Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

sábado, 28 de janeiro de 2012

Neurose e psicose - Freud

A tese de que as neuroses e as psicoses se originam nos conflitos do ego com as suas diversas instâncias governantes — isto é, portanto, de que elas refletem um fracasso ao funcionamento do ego, que se vê em dificuldades para reconciliar todas as várias exigências feitas a ele —, essa tese precisa ser suplementada em mais um ponto. Seria desejável saber em que circunstâncias e por que meios o ego pode ter êxito em emergir de tais conflitos, que certamente estão sempre presentes, sem cair enfermo. Trata-se de um novo campo de pesquisa, onde sem dúvida os mais variados fatores surgirão para exame. Dois deles, porém, podem ser acentuados em seguida. Em primeiro lugar, o desfecho de todas as situações desse tipo indubitavelmente dependerá de considerações econômicas — das magnitudes relativas das tendências que estão lutando entre si. Em segundo lugar, será possível ao ego evitar uma ruptura em qualquer direção deformando-se, submetendo-se a usurpações em sua própria unidade e até mesmo, talvez, efetuando uma clivagem ou divisão de si próprio. Desse modo as incoerências, excentricidades e loucuras dos homens apareceriam sob uma luz semelhante às suas perversões sexuais, através de cuja aceitação poupam a si próprios repressões. Em conclusão, resta considerar a questão de saber qual pode ser o mecanismo, análogo à repressão, por cujo intermédio o ego se desliga do mundo externo. Isso, penso eu, não pode ser respondido com novas investigações; porém, segundo pareceria, tal mecanismo deve, tal como a repressão, abranger uma retirada da catexia enviada pelo ego. Freud – Vol XIX – O ego e o id –

A inconsolável dor da perda

sábado, 21 de janeiro de 2012

Narcisismo – Uma força da natureza.

O narcisismo, enquanto força não pode ser considerada benéfica ou maléfica, dado que apenas determina um sentido, que tem a ver com a posse, e obviamente com uma atitude expansionista, dada a necessidade de preservação, e ao mesmo tempo de satisfação, que em princípio só tem lugar a partir de uma relação com os objetos exteriores. Assim, essa força narcisista estará presente em toda a dimensão humana, o que faz com que ela não seja o motivo real da existência de uma patologia, muito embora seja o veículo de formas, que a ela possa conduzir o ser humano. Tentar encontrar o limite dessa força, quando sabemos, que em muitos casos não possui qualquer limite, em que o indivíduo é capaz das maiores atrocidades, sem perceber a existência de outras forças que a possam inibir, parece-me pura ficção. A dependência de seu limite não se encontra com essa força narcisista, porque ela não a possui de fato, mas em algo que lhe é exterior, e a possa inibir de algum modo. Partiu-se de um princípio, que a repressão, e agressão resolveria essa tendência, como se castrar os instintos fosse suficiente, o que em certos casos, aparentemente parece resultar, mas em tantos outros resulta em conseqüências bem piores, que tende a desvirtuar o que é dado à espécie animal. Tentamos hoje perceber o que está por detrás destas forças, porque já não podemos calar por mais tempo a realidade de uma sociedade cada vez mais violenta, quando tudo indicava, que a castração dos instintos seria suficiente para fazer de um ser humano, um homem social. Decididamente não é por aí o caminho, as evidencias falam por si, existe na realidade a necessidade de encontrar outro caminho, que possa levar à humanização e socialização do homem. Mas voltando á questão dos limites, consistindo numa uniformidade e objetividade difícil de conseguir, direi, que é relativamente fácil para a organização do psiquismo decidir em face de algo com que o indivíduo se confronta, sem questões laterais que a impeçam. Aqui, a luta se desenvolve no campo restrito de dois corpos que se pretendem afirmar. Não podemos ficar indignados, porque essa é a tendência da força narcisista, que tenta a satisfação de preservação, mediante qualquer preço, como nos tempos primitivos, em que a adoração pelo poder está plenamente justificada. A essa luta Freud designou de ambivalência emocional. A decisão que possa resultar daí, entre duas considerações / convicções, do Eu e do Tu, estará sempre sujeita a uma pressão de uma sobre a outra. Entendidas as coisas deste modo, não nos podemos livrar da repressão, e muito menos podemos encontrar uma forma diferenciada da organização da mente, que se propõe a trabalhar de forma linear. Tal forma linear, não devemos ficar surpresos, que é a forma mais arcaica, primária, de atuação de um ser vivo, que não consegue ser eliminada ao longo de sua existência, em que a questão de seus limites processa-se através da incorporação de outros fatores, que visam inibir tais impulsos. Podemos admitir como válido, que pressionar uma força, não leva á sua eliminação. É de salientar o fato, de que nos estados neuróticos, psicóticos, ou considerados de perfeita normalidade psíquica, a força narcisista está presente, pelo que ela não é, nem pode vir a ser, a responsável seja do que for, porque ela é, pura e simplesmente a força vital da vida. Pura energia.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Sobre o ensino da psicanálise nas universidades

