Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

DEFEITOS HUMANOS

(Jornal Estado de Minas – Sábado – 11.Out.2008) João Paulo – Editor de Cultura Título do artigo > Os mestres da desconfiança A filosofia, para Montaigne, era um caminho para o aprendizado da morte. Muito tempo depois, no século 19 e começo do 20, o pensamento se tornou fonte para outro tipo de matéria a desconfiança. Os três mestres da dúvida Nietzsche, Marx e Freud, ensinaram a colocar o homem entre parênteses, nada é o que parece. Cada um, a seu jeito, tem lições para fazer da vida um projeto que precisa levar em conta os prejuízos de ser gente. Nietzsche desvendou o ressentimento que nos vai na alma e nos diminui a estatura humana.. Marx apontou a guerra do homem contra o homem em razão da ganância de dinheiro e poder. Freud ensinou que o mal também nos constitui. Saber que temos defeito de fabricação obriga a lutar para superá-los. Foi um pouco o que nossos filósofos apontaram. Para Freud, nosso senso de destruição, que empurra para as obras da morte, pode ser contido pela sublimação, que transforma os impulsos do amor em obra de civilização. Nietzsche sabia dos gemidos de fraqueza que brotam da submissão dos desejos vitais, mas acreditava que podia antecipar o além-do-homem, desde que o puxasse pelo brio da coragem e da vontade de poder. O caso de Marx é mais direto e prático, já que ele fez da desconfiança uma arma política. Uma vez que os homens se dividem em classes em eterna luta, em que uma oprime e outra é explorada, o certo é apoiar um dos lados, aquele que acabaria com as injustiças em nome da igualdade. Cada uma dessas aulas de humildade (a ciência dos nossos defeitos) e propostas de avanço (as astúcias de nossas superações) pode servir o momento eleitoral do segundo turno. Marx, por exemplo ensina que a luta de classes não permite alianças entre explorados e exploradores. Não se trata de incitar a guerra, mas de reconhecer as diferenças estruturais. Freud, por sua vez seria um guia importante para quem sabe que a política tem motivações inconscientes. Ele foi também um estudioso do fenómeno relativamente contemporâneo da multidão. Buscou elucidar o que torna possível a manipulação das pessoas pela demagogia política, quando indivíduo deixa de ser um para ser parte amorfa da massa. Para Freud, a compreensão de processos históricos – coma a formação das ideologias, a dominação económica e as características das instituições políticas – se baseia em conceitos que emanam da psicologia individual. Não è possível um discurso que apele para a razão e o senso comum, quando ele brota como um vulcão das sendas da vaidade e do desejo do poder. ALÉM DO HOMEM Já Nietzsche, o mais radical de todos certamente não aceitaria ser tratado como inepto. Para afirmar a humanidade do homem, defendia que as pessoas mostrassem quem são e assumissem as consequências disso, mesmo que não fossem amadas e admiradas. A ideia de propaganda eleitoral que torce a verdade para entrincheirar a razão em expectativas medidas certamente o enojaria. Candidatos de carne e osso mereceriam seu respeito, mesmo que deles discordasse. Quem mentisse, mesmo para conquistar seu afeto, seria vítima do seu desprezo iracundo. Nietzsche é sempre preterido pelos os políticos, como se fosse, a partir da sua filosofia, impossível conviver com o pensamento liberal e o ponto de vista democrático. O filósofo é considerado equivocadamente a partir da oposição moral entre o bom liberal e o mau elitista. Nietzsche execrava uma sociedade baseada apenas em valores utilitários, em uma economia financeira e numa razão instrumental. Afirmava que, sem arte trágica não se realizava o melhor do homem. A política se degenera quando fica ligada apenas a interesses da chamada opinião pública, desfibrada pela mentira. Acho que os eleitores de BH, pela resposta que deram nas urnas, estão ficando, felizmente, cada vez mais nietzschianos. Quando incorporarem Marx e Freud, a coisa vai ficar melhor ainda. COMENTÁRIOS Um artigo de opinião muito interessante que deixa algumas questões em aberto, dando a oportunidade ao leitor de completar e completar-se na análise. Por outro lado convida todos nós a ler com alguma atenção os grandes pensadores do século passado e os tentar perceber tendo em conta a nossa realidade. Um século se passou, nunca existiu um avanço tecnológico e científico de forma tão acelerada como nos últimos cinquenta anos, e continuamos a ter em atenção os grandes pensadores do inicio do século passado, o que parece um paradoxo. Talvez não seja a prova de uma estagnação ao nível das ciências humanas, no que diz respeito ao aspeto biológico, orgânico e fisiológico, mas será provável que exista no que se refere à investigação dos fenómenos psicológicos algum imobilismo, em que a tendência é para pensar o que já foi pensado por outros, e não se tem a coragem e a vontade de ir mais além. Por outro lado, o filósofo Nietzsche, o sociólogo Marx e o psicanalista Sigmund Freud, porque pensaram para além do sentido da alma, produziram pensamento que devemos admitir como atemporal, que não mais pode ser destruído, mas apenas complementado, o que eleva o pensamento a património histórico da humanidade. João António Fernandes

Nenhum comentário: