O processo que o autor faz Zoe adotar na cura do
delírio do seu companheiro de infância mostra, mais do que uma grande
semelhança, uma total conformidade em sua essência com o método terapêutico que
o Dr. Josef Breuer e eu introduzimos na medicina em 1895, e a cujo
aperfeiçoamento desde então me tenho dedicado. Esse método de tratamento, a que
inicialmente Breuer chamou de ‘catártico’, mas que prefiro denominar de
‘psicanalítico’, consiste, aplicado a pacientes que sofrem de perturbações
semelhantes ao delírio de Hanold, em lhes fazer chegar à consciência, até certo
ponto forçadamente, o inconsciente cuja repressão provocou a enfermidade —
exatamente como Gradiva fez com as lembranças reprimidas da amizade de infância
que a unira a Hanold. É verdade que para ela essa tarefa era mais fácil do que
para um médico: por muitas razões a sua posição podia ser considerada ideal
para isso. O médico, que não tem conhecimento anterior do paciente e que não
possui lembrança consciente do que atua inconscientemente nesse paciente,
precisa utilizar uma técnica complexa para compensar essa desvantagem. Deve
aprender a deduzir com segurança, das comunicações e associações conscientes do
paciente, o que neste está reprimido, e a descobrir o inconsciente dele através
de suas palavras e seus atos conscientes. Ele então obtém algo semelhante ao
que Norbert Hanold percebeu no fim da história, quando traduziu o nome
‘Gradiva’ a partir de ‘Bertgang’. (ver em [1]) Ao serem identificadas as suas
origens, a perturbação desaparece; da mesma forma, a análise produz
simultaneamente a cura.
Retirado da Obra de Freud
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