A questão da conveniência do ensino da psicanálise nas universidades pode ser considerada sob dois pontos de vista: o da psicanálise e o da universidade. (1)A inclusão da psicanálise no currículo universitário seria sem dúvida olhada com satisfação por todo psicanalista. Ao mesmo tempo, é claro que o psicanalista pode prescindir completamente da universidade sem qualquer prejuízo para si mesmo. Porque o que ele necessita, em matéria de teoria, pode ser obtido na literatura especializada e, avançando ainda mais, nos encontros científicos das sociedades psicanalíticas, bem como no contato pessoal com os membros mais experimentados dessas sociedades. No que diz respeito à experiência prática, além do que adquire com a sua própria análise pessoal, pode consegui-la ao levar a cabo os tratamentos, uma vez que consiga supervisão e orientação de psicanalistas reconhecidos. O fato de que uma organização dessa natureza existe, deve-se, na verdade, à exclusão da psicanálise das universidades. E, é, portanto, evidente que esses sistemas de organização continuarão a desempenhar uma função efetiva enquanto persistir tal exclusão. (2) No que concerne às universidades, a questão depende de decidirem se desejam atribuir qualquer valor à psicanálise, na formação de médicos e de cientistas. Em caso afirmativo, o problema seria então saber como incorporá-la à estrutura educacional regular. A importância da psicanálise para a totalidade da formação médica e acadêmica fundamenta-se nos seguintes fatos: (a)Essa formação tem sido muito justamente criticada nas últimas décadas pela maneira parcial pela qual dirige o estudante para os campos da anatomia, da física e da química, enquanto falha, por outro lado, no esclarecimento do significado dos fatores mentais nas diferentes funções vitais, bem como nas doenças e no seu tratamento. Essa deficiência na educação médica faz-se sentir mais tarde numa flagrante falha no conhecimento do médico. Essa falha não se manifestará apenas na sua falta de interesse pelos problemas mais absorventes da vida humana, na saúde ou na doença, mas também o tornará inábil no tratamento dos pacientes, de modo que até mesmo charlatões e ‘curandeiros’ terão mais efeito sobre esses pacientes do que ele. Essa deficiência óbvia levou, algum tempo atrás, à inclusão, no currículo universitário, de cursos sobre psicologia médica. Mas, na medida em que essas aulas se baseiam na psicologia acadêmica ou na psicologia experimental (que lida apenas com questões de detalhes), não conseguem satisfazer os requisitos da formação do estudante; nem poderiam aproximá-lo mais dos problemas da vida em geral ou dos da sua profissão. Por essas razões, o lugar ocupado por esse tipo de psicologia médica no currículo mostrou-se inseguro. Um curso sobre psicanálise, por outro lado, certamente responderia a essas exigências. Antes de chegar à psicanálise propriamente dita, seria necessário um curso introdutório, que trataria detalhadamente das relações entre a vida mental e a vida física — a base de todos os tipos de psicoterapia —, descreveria as várias espécies de procedimentos sugestivos, e, finalmente, mostraria como a psicanálise constitui o resultado e a culminância de todos os métodos anteriores de tratamento mental. A psicanálise, na verdade, mais do que qualquer outro sistema, é adequada para o ensino da psicologia ao estudante de medicina. (b) Outra das funções da psicanálise