Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento
Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou.
O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana.
http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Freud e a psicose
Freud disse.
Lacan disse.
E o que você diz ?
Ou apenas limita-se a citações, tantas vezes embutidas fora de contexto, como se fossem a bóia de salvação para a sua ignorância ?
Só o conhecimento, através do estudo e investigação nos pode salvar da ignorância.
Os aplausos são devidos a um artista, e disso não se trata, porque homens que desafiam o desconhecido, o tornando em conhecido, em saber, merecem nosso respeito e consideração, e agradecem que coloquem em causa suas idéias.
O saber é o mundo da reflexão, mas também da crítica, que pode levar a novas descobertas, a novas formas de entender, e perceber o mundo, que não se compadece com colagens a um poder inexistente, na tentativa de mostrar, o que não pode ser revelado, a ignorância, dado faltar-lhe mais saber, para além do que se encontra escrito.
Um estudioso, a meu ver, não deve ser um simples imitador, dado que isso o remete à criança, á crença, mas é a partir dela, que pode partir para a descoberta de novos horizontes.
Todos falamos de psicose, de instintos animais, de repressão, mas de fato poucos conseguem dominar tal matéria, ficando-se por generalidades e citações.
Vem isto a propósito da entrevista de Freud publicada aqui, em que ele diz o seguinte:
- Muito mais agradáveis são as emoções simples e diretas de um cão, ao balançar a cauda, ou ao latir expressando seu desprazer.
- Fico contente de que não possa ler. Ele certamente seria um membro menos querido da casa, se pudesse latir sua opinião sobre os traumas psíquicos e o complexo de Édipo!
O selvagem, como o animal, é cruel, mas não tem a maldade do homem civilizado. A maldade é a vingança do homem contra a sociedade.
A questão é a seguinte:
- Como alguém, neste caso Freud, pode afirmar a nobreza dos instintos animais, em contraponto com os traumas psíquicos e o complexo de Èdipo, e como tal afirmação pode casar com o conceito generalizado de psicose, como sendo um produto do instinto animal
Postagem do autor do blog no grupo psicologia / psicanálise
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domingo, 20 de novembro de 2011
Uma entrevista rara de Freud
O valor da vida (Uma entrevista rara de Freud)
Entre as preciosidades encontradas na biblioteca da Sociedade Sigmund Freud está essa entrevista. Foi concedida ao jornalista americano George Sylvester Viereck, em 1926. Deve ter sido publicada na imprensa americana da época. Acreditava-se que estivesse perdida, quando o Boletim da Sigmund Freud Haus publicou uma versão condensada, em 1976. Na verdade, o texto integral havia sido publicado no volume Psychoanalysis and the Future, número especial do "Journal of Psychology", de Nova Iorque, em 1957. É esse texto que aqui reproduzimos, provavelmente pela primeira vez em português.
TRADUÇÃO DE PAULO CÉSAR SOUZA
Setenta anos ensinaram-me a aceitar a vida com serena humildade.
Quem fala é o professor Sigmund Freud, o grande explorador da alma. O cenário da nossa conversa foi uma casa de verão no Semmering, uma montanha nos Alpes austríacos.
Eu havia visto o pai da psicanálise pela última vez em sua casa modesta na capital austríaca. Os poucos anos entre minha última visita e a atual multiplicaram as rugas na sua fronte. Intensificaram a sua palidez de sábio. Sua face estava tensa, como se sentisse dor. Sua mente estava alerta, seu espírito firme, sua cortesia impecável como sempre, mas um ligeiro impedimento da fala me perturbou.
Parece que um tumor maligno no maxilar superior necessitou ser operado. Desde então Freud usa uma prótese, para ele uma causa de constante irritação.
- Detesto o meu maxilar mecânico, porque a luta com o aparelho me consome tanta energia preciosa. Mas prefiro ele a maxilar nenhum. Ainda prefiro a existência à extinção. Talvez os deuses sejam gentis conosco, tornando a vida mais desagradável à medida que envelhecemos. Por fim, a morte nos parece menos intolerável do que os fardos que carregamos.
Freud se recusa a admitir que o destino lhe reserva algo especial.
- Por quê - disse calmamente- deveria eu esperar um tratamento especial? A velhice, com suas agruras, chega para todos. Eu não me rebelo contra a ordem universal. Afinal, mais de setenta anos. Tive o bastante para comer. Apreciei muitas coisas - a companhia de minha mulher, meus filhos, o pôr-do-sol. Observei as plantas crescerem na primavera. De vez em quando tive uma mão amiga para apertar. Vez ou outra encontrei um ser humano que quase me compreendeu. Que mais posso querer?
- O senhor teve a fama. Sua obra influi na literatura de cada país. O homem olha a vida e a si mesmo com outros olhos, por causa do senhor. E recentemente, no seu septuagésimo aniversário, o mundo se uniu para homenageá-lo - com exceção da sua própria Universidade.
- Se a Universidade de Viena me demonstrasse reconhecimento, eu ficaria embaraçado. Não há razão em aceitar a mim e a minha obra porque tenho setenta anos. Eu não atribuo importância insensata aos decimais.
A fama chega apenas quando morremos e, francamente, o que vem depois não me interessa. Não aspiro à glória póstuma. Minha modéstia não é virtude.
- Não significa nada o fato de que o seu nome vai viver?
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De vez em quando tive uma mão amiga para apertar. Vez ou outra encontrei um ser humano que quase me compreendeu.
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- Absolutamente nada, mesmo que ele viva, o que não é certo. Estou bem mais preocupado com o destino de meus filhos. Espero que suas vidas não venham a ser difíceis. Não posso ajudá-los muito. A guerra praticamente liqüidou com minhas posses, o que havia poupado durante a vida. Mas posso me dar por satisfeito. O trabalho é minha fortuna.
Estávamos subindo e descendo uma pequena trilha no jardim da casa. Freud acariciou ternamente um arbusto que florescia.
- Estou muito mais interessado neste botão do que no que possa me acontecer depois que estiver morto.
- Então o senhor é, afinal, um profundo pessimista?
- Não, não sou. Não permito que nenhuma reflexão filosófica estrague a minha fruição das coisas simples da vida.
- O senhor acredita na persistência da personalidade após a morte, de alguma forma que seja?
- Não penso nisso. Tudo o que vive perece. Por que deveria o homem constituir uma exceção?
- Gostaria de retornar em alguma forma, de ser resgatado do pó? O senhor não tem, em outras palavras, desejo de imortalidade?
- Sinceramente não. Se a gente reconhece os motivos egoístas por trás de conduta humana, não tem o mínimo desejo de voltar à vida; movendo-se num círculo, seria ainda a mesma.
Além disso, mesmo se o eterno retorno das coisas, para usar a expressão de Nietzsche, nos dotasse novamente do nosso invólucro carnal, para que serviria, sem memória? Não haveria elo entre passado e futuro.
Pelo que me toca, estou perfeitamente satisfeito em saber que o eterno aborrecimento de viver finalmente passará. Nossa vida é necessariamente uma série de compromissos, uma luta interminável entre o ego e seu ambiente. O desejo de prolongar a vida excessivamente me parece absurdo.
- Bernard Shaw sustenta que vivemos muito pouco, disse eu. Ele acha que o homem pode prolongar a vida se assim desejar, levando sua vontade a atuar sobre as forças da evolução. Ele crê que a humanidade pode reaver a longevidade dos patriarcas.
- É possível, respondeu Freud, que a morte em si não seja uma necessidade biológica. Talvez morramos porque desejamos morrer.
Assim como amor e ódio por uma pessoa habitam em nosso peito ao mesmo tempo, assim também toda a vida conjuga o desejo de manter-se e o desejo da própria destruição.
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O impulso de vida e o impulso de morte habitam lado a lado dentro de nós. A morte é a companheira do amor. Juntos eles reagem o mundo.
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Do mesmo modo como um pequeno elástico esticado tende a assumir a forma original, assim também toda a matéria viva, consciente ou inconscientemente, busca readquirir a completa, a absoluta inércia da existência inorgânica. O impulso de vida e o impulso de morte habitam lado a lado dentro de nós.
A Morte é a companheira do Amor. Juntos eles regem o mundo. Isto é o que diz o meu livro Além do Princípio do Prazer.
No começo, a psicanálise supôs que o Amor tinha toda a importância. Agora sabemos que a Morte é igualmente importante.
Biologicamente, todo ser vivo, não importa quão intensamente a vida queime dentro dele, anseia pelo Nirvana, pela cessação da "febre chamada viver", anseia pelo seio de Abraão. O desejo pode ser encoberto por digressões. Não obstante, o objetivo derradeiro da vida é a sua própria extinção.
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Biologicamente, todo ser vivo anseia pelo Nirvana, pela cessação da “febre chamada viver”, anseia pelo seio de Abrão.
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- Isto, exclamei, é a filosofia da auto destruição. Ela justifica o auto-extermínio. Levaria logicamente ao suicídio universal imaginado por Eduard von Hartamann.
- A humanidade não escolhe o suicídio porque a lei do seu ser desaprova a via direta para o seu fim. A vida tem que completar o seu ciclo de existência. Em todo ser normal, a pulsão de vida é forte o bastante para contrabalançar a pulsão de morte, embora no final resulte mais forte.
Podemos entreter a fantasia de que a Morte nos vem por nossa própria vontade. Seria mais possível que pudéssemos vencer a Morte, não fosse por seu aliado dentro de nós.
Neste sentido, acrescentou Freud com um sorriso, pode ser justificado dizer que toda a morte é suicídio disfarçado.
Estava ficando frio no jardim.
Prosseguimos a conversa no gabinete.
Vi uma pilha de manuscritos sobre a mesa, com a caligrafia clara de Freud.
- Em que o senhor está trabalhando?
- Estou escrevendo uma defesa da análise leiga, da psicanálise praticada por leigos. Os doutores querem tornar a análise ilegal para os não médicos. A História, essa velha plagiadora, repete-se após cada descoberta. Os doutores combatem cada nova verdade no começo. Depois procuram monopolizá-la.
- O senhor teve muito apoio dos leigos?
- Alguns dos meus melhores discípulos são leigos.
- O senhor está praticando muito a psicanálise?
- Certamente. Neste momento estou trabalhando num caso muito difícil, tentando desatar os conflitos psíquicos de um interessante novo paciente.
- Minha filha também é psicanalista, como você vê...
Nesse ponto apareceu Miss Anna Freud, acompanhada por seu paciente, um garoto de onze anos, de feições inconfundivelmente anglo-saxônicas.
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A psicanálise nos ensina não apenas o que podemos suportar, mas também o que devemos evitar.
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- O senhor já analisou a si mesmo?
- Certamente. O psicanalista deve constantemente analisar a si mesmo. Analisando a nós mesmos, ficamos mais capacitados a analisar os outros.
O psicanalista é como o bode expiatório dos hebreus. Os outros descarregam seus pecados sobre ele. Ele deve praticar sua arte à perfeição para desvencilhar-se do fardo jogado sobre ele.
- Minha impressão é de que a psicanálise desperta em todos que a praticam o espírito da caridade cristã. Nada existe na vida humana que a psicanálise não possa nos fazer compreender. "Tout comprec'est tout pardonner".
- Pelo contrário! - bravejou Freud, suas feições assumindo a severidade de um profeta hebreu. Compreender tudo não é perdoar tudo. A análise nos ensina não apenas o que podemos suportar, mas também o que podemos evitar. Ela nos diz o que deve ser eliminado. A tolerância para com o mal não é de maneira alguma um corolário do conhecimento.
Compreendi subitamente porque Freud havia litigado com os seguidores que o haviam abandonado, porque ele não perdoa a sua dissensão do caminho reto da ortodoxia psicanalítica. Seu senso do que é direito é herança dos seus ancestrais. Uma herança de que ele se orgulha como se orgulha de sua raça.
- Minha língua é o alemão. Minha cultura, minha realização é alemã. Eu me considero um intelectual alemão, até perceber o crescimento do preconceito anti-semita na Alemanha e na Áustria. Desde então prefiro me considerar judeu.
Fiquei algo desapontado com esta observação.
Parecia-me que o espírito de Freud deveria habitar nas alturas, além de qualquer preconceito de raça, que ele deveria ser imune a qualquer rancor pessoal. No entanto, precisamente a sua indignação, a sua honesta ira, tornava-o mais atraente como ser humano.
Aquiles seria intolerável, não fosse por seu calcanhar!
- Fico contente, Herr Professor, de que também o senhor tenha seus complexos, de que também o senhor demonstre que é um mortal!
- Nossos complexos são a fonte de nossa fraqueza; mas, com freqüência, são também a fonte de nossa força.
- Imagino, observei, quais seriam os meus complexos!
- Uma análise séria dura ao menos um ano. Pode durar mesmo dois ou três anos. Você está dedicando muitos anos de sua vida à "caça aos leões". Você procurou sempre as pessoas de destaque para a sua geração: Roosevelt, o Imperador, Hindenburg, Briand, Foch, Joffre, Georg Brandes , Gerhart Hauptamann e George Bernard Shaw...
- É parte do meu trabalho.
- Mas é também sua preferência. O grande homem é um símbolo. A sua busca é a busca do seu coração. Você está procurando o grande homem para tomar o lugar do seu pai. É parte do seu "complexo do pai".
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Fico contente, Herr Professor, de que também o senhor tenha seus complexos, de que também o senhor demonstre que é um mortal.
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Neguei veementemente a afirmação de Freud. No entanto, refletindo sobre isso, parece-me que pode haver uma verdade, ainda não suspeitada por mim, em sua sugestão casual. Pode ser o mesmo impulso que me levou a ele.
- Gostaria, observei após um momento, de poder ficar aqui o bastante para vislumbrar o meu coração através do seus olhos. Talvez, como a Medusa, eu morresse de pavor ao ver minha própria imagem! Entretanto, receio ser muito informando sobre a psicanálise. Eu freqüentemente anteciparia, ou tentaria antecipar suas intenções.
