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terça-feira, 7 de junho de 2011

Abandono da análise terapeutica em crianças III

Num documento a que tive acesso da Universidade Católica de Rio Grande do Sul, escrito por Marina Bento Gastaud – Abandono de tratamento na psicoterapia psicanaltica de crianças, são referidas altas taxas de abandono por parte de crianças, em que na pesquisa de 2.106 prontuários , 200 tiveram alta, e 793 abandonaram o tratamento.
Trata-se de um estudo documental, retrospectivo, com o prontuário de duas instituições de atendimento psicológico a crianças em Porto Alegre.
Nesse documento são referidos alguns motivos prováveis, que pode conduzir a criança ao abandono da psicoterapia psicanalítica, mas nenhum deles, de fato, parece ser conclusivo, determinante.
A meu ver, damos conta de uma resistência em submeter-se ao tratamento psicanalítico, cujos motivos podem ser de diversa ordem, em que tantas vezes um sentido proveniente do inconsciente se sobrepõe á própria consciência da necessidade terapêutica.
Por outro lado, parece existir um fator determinante, que é garantido através da transferência entre pais e filhos, que possui uma dinâmica psíquica própria familiar, onde, por exemplo, não é raro assistir à chantagem emocional entre seus membros, em que a manipulação determina o que deve ser feito, ou não.
Podemos perceber nas primeiras reuniões de avaliação, que anteriormente existiram casos de desistência da terapia em psicanálise, alegando os mais diversos motivos, cujos argumentos servem a resistência, e nos dá a sensação da existência de um poder narcisista exagerado, que tende a sobrepor-se ao saber psicanalítico.
Os poucos estudos nessa área são inconclusivos, e não podemos, nem devemos, de modo algum, apontar uma determinante como responsável pelo o abandono da criança á terapia, o que nos garante a subjetividade, que está mais de acordo com a diversidade dos transtornos psíquicos, do que propriamente devido à existência de causas objetivas exteriores.
O processo de renúncia deve ser entendido como fuga, determinado por um medo inconsciente, que nos é dado a observar em pacientes de um poder narcisista exacerbado, cujos motivos não podem ser encontrados na entrevista de avaliação, porque ocultos.
Por outro lado, a vinda á análise exige disciplina, processo repetitivo, que de forma inconsciente é percebida como atitude desafiadora, que em muitos casos tende a despertar a rebeldia, e a transgressão.
Em resumo, o que desejo afirmar, para além da reflexão acerca de assunto tão intrigante, por parte do analista, as causas do abandono á terapia são devidos, de um modo geral, à forma de estar na vida dos pais, que não das crianças, ou adolescentes.
A prova evidencia-se através da mesma taxa de desistência em relação aos adultos.
Nesse documento aponta-se para a necessidade da criação de técnicas de intervenção precoce com os pais dessas crianças.
Mas a questão, a meu ver, deve ser percebida segundo uma outra perspectiva, uma vez ser aceite a obrigação por parte do Estado de zelar pela saúde pública, também deve ser exigido ás pessoas que se submetam ás suas próprias exigências, as responsabilizando pela parte que lhe cabe nesse processo.
Neste particular, os estabelecimentos de ensino, podem e devem, assumir um papel determinante.

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