seria proporcionar uma preparação para o estudo da psiquiatria. Esta, na sua forma atual, é exclusivamente de caráter descritivo; simplesmente ensina o estudante a reconhecer uma série de entidades patológicas, capacitando-o a distinguir quais são incuráveis e quais são perigosas para a comunidade. Sua única ligação com os outros ramos da ciência médica está na etiologia orgânica — isto é, nas suas descobertas anatômicas; mas não oferece a menor compreensão dos fatos observados. Tal compreensão só poderia ser fornecida por uma psicologia profunda.Nos Estados Unidos, de acordo com as minhas melhores informações, já se reconheceu que a psicanálise (a primeira tentativa de uma psicologia profunda) tem feito incursões bem-sucedidas por essa região inexplorada da psiquiatria. Por conseguinte, muitas escolas médicas daquele país já organizaram cursos de psicanálise como uma introdução à psiquiatria.O ensino da psicanálise teria que processar-se em duas etapas: um curso elementar, destinado a todos os estudantes de medicina, e um curso de aulas especializadas para psiquiatras.(c) Na investigação dos processos mentais e das funções do intelecto, a psicanálise segue o seu próprio método específico. A aplicação desse método não está de modo algum confinada ao campo dos distúrbios psicológicos, mas estende-se também à solução de problemas da arte, da filosofia e da religião. Nessa direção já produziu diversos novos pontos de vista e deu valiosos esclarecimentos a temas como a história da literatura, a mitologia, a história das civilizações e a filosofia da religião. Assim, o curso psicanalítico geral seria também aberto aos estudantes desses ramos do conhecimento. Os efeitos fecundadores do pensamento psicanalítico sobre essas outras disciplinas certamente contribuiriam muito para moldar uma ligação mais estreita, no sentido de uma universitas literarum, entre a ciência médica e os ramos do saber que se encontram dentro da esfera da filosofia e das artes.Para resumir, pode-se afirmar que a universidade só teria a ganhar com a inclusão, em seu currículo, do ensino da psicanálise. Esse menino, na verdade, só pode ser ministrado de maneira dogmática e crítica, por meio de aulas teóricas; isso porque essas aulas permitirão, apenas, uma oportunidade muito restrita de levar a cabo experiências ou demonstrações práticas. Para finalidades de pesquisa, seria suficiente que os professores de psicanálise tivessem acesso a um departamento hospitalar de clientes externos, que suprisse o material necessário, no que diz respeito a pacientes ‘neuróticos’. Para a psiquiatria psicanalítica, seria preciso haver também disponibilidade de um departamento de pacientes mentais internos.Devemos considerar, por último, a objeção de que, seguindo essa orientação, o estudante de medicina jamais aprenderia a psicanálise propriamente dita. Isso, de fato, é procedente, se temos em mente a verdadeira prática da psicanálise. Mas, para os objetivos que temos em vista, será suficiente que ele aprenda algo sobre psicanálise e que aprenda algo a partir da psicanálise. Afinal de contas, a formação universitária não equipa o estudante de medicina para ser um hábil cirurgião; e ninguém que escolha a cirurgia como profissão pode evitar uma formação adicional, sob a forma de vários anos de trabalho no departamento cirúrgico de um hospital. Escrito extraído do Vol- XVII da obra de Freud - Neurose infantil