- A inteligência num paciente não é um empecilho. Pelo contrário, às vezes facilita o trabalho.
Neste ponto o mestre da psicanálise diverge de muitos dos seus seguidores,
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Eu prefiro a companhia dos animais à companhia humana, porque são muito mais simples.
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que não gostam de excessiva segurança do paciente sob o seu escrutínio.
- Ás vezes imagino, questionei, se não seríamos mais felizes se soubéssemos menos dos processos que dão forma a nossos pensamentos e emoções. A psicanálise rouba a vida do seu último encanto, ao relacionar cada sentimento ao seu original grupo de complexos. Não nos tornamos mais alegres descobrindo que nós todos abrigamos o criminoso e o animal.
- Que objeção pode haver contra os animais? Eu prefiro a companhia dos animais à companhia humana.
- Por que?
- Porque são tão mais simples. Não sofrem de uma personalidade dividida, da desintegração do ego, que resulta da tentativa do homem de adaptar-se a padrões de civilização demasiado elevados para o seu mecanismo intelectual e psíquico.
O selvagem, como o animal, é cruel, mas não tem a maldade do homem civilizado. A maldade é a vingança do homem contra a sociedade, pelas restrições que ela impõe. As mais desagradáveis características do homem são geradas por esse ajustamento precário a uma civilização complicada. É o resultado do conflito entre nossos instintos e nossa cultura.
Muito mais agradáveis são as emoções simples e diretas de um cão, ao balançar a cauda, ou ao latir expressando seu desprazer. As emoções do cão, acrescentou Freud pensativamente, lembram-nos os heróis da Antigüidade. Talvez seja essa a razão por que inconscientemente damos aos nossos cães nomes de heróis antigos como Aquiles e Heitor.
- Meu cachorro, disse eu, é um Doberman Pinscher chamado Ajax.
Freud sorriu.
- Fico contente de que não possa ler. Ele certamente seria um membro menos querido da casa, se pudesse latir sua opinião sobre os traumas psíquicos e o complexo de Édipo!
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O selvagem, como o animal, é cruel, mas não tem a maldade do homem civilizado. A maldade é a vingança do homem contra a sociedade.
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- Mesmo o senhor, Professor, sonha a existência complexa demais. No entanto, parece-me que o senhor seja em parte responsável pelas complexidades da civilização moderna. Antes que o senhor inventasse a psicanálise, não sabíamos que nossa personalidade é dominada por uma hoste beligerante de complexos muito questionáveis. A psicanálise fez da vida um quebra-cabeças complicado.
- De maneira alguma, respondeu Freud. A psicanálise torna a vida mais simples. Adquirimos uma nova síntese depois da análise. A psicanálise reordena um emaranhado de impulsos dispersos, procura enrolá-los em torno do seu carretel. Ou, modificando a metáfora, ela fornece o fio que conduz a pessoa fora do labirinto do seu inconsciente.
- Ao menos na superfície, porém, a vida humana nunca foi mais complexa. E a cada dia alguma nova idéia proposta pelo senhor ou por seus discípulos torna o problema da condução humana mais intrigante e mais contraditório.
- A psicanálise, pelo menos, jamais fecha a porta a uma nova verdade.
- Alguns dos seus discípulos, mais ortodoxos do que o senhor, apegam-se a cada pronunciamento que sai da sua boca.
- A vida muda. A psicanálise também muda, observou Freud. Estava apenas no começo de uma nova ciência.
- A estrutura científica que o senhor ergueu me parece ser muito elaborada. Seus fundamentos - a teoria do "deslocamento", da "sexualidade infantil", do "simbolismo dos sonhos", etc. - parecem permanentes.
- Eu repito, porém, que nós estamos apenas no início. Eu sou apenas um iniciador. Consegui desencavar monumentos soterrados nos substratos da mente. Mas ali onde eu descobri alguns templos, outros poderão descobrir continentes.
- O senhor ainda coloca a ênfase sobretudo no sexo?
- Respondo com as palavras do seu próprio poeta, Walt Whitman: "Mas tudo faltaria, se faltasse o sexo" ("Yet all were lacking, if sex were lacking"). Entretanto, já lhe expliquei que agora coloco ênfase quase igual naquilo que está "além" do prazer - a morte, a negociação da vida.
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As emoções do cão lembram-nos os heróis da antiguidade. Talvez por essa razão, inconscientemente damos a nossos cães nomes de heróis antigos.
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Este desejo explica por que alguns homens amam a dor - como um passo para o aniquilamento! Explica por que todos buscam o descanso, porque os poetas agradecem a
Whatever gods there be,
That no life lives forever
That dead men rise up never
And even the weariest river
Winds somewhere safe to sea.
