Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

sábado, 26 de maio de 2012

Paixão - Inácio de Loyola

Inácio de Loyola, em ¨ Exercícios Espirituais ¨, o grande fundador dos Jesuítas, tem como lugar prioritário em seu discurso o controle das paixões. As paixões tendem a ser ¨ desordenadas ¨, precisando, portanto, de uma ¨ ordenação ¨. - Vencer a si mesmo, é saber que a sensualidade obedece à razão, e todas as partes inferiores estão sujeitas às superiores. ( Loyola, 1986, p. 95 ). - Em ¨ Ordenação dos afetos ¨ (Paixão), tenta desviar-se do caminho ascético, para dispor as paixões ao serviço de Deus. A questão continua a ser pertinente, porquanto parece só existir dois caminhos; a entrega à paixão dos homens por outros homens, ou a substituição do outro pela figura de Deus, em que a paixão apenas muda de lugar, e os pressupostos que conduzem o sujeito à paixão, mantêm-se virgens, intocáveis. O que parece estar em causa para Loyola, e para a maioria dos crentes em Deus, não é a paixão em si mesmo, como causadora de excessos, de frustrações e desavenças, que podem conduzir o homem até atos de violência e criminosos, mas que ela seja desviada do reino dos homens, fazendo sentir-se na figura de Deus. Só assim, podemos entender as atrocidades cometidas pelos homens da Igreja na Idade média, em que podemos perceber o deslocamento da energia, sem, no entanto, dissolver o conflito interno que invade o sujeito, e continua atuante. Será, que sem essa paixão não pode existir a crença em Deus ? Como afirmam alguns autores, a paixão é devida a uma falta de racionalidade, e se ela tende a permanecer, seja em que circunstância for, não deixa de ser irracional por isso, o que convenhamos, que aquilo que parece pender a seu favor, bem vistas as coisas, será uma lança apontada para si mesmo. A questão parece ficar resolvida a partir do que para uns lhes parece ser o bem, que por si mesmo possui uma razão, mesmo não compreendida que seja, desta feita tão irracional como a própria paixão, o que nos coloca no campo do julgamento, que apresenta suas razões terrenas, que não divinas. Perante este cenário, do aceite por uns e não compreendido por outros, só mesmo a confrontação será possível, num cenário próprio de prepotentes e intolerantes, que podem conduzir o homem pelo mesmo caminho da destruição e barbárie. O que parecia controlado, afinal não estava, apenas estaria adormecido. Nada mais poderia ser pedido ao conhecimento da época, e de outras épocas, mas a realidade, é que uma vez implantada essa ordenação das paixões entre os homens de então, nos dias de hoje ainda custa admitir a existência de outras formas, que possam conduzir o ser humano à dissolvência de suas paixões, porque delas precisam outros homens, como forma de os tentar conduzir em rebanho, por determinado caminho. Como a paixão tolda a capacidade racional do indivíduo, e disso não duvidamos, estamos todos de acordo, também, na maioria dos casos, a lei do pai não será compreendida, pelo que suas atitudes e ações mancham suas mãos de sangue, porque de paixão são nutridos. A busca de um meio termo ideal, sugerida como equilíbrio, como refere Inácio de Loyola, será o desfazer da paixão, que uma vez conseguida não pode ser colocada ao serviço de Deus, porque de fato já não existe mais. O que na realidade desejava Inácio de Loyola, com seu discurso ? Em última instância deparemo-nos com algo que é repudiado o tempo todo por homens de ¨ índole moral elevada ¨, que ao introduzirem o romantismo, o belo, o fantasioso, imaginário e o irreal, como fatores artificiais, nada mais fazem que ressuscitar o hedonismo, embora através de caminhos desviantes, como seja, colocar a paixão ao serviço de Deus. Tenho dúvidas, que essa prestação de serviços possa servir a quem não cumpre as leis de Deus, e simplesmente tem por ele paixão, adoração, ignorando as regras a cumprir na relação com outros homens. A realidade nos mostra essa diferença, entre a paixão por Cristo, por Deus, ou Nossa Senhora, e o cumprimento das regras que os homens devem observar na relação com os demais seres humanos. Desse modo, tal paixão está envenenada, adorando o pai, e fazendo as maiores atrocidades na sua ausência, como menino perverso, que apenas teme a punição, mas não deixa de transgredir. Apenas pretende sua proteção, ignorando as leis que deve observar. Nenhum de nós pode ter dúvidas quanto à paixão à divindade, nem tenho qualquer dúvida do amor entre pais e filhos, mas a realidade nos faz saber, que o objetivo principal, a relação saudável, que uma vez degradada fere de morte o ser humano, não emerge do amor, nem da paixão, mas da falta de observação de regras, como as inscritas nos dez mandamentos. Estas pertencem a um patamar diferente da evolução humana, que nada tem a ver com o amor, ou paixão, mas com uma postura desviante, que provém da formação dos próprios pais, transmitida a seus filhos. È precisamente devido a essa formação familiar, que o amor se torna em ódio, de onde emergem sentimentos hostis e violentos, que coloca em causa o processo de humanização, e a própria socialização. È por ela, que as paixões se afirmam, como exigências extremas derivadas de exigências primárias exageradas e irritantes, que só podem ter uma saída, porque o que se pretende uniforme, não consegue gerir a diversidade. Significa, que uma impossibilidade gera uma possibilidade, seja qual for, como forma de preservação da vida e sua continuidade, em que podemos falar de uma amputação à sua própria natureza, criando mecanismos artificiais de estar perante a vida. Não existe o desejo de reconsiderar os processos de formação da criança, mas apenas, e tão só, o desejo de conversão, de repressão e tentativa de controle daquilo que lhes parece inaceitável, que pelos vistos, e a realidade está aí para enxergarmos, não teve o sucesso desejado, em que as atrocidades se sucedem, gerando um clima de terror e insegurança. Não creio que só desse modo a palavra do Senhor possa ser ouvida. E se porventura a palavra de Deus não se faça ouvir, talvez nem exista essa necessidade, porque implantada no terreno, não precisa da constante presença do Pai, e de seus profetas para que possa ser cumprida. Curiosamente, é nos países que mais evocam a figura de Deus, não importa qual a religião, que podemos constatar as maiores desgraças humanas, o que serve de prova ao mencionado atrás. Difícil separar as ordenações emanadas dos conventos, dos conceitos filosóficos e da própria psicologia, porquanto, em traços gerais regem-se pelos meus princípios básicos – Desejo de conversão – repressão – tentativa de controle. Aquilo que é não pode ser, e o desejado por outros não pode acontecer, porque desejos diferentes tornam-se inconciliáveis, em que só a repressão pode dar lugar á conversão, que se traduz na sensação de existência de controle, que de fato não existe. Este tem sido o drama ao longo de nossa história. O absurdo provém de uma formação infantil, que por incapacidade própria, e também devido a uma incapacidade das estruturas que tratam da sanidade mental, não conseguem encontrar uma formação adequada, recorrendo sempre aos mesmos processos repressivos, intolerantes e controladores, que posteriormente, devido ao fracasso dessa política, requer o mesmo tipo de tratamento punitivo. Andamos em circulo sem conseguir encontrar uma saída, em virtude dos princípios determinarem os meios para atingir uma finalidade, que uma vez não plenamente conseguida, repete-se o círculo de novo, e do mesmo modo.

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