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Estética / Investimento

Amor, sexo e beleza. O investimento em estética aumenta a cada dia, em que o ser belo, cheiroso e gostoso, para a maioria parece ser sinónimo de felicidade, mas a verdade, é que, aparentemente, aquilo que parece ser suficiente, torna-se por vezes, insuficiente. Nada parece ser suficiente para que o ser humano possa estar feliz. Tudo parece insuficiente para atingir tal objetivo. A objetividade perde importância para a relatividade, quando tudo parece mais ou menos suficiente, ou insuficiente, em que nos encontramos a cada passo com a frustração. Mas por ironia do destino, o ser humano deseja tornar em objetivo, algo, ou alguma coisa, que não apresenta condição alguma de o transportar até á felicidade. Talvez seja, na complexidade que se encontra a felicidade, por isso ela não se encontra em lugar algum em especial, mas faz-se representar em todos os lugares, como ingrediente de uma sopa, que se pretende nutritiva, mas ao mesmo tempo saborosa, gostosa. Desaparecendo esse charme, como por encanto, porque os outros não o reconhecem, ou nós mesmos saímos frustrados, em virtude de não nos conferirem a importância que julgamos possuir, não sobra nada para sustentar nosso Ego. Daí os desabafos de algumas pacientes – O que se passa comigo ? - Sou inteligente, bonita, charmosa, mas não tenho sorte nenhuma com os amores. Na realidade dá que pensar. Mas duas conclusões podemos tirar: – A primeira, que tudo aquilo que pode ser importante para uns, poderá não o ser para outros. - A segunda conclusão, é que perante tanta exuberância de beleza e cores, cada vez mais nos aproximamos dos animais, na sua dança Funk para agradar ao sexo oposto. A letra da canção pouco importa, música eletrónica é apenas som, ritmo e cor, que apresenta como finalidade a evidencia do corpo, cuja fantasia parece estar para além dele, insinuante, diria, cuja letra está na interioridade de cada um. Tudo fica por conta da imaginação. Aqui as palavras não têm lugar. Evidenciar uma característica não confere uma característica especial à espécie, que, por isso, não deixa de ser o que é, apenas um atributo, que se destaca de uma individualidade. No individual podemos destacar o belo, cheiroso e gostoso, como aparência de uma forma exterior de um corpo, como alterações aparentes produzidas pelo meio exterior, como o canário muda de pena, ou o rouxinol transforma seu canto perante a fêmea que pretende cortejar. A tendência será para a transformação aparente face à presença de um outro, em que a sexualidade aflora a todo o momento, apenas servindo de sedução, em que o emprego do sexo parece ser coisa proibida, e por vezes banalizada. O que é pretendido não é o sexo, mas algo que está posicionado para além dele, que nenhum de nós parece saber muito bem do que se trata. Roçar um corpo no outro, como nas festas Funk, em que a bunda desafia o pénis, será sinónimo de uma sexualidade á flor da pele, em que o indivíduo parece gozar, abstraindo-se da própria existência dos órgãos sexuais. Apenas o gesto de um movimento erótico, auto erótico, diria, de masturbação. Do mesmo modo somos levados a considerar o beijar na boca, que de alguns anos para cá, não é coisa que se faça apenas na intimidade. O desafio será a tentativa de mostrar toda a virilidade para os outros. O que os outros têm a ver com a minha virilidade ? Aparentemente viril, realmente impotente ? Mas de que impotência estamos a falar ? De amar e ser amado. Talvez aqui, possamos entender, o que para alguns será amor e sexo. Mistura-se sexo, com as manifestações sexualizadas, através de um corpo que goza na dança, e através dela, de forma virtual, o que na prática só por momentos parece ser possível, derivado de um desejo em não relacionar-se. Escolhe-se o palco em vez da intimidade, em que a beleza do movimento indicia uma prática, que de fato, naquele exato momento não existe na realidade, como se fizesse parte de um jogo de criança praticado por gente crescida. Aquilo, a que aparentemente o ser humano dá importância, parece na prática não ter importância nenhuma, quando colocado perante outras situações. Que importância terá a estética num palco de guerra, por exemplo ? Bem vistas as coisas tudo tem sua importância, depende das circunstâncias, o que retira a importância das próprias coisas, quando colocadas fora de um contexto. A importância deriva de um necessidade, de um desejo, a que se pretende dar importância devido a uma necessidade de afirmação do sujeito, o que nos leva a perceber, que de fato todas as coisas são importantes, em que a evidencia do ser mais importante é dada pelo o sujeito. As coisas, os objetos, as manifestações, são apenas ferramentas ao dispor do ser humano, que as pretende manipular de acordo com seus desejos mais íntimos. Que desejos serão esses ? Descubra por si mesmo, se for capaz.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