("Quaisquer deuses que existam/ Que a vida nenhuma viva para sempre/ Que os mortos jamais se levantem/ E também o rio mais cansado/ Deságüe tranqüilo no mar".)
- Shaw, como o senhor, não deseja viver para sempre, mas à diferença do senhor, ele considera o sexo desinteressante.
- Shaw, respondeu Freud sorrindo, não compreende o sexo. Ele não tem a mais remota concepção do amor. Não há um verdadeiro caso amoroso em nenhuma de suas peças. Ele faz brincadeira do amor de Júlio César - talvez a maior paixão da História. Deliberadamente, talvez maliciosamente, ele despe Cleópatra de toda grandeza, reduzindo-a uma insignificante garota.
A razão para a estranha atitude de Shaw diante do amor, para a sua negação do móvel de todas as coisas humanas, que tira de suas peças o apelo universal, apesar do seu enorme alcance intelectual, é inerente à sua psicologia. Em um de seus prefácios, ele mesmo enfatiza o traço ascético do seu temperamento.
Eu posso ter errado em muitas coisas, mas estou certo de que não errei ao enfatizar a importância do instinto sexual. Por ser tão forte, ele se choca sempre com as convenções e salvaguardas da civilização. A humanidade, em uma espécie de autodefesa, procura negar sua importância.
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Consegui desencavar monumentos soterrados nos substratos da mente.
Mas ali onde eu descobri alguns templos, outros poderão descobrir continentes.
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Se você arranhar um russo, diz o provérbio, aparece o tártaro sob a pele. Analise qualquer emoção humana, não importa quão distante esteja da esfera da sexualidade, e você certamente encontrará esse impulso primordial, ao qual a própria vida deve a perpetuação.
- O senhor, sem dúvida, foi bem sucedido em transmitir esse ponto de vista aos escritores modernos. A psicanálise deu novas intensidades à literatura.
- Também recebeu muito da literatura e da filosofia. Nietzsche foi um dos primeiros psicanalistas. É surpreendente até que ponto a sua intuição prenuncia as novas descobertas. Ninguém se apercebeu mais profundamente dos motivos duais da conduta humana, e da insistência do princípio do prazer em predominar indefinidamente. O de Zaratustra diz:
"A dor
Grita: Vai!
Mas o prazer quer eternidade
Pura, profundamente eternidade".
A psicanálise pode ser menos amplamente discutida na Áustria e na Alemanha do que nos Estados Unidos, a sua influência na literatura é imensa, porém.
Thomas Mann e Hugo von Hofmannsthak muito devem a nós. Schnitzler percorre uma via que é, em larga medida, paralela ao meu próprio desenvolvimento. Ele expressa poeticamente o que eu tento comunicar cientificamente. Mas o Dr. Schnitzler não é apenas um poeta, é também um cientista.
- O senhor, repliquei, não é apenas um cientista, mas também um poeta. A literatura americana está impregnada da psicanálise. Hupert Hughes, Harvrey O'Higgins e outros fazem-se de seus intérpretes. É quase impossível abrir um novo romance sem encontrar referência à psicanálise. Entre os dramaturgos, Eugene O'Neill e Sydney Howard têm profunda dívida para com o senhor. The Silver Cord, por exemplo, é simplesmente uma dramatização do complexo de Édipo.
- Eu sei, replicou Freud, e aprecio o cumprimento que há nessa constatação. Mas tenho receio da minha popularidade nos Estados Unidos. O interesse americano pela psicanálise não se aprofunda. A popularização leva à aceitação superficial sem estudo sério. As pessoas apenas repetem as frases que aprendem no teatro ou na imprensa. Pensam compreender algo da psicanálise porque brincam com seu jargão! Eu prefiro a ocupação intensa com a psicanálise, tal como ocorre nos centros europeus.
A América foi o primeiro país a reconhecer-me oficialmente. A Clark University concedeu-me um diploma honorário quando eu ainda era ignorado na Europa. Entretanto, a América fez poucas contribuições originais à psicanálise. Os americanos são
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Posso ter errado em muitas coisas, mas estou certo de que não errei ao enfatizar a importância do instinto sexual.
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divulgadores inteligentes, raramente são pensadores criativos. Os médicos nos Estados Unidos, e ocasionalmente também na Europa, procuram monopolizar para si a psicanálise. Mas seria um perigo para a psicanálise deixá-la exclusivamente nas mãos dos médicos, pois uma formação estritamente médica é, com freqüência, um empecilho para o psicanalista. É sempre um empecilho, quando certas concepções científicas tradicionais ficam arraigadas no cérebro do estudioso.
