Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Aparições ( II )

Alucinações, delírios, visões, ouvir vozes, o persecutório e os sonhos, ou quaisquer outros fenómeno mentais são da própria natureza humana, muito embora alguns deles possam ser entendidos como anormais. A classificação nada nos diz acerca da origem dos fenómenos mentais, mas ao fazê-lo indicando a sua suposta origem, impõe-se como verdade ao indivíduo. Biologicamente somos seres animais pertencentes ao universo, que possui características próprias, das quais ainda nos é dado a perceber um conhecimento limitado. Ideologicamente, existe um desejo de sair dessa ordem universal, posicionando-se o indivíduo num lugar inventado, num assomo de superioridade, que de fato não parece existir. Se tudo é natureza, nada pode existir para além dela. Porque insistimos em perceber como sobrenaturais alguns fenómenos mentais ? Esta será a grande questão, que deve ser analisada e discutida. Todas essas mutações momentâneas são derivadas de alterações de um estado de relativa estabilidade, que conduz a um outro de instabilidade emocional. Quando o indivíduo apresenta alguma dificuldade em regressar a um estado de tranquilidade, e de satisfação, tenta encontrar uma explicação para o sucedido, que na maioria das vezes não passa por reconhecer em tais evidencias, uma resposta do corpo a uma relação que o afeta, mas a algo estranho que o habita. Aqui, as questões culturais transmitidas através das gerações nos impõem figuras fantasmagóricas, como o diabo, os vampiros, e outras figuras sinistras, que nos querem dar cabo da vida, mete medo, e por medo, somos forçados a pensar nelas, e a temer. Podem ser associadas ao demoníaco, ao divino, e aos espíritos que vagueiam no universo, e que, em algum momento estabelecem contato com o indivíduo. Será uma tentativa de encontrar uma explicação fora do contexto científico, não porque ela não possa existir, mas porque alguém disse que ela deve encontrar-se no sobrenatural, como algo que se posiciona para além dos próprios fenómenos do universo. Nestas condições são relegadas para segundo plano as relações de um meio físico e químico, entendendo-se como prioritário o pensamento mágico, cuja concepção é estabelecida através de uma relação de poder. Ou seja, o poder que cada um possa ter nas relações com os outros e o próprio meio, embora limitado, pode, quando entendido e trabalhado, conduzir o indivíduo a um certo bem estar, é substituído pelo inevitável efeito dessas figuras abstratas, que tudo podem, temendo que possa acontecer algo de ruim. Tais figuras foram inventadas, como forma de castrar os instintos do ser humano, ou os manter sossegados, os tentando manter dóceis, e assim poderem ser manejados, perdendo grande parte de sua agressividade. A normalidade nasce dessa idéia de passividade face a uma vontade de poder de um outro, ou das instituições que gerem os interesses de uma sociedade. O ser ativo para a sociedade é sinónimo de um ser humano produtivo, em que só o trabalho parece contar. Se o homem fez a mulher submissa aos seus interesses, a realidade nos diz que o mundo do trabalho fez o mesmo com o homem. Uma vez incorporada essa forma de pensar as coisas e o mundo, os homens não tem possibilidade de curar aquilo que é dado ao sobrenatural, e se por acaso o conseguirem, será porque estão possuídos por esse espírito, e tal poder. Ora, a psicanálise não deve ser confundida com esse poder sobrenatural, porque ela é a emergência de princípios teóricos derivados de uma ciência retirada da própria natureza, dos princípios gerais que regem o universo.

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