Em primeiro lugar será necessário perceber,
que sentido de adaptação, e capacidade de adaptação, são coisas diferentes,
dado que pode existir esse sentido provocado por uma necessidade, e o sujeito
possuir alguma dificuldade em adaptar-se ás novas condições, que lhe são
propostas.
Um desejo provocado por uma necessidade
sentida, dado que as circunstâncias se alteraram, empurra o indivíduo na
procura de uma certa estabilidade emocional, que tem em vista a sua própria
satisfação.
O retorno a uma situação igual de satisfação
será impossível, embora seja pretendida, tal retorno terá em conta as novas
circunstancias e fatores adjacentes, que por meio de associação e dedução,
podem conduzir o indivíduo a alguma satisfação interior, que pode ser
semelhante, mas nunca igual.
Será um sentido de adaptação provocado por um
desejo de manter uma certa estabilidade emocional, a que chamamos de
equilíbrio.
Tal sentido nada nos diz acerca do que
aconteceu no corpo, que motivou alguma instabilidade, nem o que está ao alcance
do indivíduo, para retornar à condição de estabilidade.
Apenas sinaliza no corpo, que algo deve ser
feito para que possa retornar ás condições de satisfação, que para isso será
necessária um certa adaptação á realidade exterior.
Como sabemos, o que designamos por equilíbrio
não é mensurável, nem pode ser, dada a função do próprio organismo, que
estabelece seus princípios biológicos entre parâmetros, que possuem alguma
elasticidade.
Entre um valor mínimo e máximo estabelecido
encontra-se algures um ponto de equilíbrio, o que nos garante a sensação de
estarmos mais ou menos equilibrados.
Os fenómenos tendem a criar alguma
instabilidade.
Partindo deste princípio, o que é dado aos
organismos e respectivos fenómenos, não podemos determinar, pelo menos com
algum exatidão, em que lugar se encontra a estabilidade, mas sentimos na
interioridade quando deixamos de estar em equilíbrio, em que a resposta, em
primeiro lugar vem do corpo, e de acordo com a intensidade se projeta ao nível da
mente.
O corpo será, então, o primeiro e último
reduto do próprio sentido, que é desejo.
Perante o sentir de um sentido, que nos diz,
que não estamos bem, como mero sinalizador das condições insatisfatórias de um
corpo num determinado momento, impõe-se um sentido de adaptação, que procura
naquilo que conhece, e no meio envolvente, algo, ou alguma coisa, que o possa
satisfazer, cuja finalidade será o retorno á satisfação do próprio corpo.
Se o vai conseguir, ou não, depende de muitos
fatores.
Otto Fenichel - pág. 46 – Teoria psicanalítica das neuroses, afirma o
seguinte:
- Em ensaio muito interessante, Hartmann tentou mostrar que a
psicanálise tem estudado a adaptação com ênfase demasiada no ponto de vista dos
conflitos mentais. Este autor salienta existir também uma ¨ esfera sem
conflitos ¨, que se origina, é verdade, em antítese entre organismo e ambiente.
È neste lugar que se posiciona a capacidade de
adaptação do indivíduo, que não deve ser somente entendida como a procura no
exterior, dado que tantas vezes não conseguimos encontrar o que desejamos.
Como podemos, então, conceber tal capacidade
de adaptação ?
Até neste aspecto nos é dado a considerar a
necessidade da observação de um equilíbrio entre o mundo interior
Desse modo, somos levados a deduzir, que
perante algum instabilidade, o corpo tenta procurar as condições para retornar
á estabilidade, mas que esta só é conseguida a espaços, voltando o corpo a uma
certa instabilidade.
É neste vai vem, em que a pressão exercida
cria alguma instabilidade, que uma vez introjetado o que pode alimentar um
corpo, dará lugar a uma descompressão de todo o sistema, retornando ás
condições de equilíbrio, normalidade.
A energia produzida em excesso pelo corpo,
como sinalizador de um mal estar, é agora desviada para devorar os objetos, em
que o princípio de satisfação, parece consistir nesse movimento, como forma
primária.
Otto Fenichell – adianta que:
-
Campo em que o estudo da adaptação
se apresenta particularmente proveitoso é a psicologia da vontade ou do desejo.
Como um corpo necessitado, é capaz de criar
uma energia adicional, como forma de sinalizar alguma necessidade por
satisfazer ?
Como um corpo seriamente debilitado, por
exemplo, por uma doença, trauma, e ferimento grave, não possui essa capacidade
?
Como podemos entender, que um corpo a quem é
negada a comida, por exemplo, ao fim de algum tempo, deixe de sentir a tensão
interior, que sinalizou essa necessidade ?
Não existirá na realidade um deslocamento
dessa energia inicialmente produzida, que o corpo tende a aproveitar para
outros fins ?
São os desejos que mudam sua perspectiva, que fazem deslocar a
energia contida num corpo, para que possam ser realizados, que podemos observar
como necessidades sentidas, através de um corpo biológico e psíquico.
Como desejos, coisa abstrata, pode levar o ser
humano ao movimento num determinado sentido, e do mesmo modo, pode, devido a
alguma circunstância, mudar o sentido original ?
Essa coisa abstrata chamada desejo, parece
também possuir a capacidade de alterar o rumo a um movimento.
Coisa estranha, não lhe parece ?
Assim, somos levados a admitir, que o sentido
de adaptação, provém de um desejo de um corpo em se adaptar ás
circunstâncias.
Mas a realidade nos faz saber, que em muitas
ocasiões não existe tal desejo, em que o indivíduo tende a rejeitar a própria
realidade que lhe é presente, e proposta, ficando o seu desejo ancorado a uma
realidade interior, que é seu desejo.
Neste caso, o sentido de adaptação não se faz
sentir, mas apenas um sentido interior de um poder narcisista, que pretende ver
reproduzida no exterior, a sua própria realidade interior, pelo que será nula a
sua capacidade de adaptação.
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