Freud tem que dizer a verdade a qualquer preço! Ele não pode obrigar a si mesmo a agradar a América, onde está a maioria de seus admiradores.
Apesar da sua intransigente integridade, Freud é a urbanidade em pessoa. Ele ouve pacientemente cada intervenção, não procurando jamais intimidar o entrevistador.Raro é o visitante que deixa sua presença sem algum presente, algum sinal de hospitalidade!
Havia escurecido.
Era tempo de eu tomar o trem de volta à cidade que uma vez abrigara o esplendor imperial dos Habsburgos.
Acompanhado da esposa e da filha, Freud desceu os degraus que levavam do seu refúgio na montanha à rua, para me ver partir. Ele me pareceu cansado e triste, ao dar o seu adeus.
- Não me faça parecer um pessimista, ele disse após o aperto de mão. Eu não tenho desprezo pelo mundo. Expressar desdém pelo mundo é apenas outra forma de cortejá-lo, de ganhar audiência e aplauso. Não, eu não sou um pessimista, não, enquanto tiver meus filhos, minha mulher e minhas flores! Não sou infeliz - ao menos não mais infeliz que os outros.
O apito de meu trem soou na noite. O automóvel me conduzia rapidamente para a estação. Aos poucos o vulto ligeiramente curvado e a cabeça grisalha de Sigmund Freud desapareceram na distância.
Fonte - Retirado do site da Socidedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo - IDE - 1988 - nº15
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O princípio de um sentido de vida
Nenhum de nós ignora, que tudo tem princípio, meio, e fim.
Seja qual for o fenômeno observado é forçado a percorrer estas etapas.
As coisas não existem através de um poder mágico vindo do além, mas antes são provenientes de uma complexa rede de associações concretas e abstratas, que possuem seus princípios nas leis que regem a matéria, que através de meio tende a atingir a sua própria satisfação.
A partir desta dualidade, satisfação / preservação, nos encontramos com o ser vivo, cuja finalidade última será a preservação da sua própria vida.
Quando se trata de analisar um fenômeno mental, ou qualquer outro, não devemos ignorar a existência dessas três etapas.
O resultado, a evidência será apenas o produto final, a síntese de uma complexidade, que não é causa de nada, embora possa mexer com a organização do meio, mas o efeito de outras formas associadas, num processo reativo em cadeia, de associações e reações.
No meio encontram-se objetos que se relacionam e interagem, que estimulam, são estimulados, que se estimulam a si mesmos, cujo fim será um sentido de vida, que lhes possa permitir a preservação, que se constitui em lei psíquica.
Se a vida é um produto originado na biologia, o sentido de vida é adquirido através do meio, pelo que, os diferentes meios é garantia da existência de diferentes sentidos de vida.
O que será um dado objetivo é a própria existência das coisas, e dos princípios biológicos, que se revelam pela sua participação circunscrita a um determinado campo de ação, a que designamos por meio, em que tudo o resto é subjetivo.
A meu ver, Freud construiu a teoria em psicanálise segundo esta perspectiva.
Muitos autores referem a psicanálise como a ciência da própria natureza, como por exemplo, Otto Fenichel, dado ela encontrar respaldo na construção biológica do ser humano.
Encontramos na biologia o princípio da vida, que apresenta uma forma própria para estar e manter-se, que pode ter a forma de um corpo, como manter suas partículas dissociadas, constituindo corpos tão minúsculos, que nem sequer damos pela sua existência.
A nossa limitação nos garante a sensação da existência e não existência, quando afinal, julgo tratar-se de uma forma de percepção, porque de fato as coisas existem, só não conseguimos sentir, e perceber a sua existência.
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terça-feira, 15 de novembro de 2011
Saúde mental e poder não casam
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quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Inconsciente - No limiar da cegueira
Filosofia psicanalítica da mente
O inconsciente é cego, surdo e mudo.
O inconsciente é instinto que se afirma em qualquer tempo, que perdido na nossa existência, já nem nos lembramos mais de onde surgiu tal cegueira, julgando ser a luz que nos ilumina, quando apenas apresenta um poder reativo contra a própria luz alheia, que julgamos ser as trevas.
Onde estará a luz perguntarão alguns de vós ?
Seremos nós iluminados por uma luz, ou apenas possuímos a sensação que ela existe ?
Se observamos as trevas nos olhos dos outros, porque não a conseguimos enxergar em nós ?
A luz será a afirmação de nós mesmos, as trevas uma sensação de negação.
Se o mundo das sensações é ilusório, como dizem alguns filósofos, e disso parece não restarem dúvidas, para que se torne em realidade, o mundo das trevas e da luz não tem razão alguma para existir.
O que restará então desse mundo de ilusões construídas pelo o ser humano ?
