Esta questão, agora levantada, da liberdade e poder de escolha, prende-se com uma outra, a força de vontade, que a maioria pensa estar ao alcance das pessoas a decisão, quando na realidade tantas vezes tal não acontece.
A força de vontade em decidir, a coragem necessária para o fazer, a indecisão, o isolamento, a fuga, e a paralisia, assim como a amnésia, parecem ser fruto de uma outra força de vontade qualquer, algures localizada em terreno desconhecido, que o ser humano não controla, nem sabe que existe, mas que tende a exercer o seu poder.
Atos involuntários de um corpo que sente, que comete o pecado capital da traição para com o corpo que pensa, ou pelo menos julga pensar, mas que por pensar, não parece que seja uma condição suficiente, pelo menos em muitas ocasiões, para levar por diante a produção do seu próprio pensamento.
Freud nos apresenta a teoria em psicanálise como o produto de uma relação de forças, em que a força de vontade de um corpo que sente, tenta vingar perante uma força exterior que o tende a afetar, devido a uma pressão excessiva exercida, que condiciona a liberdade do próprio corpo, em que o poder de escolha não existe.
Ou, se o quisermos, a escolha primária será apenas uma, a libertação de algo que oprime, que condiciona o movimento, e amarra o ser vivo a uma determinada condição, sentindo-se prisioneiro, aprisionado em sua própria casa, à sua interioridade, que não pode ser exteriorizada.
A teoria do recalque e do recalcado foi forjada tendo em conta tais pressupostos, em que as forças, interiores e exteriores, manejam e tentam controlar os movimentos de dentro para fora, e vice versa, num bailado de relações, de interações, e de intromissões, que tentam colocar em causa o equilíbrio estável de um corpo, cuja finalidade será a obtenção de uma outra postura, diferente da primária.
Porém, estamos a falar de forças, como se o corpo fosse apenas físico, massa muscular treinada para exercer uma determinada força, como tentativa de superar uma diversidade de obstáculos, que eventualmente, possam ser presentes ao ser humano.
Para além dos problemas ocasionais, damos conta de uma relação interpessoal, que se faz representar por uma intencionalidade, em que existe uma vontade de uma força derivada de um desejo voluntário, e tantas vezes uma vontade proveniente de um sentido derivado do instinto, que o indivíduo não consegue definir, nem sabe que existe, mas que apenas sente.
A resultante dessa relação e interação de forças, nos garante a realidade do sujeito, o seu caráter, como fator de adaptação ao meio para que possa sobreviver, e garantir o princípio da satisfação, eu diria, de alguma satisfação, para que possa atingir a sua finalidade prioritária, a continuidade da vida.
A mentira produzida como resultante de uma ato de libertação é, a meu ver, a maior prova do atrás descrito, em que a pressão exercida através de um ato punitivo, afasta do sujeito a realidade dos fatos observados, por impossibilidade de ser reproduzida.
Quem vai reproduzir um fato da mesma forma que antes fora produzido na realidade, quando o cutelo se posiciona sobre suas cabeças ?
A maioria não é Cristo, e por isso, foge da cruz.
Uma criança açoitada por partir um objeto em casa, sabendo que vai ser punida se o fizer de novo em relação a outros objetos, como vai reagir ?
Sem dúvida, somos um produto reativo a forças exteriores que nos impedem o movimento e nos punem perante a realidade vivida, que o adulto não deseja observar, nem de sentir, que por isso, tenta impor aos outros.
A mentira é de fato um ato de libertação perante a adversidade de uma eventual punição.
E você, mãe e pai, que diz e deseja que seu filho diga a verdade, que não será mais, que a reprodução da realidade dos acontecimentos, através de uma atitude punitiva, seja verbal ou física, vai obter o contrário do desejado.
A razão existencial tende a superar a razão intelectual, quando o ser vivo é colocado perante a dor e o sofrimento, em que a escolha parece clara, mentir para não sentir na carne os efeitos da punição.
Afirmamos tratar-se da emoção que supera a razão, e tende ocultar os fatos, quando na realidade o que podemos perceber, é que somos colocados perante a presença de uma razão existencial, que a maioria pretende ignorar.
Existem razões que a própria razão desconhece, diz o filósofo, pelo que razão alguma pode reconhecer uma outra qualquer, a não ser a si mesma.
Spinoza afirma, que tagarelamos acerca da vontade do corpo, mas ignoramos quanta força ele possui, e do que ele é capaz.
A filosofia psicanalítica da mente, estuda e investiga essas forças, a forma como estão organizadas, como interagem, e qual a força emergente, que tende a evidenciar-se perante a complexidade de uma forma energética, derivada de um meio físico e químico.
Alguns afirmam tratar-se de uma sopa de onde tende a emergir um sabor, uma síntese, como resultante de uma diversidade de ingredientes.
De aparentemente corajoso, virou covarde, quando se trata de arcar com a responsabilidade de seus atos, por isso foge, e tenta esconder-se dos olhares indiscretos da justiça.
O assassino, como produto dessa sopa, que á partida é indiferente á dor e ao sofrimento, tenta ocultar seu ato para fugir á punição.
Aqui percebemos o desprezo pela dor e sofrimento do outro, de seu semelhante, que não indiferente á sua própria dor e sofrimento.
O outro, apenas funciona como alimento de sua voracidade.
Que escolha pode ter uma filha severamente reprimida, sujeita até mesmo a atos violentos, e violações, na altura de escolher um companheiro ?
Qualquer um lhe parece servir para voltar às costas á prisão.
O que de bom podemos esperar de seguida ?
Será sempre melhor do que o sentido anteriormente.
Depois !. Bem, depois se verá.
Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento
Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou.
O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana.
http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Liberdade e poder de escolha II
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