, as relações entre seres humanos, que devem ter em conta o respeito e consideração entre os semelhantes, sejam eles quais forem. Assim, a felicidade depende em primeiro lugar da forma como o ser humano se relaciona com o outro, e o mundo à sua volta, que tem seu aprendizado na formação infantil. Freud – A realização de um desejo infantil é o único capaz de proporcionar a felicidade.