Uma realidade que não sabe, nem consegue determinar, que o faz divagar, e lançar-se ao mar revolto das probabilidades, onde a tranquilidade parece coexistir com a agitação, e o caos, surgindo a cada instante no horizonte a morte anunciada, que embora sem hora marcada, ela não deixa de fazer sua aparição.
Cheiramos a podre, quando julgamos estar sadios.
Estamos sadios, e por vezes nos julgamos perdidos, apodrecidos em nossas misérias, construídas por uma mente humana conturbada e confusa.
Julgamos e não somos.
Somos e não julgamos.
Entre aquilo que parece ser, e não é, intromete-se a cegueira, que se afirma através de uma sensação, tentando negar a realidade, em que as forças revoltas de um instinto surgiram da tranquilidade, do seu estado de repouso, por alguém contrariar a si mesmo, evidenciando-se o sentido de preservação da vida, que deseja a morte alheia, cuja finalidade será de novo adormecer nos braços da satisfação.
A vida de um corpo possui um sentido, que por ele tende a manifestar-se nos movimentos dirigidos a algo que o possa satisfazer, que é exterior a si próprio, que sem o conhecer, manipular, e o destruir em parte, não tem qualquer condição de sobreviver.
Diferente, enquanto sujeito, que se sujeita á agressão de um mundo exterior, exposto a um mundo de afetações, que tendem a colocar em perigo a sua própria vida, transformando a força que serve os interesses da vida, em mecanismos de defesa para preservar sua própria vida.
Nestas condições, deixa o ser humano de viver, para se preocupar com as agressões de que é, ou foi vítima, perdendo de vista seu próprio caminho, ficando estacionado num determinado patamar de sua existência, porque lhe foi proibido de seguir seu próprios instintos.
Porém, outros instintos foram interiorizados, que seguem, e perseguem o mesmo fim, a continuidade e a preservação da vida.
É neste lugar, da afetação, que surge a formação do inconsciente psíquico, como frustração de uma energia ligada ao princípio de satisfação do corpo, como necessidade, e ao objeto de satisfação transformado posteriormente em desejo.
Porém, tal fenómeno, designado por recalque primário, ainda não determina o que pode ser considerado como mente, dado tratar-se da incorporação de uma série de impressões, registros, que seguem a organização de uma ordem animal, como forma estruturada reativa, em que não se percebe a evidencia do princípio de racionalidade
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segunda-feira, 7 de novembro de 2011
coisasdamente: Prémio Nacional de Literatura
coisasdamente: Prémio Nacional de Literatura: De que cor é o vento ( Os melhores anos de nossas vidas ) Prémio Nacional de Literatura ¨ Cidade de Belo Horizonte ¨ Categoria Teatro – 1985...
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Filme – Louco de amor
Necessidade absoluta de uma verbalização padronizada, bem evidente em Donald Mortan, em que a lógica dos números matemáticos parece garantir a sensação de uma racionalidade circunscrita a coisas, como tentativa de superar as dificuldades afetivas de infância.
( Identificação com a coisas, e os animais ).
Aqui, nos é dado a observar o não compreendido de atitudes humanas, que perante a ausência de afeto, provoca a abstração, e procura o afeto nos animais e nas coisas, como forma de identificação, cujo fim será a sobrevivência de uma sanidade mental.
Se um autista não consegue perceber outros seres humanos, designados por normais, estes apresentam a mesma dificuldade em perceber os autistas.
Quem é quem, afinal ?
Existe de fato a insanidade mental ?
Ou, pelo contrário, a mente é sempre sadia ?
Na realidade, ela parece limitar-se a uma dedução lógica de uma complexidade ideativa, em que se intrometem afetações, agressões, proibições e inibições de toda a ordem, geradoras de possibilidade, ou impossibilidade de aceitar a realidade, resultando numa diversidade de distúrbios relacionais.
Isabelle Sorensen diz: - Você quer ser meu amigo, sem o sexo, sem a pressão ?
Devemos perguntar, se o sexo, e a pressão, não funcionam de fato como uma tentativa de controle ?
Existe uma razão para existir, outra para coexistir num mundo de relações, e por último
um princípio de racionalidade, que pode, ou não ser desenvolvido.
Isabelle Sorenson tem consciência da linearidade quando afirma em dado passo:
- Eu entendo as coisas, meio que literalmente.
Parece existir uma reação imediata a atitudes conscientes, que funciona através da simples dedução, percebendo-se a ausência posterior de racionalidade de fatores a elas associados.
Diz Donald : - Acontece que não dá para controlar as pessoas, nem prever o que vão fazer. Mas os números são diferentes, dá para contar.
