Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

domingo, 7 de agosto de 2011

Fragilidade depressiva


  • Filosofia psicanalítica da mente
Ao dar esta designação, fragilidade depressiva, pretendo afirmar uma pré condição do indivíduo em entrar em depressão, quando as circunstâncias tendem a ser alteradas, em que damos conta de uma ausência de flexibilidade mental face a uma realidade do mundo exterior.
Somos a considerar que o ser humano está sujeito a constantes frustrações, designadas por perdas, mas que nem todas elas conduzem a um estado depressivo, em que a insatisfação provocada, pode ser superada com maior ou menor facilidade.
Entenda-se a fragilidade como a débil capacidade de superação face aos inúmeros conflitos que se deparam ao indivíduo no decorrer de sua vida, em que se deixa abater, entrando numa espécie de confusão mental.
Alguns analistas chamam de capacidade de sofrimento, em que o desprazer aflora com alguma intensidade, e que pelos vistos para alguns será necessário aceitar o que a vida lhes oferece, como forma de superação de uma dor interior.
No entanto, devemos ter a noção, que essa capacidade de sofrimento levada ao extremo, promove a criação de seres humanos frágeis.
Superar a dor interior, através do consumo de um chocolate, de comprar roupas e perfumes, ou ter por companhia uma garota ¨ gostosa ¨, será apenas a tentativa de sublimação falhada de um conflito psíquico por resolver, que mais á frente retornará.
Aceitar a realidade com recurso á inatividade é aceitar, não só a sua impotência perante os fatos, mas acima de tudo ficar aprisionado a idéias e comportamentos, que se tornam em obstáculos, o que impossibilita ao ser humano de encontrar seu próprio caminho.
O que está em causa é a autonomia evolutiva do ser humano, que não se compadece com recalques, e aprisionamentos a idéias consideradas como verdades absolutas, cujo desvio leva ao julgamento de formas estéticas, desprezando o fundamental, a vida e a relação.
Por outro, a facilidade de comunicação, do acesso a livros de auto ajuda, aos escritos dos diversos órgãos de comunicação social, e á fala de alguns profetas da ¨ desgraça ¨, garante ao indivíduo a falsa sensação de que os conflitos interiores possam ser resolvidos dessa forma.
Se assim fosse, dada a profusão de tanto material relacionado, as pessoas seriam muito mais felizes, o que não é o caso.
Aceitar a realidade exterior tal como se apresenta não é sinônimo de estacionar num estado inoperante, inativo, dado que essa atitude conduz ao recalque de desejos, o que pressupõe mais adiante a emergência de transtornos psíquicos, mais ou menos graves, sendo essa atitude um dos motivos da incorporação de uma certa fragilidade depressiva.
Mas aceitar, que tudo se resolve através da luta contra o outro, o tentando vergar à nossa vontade e desejos, é doentio e neurótico, que só conduz ao confronto, e à exteriorização dos conflitos interiores.
Ou seja, o fato de constatarmos uma realidade exterior diferente da interioridade do indivíduo não nos deve incomodar, tentando seguir um caminho determinado pela autonomia de uma prática formativa, e educacional.
Mas aqui nos debatemos com um problema grave, é que de fato essa prática formativa e educacional começa em casa, o que condiciona o indivíduo em sua prática futura.
Será essa pré determinação mental incorporada no sujeito devido a uma prática formativa e educacional, de que Freud fala, que tende a condicionar a prática futura do ser humano.
Facilmente constatamos isso através da análise, em que existe uma força interior que tende a superar em muitas ocasiões uma vontade expressa relacionada com o pensamento, em que o indivíduo percebe-se incapaz de contrariar a sua prática.
Se o indivíduo tem conhecimento do que deve, ou não fazer, porque não o consegue ?
Porque deixar de fumar é tão difícil ?
Se a primeira regra da convivência humana é não matar, porque os assassinatos se sucedem a um ritmo assustador ?
Onde de fato mora a consciência ?
Ela na realidade existe, tal como a entendemos ?
O que deveria ser, e não é, parece que todos sabem, a que falta a prática do fazer de acordo com o que verbalizamos.
Porque existe essa diferença, entre uma prática e a verbalização, que em muitas ocasiões seguem caminhos diferenciados ?
Perceba-se o paradoxo da procura de uma uniformidade de princípios e conceitos, que na prática não conseguimos observar, em que os desvios a uma postura de respeito e consideração pelo outro, são cada vez mais acentuados.
O que supostamente levaria ao respeito e consideração pelo outro, acaba por ter um efeito contrário, pelo que poucas dúvidas parecem existir quanto à existência de elementos de interseção, que desviam o ser humano desse caminho.
Algo parece intrometer-se entre a teoria e a prática, que tende a provocar um desvio no caminho, que muito embora não seja desejado, os indivíduos não conseguem evitar.
Afirmar o que deve ser e não é, será apenas uma constatação de uma realidade não desejada, que não altera em nada os atos praticados, nem contribui para a melhoria das relações humanas no futuro.
Será o falar por falar.
Será o constatar, observar, mostrando toda a impotência em alterar seja o que for.
Ao criar um mundo formativo e educacional frágil, estamos a contribuir para a criação de seres humanos impotentes.
O que a formação e educação não conseguiu só a análise pode oferecer.    

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