DEFEITOS HUMANOS

(Jornal Estado de Minas – Sábado – 11.Out.2008) João Paulo – Editor de Cultura Título do artigo > Os mestres da desconfiança A filosofia, para Montaigne, era um caminho para o aprendizado da morte. Muito tempo depois, no século 19 e começo do 20, o pensamento se tornou fonte para outro tipo de matéria a desconfiança. Os três mestres da dúvida Nietzsche, Marx e Freud, ensinaram a colocar o homem entre parênteses, nada é o que parece. Cada um, a seu jeito, tem lições para fazer da vida um projeto que precisa levar em conta os prejuízos de ser gente. Nietzsche desvendou o ressentimento que nos vai na alma e nos diminui a estatura humana.. Marx apontou a guerra do homem contra o homem em razão da ganância de dinheiro e poder. Freud ensinou que o mal também nos constitui. Saber que temos defeito de fabricação obriga a lutar para superá-los. Foi um pouco o que nossos filósofos apontaram. Para Freud, nosso senso de destruição, que empurra para as obras da morte, pode ser contido pela sublimação, que transforma os impulsos do amor em obra de civilização. Nietzsche sabia dos gemidos de fraqueza que brotam da submissão dos desejos vitais, mas acreditava que podia antecipar o além-do-homem, desde que o puxasse pelo brio da coragem e da vontade de poder. O caso de Marx é mais direto e prático, já que ele fez da desconfiança uma arma política. Uma vez que os homens se dividem em classes em eterna luta, em que uma oprime e outra é explorada, o certo é apoiar um dos lados, aquele que acabaria com as injustiças em nome da igualdade. Cada uma dessas aulas de humildade (a ciência dos nossos defeitos) e propostas de avanço (as astúcias de nossas superações) pode servir o momento eleitoral do segundo turno. Marx, por exemplo ensina que a luta de classes não permite alianças entre explorados e exploradores. Não se trata de incitar a guerra, mas de reconhecer as diferenças estruturais. Freud, por sua vez seria um guia importante para quem sabe que a política tem motivações inconscientes. Ele foi também um estudioso do fenómeno relativamente contemporâneo da multidão. Buscou elucidar o que torna possível a manipulação das pessoas pela demagogia política, quando indivíduo deixa de ser um para ser parte amorfa da massa. Para Freud, a compreensão de processos históricos – coma a formação das ideologias, a dominação económica e as características das instituições políticas – se baseia em conceitos que emanam da psicologia individual. Não è possível um discurso que apele para a razão e o senso comum, quando ele brota como um vulcão das sendas da vaidade e do desejo do poder. ALÉM DO HOMEM Já Nietzsche, o mais radical de todos certamente não aceitaria ser tratado como inepto. Para afirmar a humanidade do homem, defendia que as pessoas mostrassem quem são e assumissem as consequências disso, mesmo que não fossem amadas e admiradas. A ideia de propaganda eleitoral que torce a verdade para entrincheirar a razão em expectativas medidas certamente o enojaria. Candidatos de carne e osso mereceriam seu respeito, mesmo que deles discordasse. Quem mentisse, mesmo para conquistar seu afeto, seria vítima do seu desprezo iracundo. Nietzsche é sempre preterido pelos os políticos, como se fosse, a partir da sua filosofia, impossível conviver com o pensamento liberal e o ponto de vista democrático. O filósofo é considerado equivocadamente a partir da oposição moral entre o bom liberal e o mau elitista. Nietzsche execrava uma sociedade baseada apenas em valores utilitários, em uma economia financeira e numa razão instrumental. Afirmava que, sem arte trágica não se realizava o melhor do homem. A política se degenera quando fica ligada apenas a interesses da chamada opinião pública, desfibrada pela mentira. Acho que os eleitores de BH, pela resposta que deram nas urnas, estão ficando, felizmente, cada vez mais nietzschianos. Quando incorporarem Marx e Freud, a coisa vai ficar melhor ainda. COMENTÁRIOS Um artigo de opinião muito interessante que deixa algumas questões em aberto, dando a oportunidade ao leitor de completar e completar-se na análise. Por outro lado convida todos nós a ler com alguma atenção os grandes pensadores do século passado e os tentar perceber tendo em conta a nossa realidade. Um século se passou, nunca existiu um avanço tecnológico e científico de forma tão acelerada como nos últimos cinquenta anos, e continuamos a ter em atenção os grandes pensadores do inicio do século passado, o que parece um paradoxo. Talvez não seja a prova de uma estagnação ao nível das ciências humanas, no que diz respeito ao aspeto biológico, orgânico e fisiológico, mas será provável que exista no que se refere à investigação dos fenómenos psicológicos algum imobilismo, em que a tendência é para pensar o que já foi pensado por outros, e não se tem a coragem e a vontade de ir mais além. Por outro lado, o filósofo Nietzsche, o sociólogo Marx e o psicanalista Sigmund Freud, porque pensaram para além do sentido da alma, produziram pensamento que devemos admitir como atemporal, que não mais pode ser destruído, mas apenas complementado, o que eleva o pensamento a património histórico da humanidade. João António Fernandes