Eis a lógica linear, e a incapacidade de previsibilidade, que é garantida através de uma diversidade de atitudes, que não conseguem ligação com idéias anteriores, provavelmente ausentes, em que nos é dado essa sensação através das cenas do filme, em que a imitação, como primeiro estágio de um ser vivo ficou como cristalizado.
Se para merecer a atenção de meus pais, tal como merece um atleta olímpico, eu tenho que bater o recorde de discos partidos, então eu o farei.
A cena seguinte do cachorro a latir para afugentar as outras crianças que a incomodam, assim como a cena no zoológico com o macaco, em que este a imita nos seus gestos, tenta-nos dizer do estacionar num determinado estado infantil bem primário.
A interação com os animais é uma constante do filme, como forma de identificação, compreensão / projeção do seu autismo.
• Os animais, as coisas e o mundo não questionam, não julgam, e talvez por isso, sejam um ótima companhia, em que o afeto ganha força mediante a ausência de afetação, servindo tantas vezes como objeto substitutivo de seres humanos que se perderam, ou não desejados, sendo uma companhia, e uma alternativa à presença indesejada de seres humanos, que não conseguem dar-se à vida, sem essa visão esteríotipada da estética, do idealismo, do questionamento e julgamento dos outros.
• Não sei se existe uma razão para essa cumplicidade, para essa partilha de espaço entre espécies, e entre elas, e a própria natureza. Provavelmente ela não existe, ou pelo menos não parece ser questionável, em que fomos lançados num cenário já existente, sem ter sequer liberdade de escolha, achamos isso natural.
• Ao existir uma razão para estar, logo emerge uma outra, que nos faz saber de uma ausência, que não nos permite estar, que tem lá suas razões para estar, e não estar, num determinado estado, ou lugar.
• Filosofar é isso, estar e não estar, ser ou não ser, afirmação e negação, o bem e o mal, cujas verdades dualistas, não correspondem á verdadeira dimensão da própria natureza das coisas, e do próprio universo, em que nos dividimos entre duas razões, que nos conduz ao mesmo princípio nefasto do mundo dos bons e dos maus, dos justos e tiranos. Pouco nos é dado a acrescentar desde o tempo das cavernas, segundo este aspecto, em que a ação / reação, o dualismo, que se não é preto é branco, mantém a sua forma arcaica das manifestações animais, que não humanas.
• A psiquiatra disse para Donald – O autista é um animal engraçado.
Outra cena, igualmente marcante, é a dedução linear do estupro, cuja única consequência mental parece ter sido a dedução de que através da relação sexual, seria o meio eficaz para estar com um homem.
Importante salientar, que fala do estupro sem qualquer mágoa, por sentir que foi através dele, que conseguiu relacionar-se afetivamente com os homens, o que corresponde a um estado mental de uma criança de tenra idade.
Uma criança não percebe numa relação sexual com um adulto algo de errado, correspondendo esse ato à realização de uma satisfação corpórea, entendida, como afeto.
Pessoas com síndrome de Asperger querem ter contato com outras pessoas. A gente só não faz idéia disso, ou seja, o autista não possui essa consciência.
O grande problema do autista é que na verdade ele quer ver, e não consegue ver nada, diz Donald Mortan.
Podemos deduzir que existe uma apetência objetal inconsciente, curiosidade, e expectativas.
Parecem ser estas, que por falta de associação com imagens e idéias do histórico do indivíduo, apresenta alguma dificuldade em encontrar o caminho do afeto, que por via disso, o indivíduo percebe-se afetado.
A intimidade homem / mulher é difícil , mas o afastamento de uma relação, mesmo dessexualizada, também parece provocar angústia e tristeza.
Parece existir uma tentativa de agradar aos outros, sem no entanto, na maioria dos casos, o conseguir.
Existe a procura constante do afeto, da intimidade, e ao mesmo tempo, uma notória incapacidade em a conseguir realizar.
Parece evidenciar-se o medo em sentir-se abandonado, não conseguindo resolver esse conflito, devido á sua incapacidade de relacionar-se de acordo com a realidades dos outros.
Eu digo sempre o que penso, não para chocar as pessoas, mas porque não consigo evitar, diz Isabelle Sorensen;
Aqui, podemos perceber a ausência de censura interior.
A tolerância e a ausência do julgamento aproxima as pessoas.
Fantasia, como tentativa de associação de algo não compreendido, nem explicado, em que podem ser associadas imagens e idéias aleatórias, que o indivíduo pode considerar lógicas.
Filme – Loucos de amor
Título original: (Mozart and the Whale)
Lançamento: 2005 (EUA)
Direção: Petter Naess
Atores: Radha Mitchell, Gary Cole, Allen Evangelista, Sheila Kelley.
Duração: 94 min
Gênero: Comédia Romântica
Status: Arquivado
Marcadores:
autismo,
Filmes. psicanálise
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