Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

sábado, 16 de julho de 2011

Sentido e capacidade de adaptação


Em primeiro lugar será necessário perceber, que sentido de adaptação, e capacidade de adaptação, são coisas diferentes, dado que pode existir esse sentido provocado por uma necessidade, e o sujeito possuir alguma dificuldade em adaptar-se ás novas condições, que lhe são propostas.
Um desejo provocado por uma necessidade sentida, dado que as circunstâncias se alteraram, empurra o indivíduo na procura de uma certa estabilidade emocional, que tem em vista a sua própria satisfação.
O retorno a uma situação igual de satisfação será impossível, embora seja pretendida, tal retorno terá em conta as novas circunstancias e fatores adjacentes, que por meio de associação e dedução, podem conduzir o indivíduo a alguma satisfação interior, que pode ser semelhante, mas nunca igual.
Será um sentido de adaptação provocado por um desejo de manter uma certa estabilidade emocional, a que chamamos de equilíbrio.
Tal sentido nada nos diz acerca do que aconteceu no corpo, que motivou alguma instabilidade, nem o que está ao alcance do indivíduo, para retornar à condição de estabilidade.
Apenas sinaliza no corpo, que algo deve ser feito para que possa retornar ás condições de satisfação, que para isso será necessária um certa adaptação á realidade exterior.
Como sabemos, o que designamos por equilíbrio não é mensurável, nem pode ser, dada a função do próprio organismo, que estabelece seus princípios biológicos entre parâmetros, que possuem alguma elasticidade.
Entre um valor mínimo e máximo estabelecido encontra-se algures um ponto de equilíbrio, o que nos garante a sensação de estarmos mais ou menos equilibrados.
Os fenómenos tendem a criar alguma instabilidade.
Partindo deste princípio, o que é dado aos organismos e respectivos fenómenos, não podemos determinar, pelo menos com algum exatidão, em que lugar se encontra a estabilidade, mas sentimos na interioridade quando deixamos de estar em equilíbrio, em que a resposta, em primeiro lugar vem do corpo, e de acordo com a intensidade se projeta ao nível da mente.
O corpo será, então, o primeiro e último reduto do próprio sentido, que é desejo.
Perante o sentir de um sentido, que nos diz, que não estamos bem, como mero sinalizador das condições insatisfatórias de um corpo num determinado momento, impõe-se um sentido de adaptação, que procura naquilo que conhece, e no meio envolvente, algo, ou alguma coisa, que o possa satisfazer, cuja finalidade será o retorno á satisfação do próprio corpo.
Se o vai conseguir, ou não, depende de muitos fatores.
Otto Fenichel - pág. 46 – Teoria psicanalítica das neuroses, afirma o seguinte:
- Em ensaio muito interessante, Hartmann tentou mostrar que a psicanálise tem estudado a adaptação com ênfase demasiada no ponto de vista dos conflitos mentais. Este autor salienta existir também uma ¨ esfera sem conflitos ¨, que se origina, é verdade, em antítese entre organismo e ambiente.
È neste lugar que se posiciona a capacidade de adaptação do indivíduo, que não deve ser somente entendida como a procura no exterior, dado que tantas vezes não conseguimos encontrar o que desejamos.
Como podemos, então, conceber tal capacidade de adaptação ?
Até neste aspecto nos é dado a considerar a necessidade da observação de um equilíbrio entre o mundo interior 
Desse modo, somos levados a deduzir, que perante algum instabilidade, o corpo tenta procurar as condições para retornar á estabilidade, mas que esta só é conseguida a espaços, voltando o corpo a uma certa instabilidade. 
É neste vai vem, em que a pressão exercida cria alguma instabilidade, que uma vez introjetado o que pode alimentar um corpo, dará lugar a uma descompressão de todo o sistema, retornando ás condições de equilíbrio, normalidade.
A energia produzida em excesso pelo corpo, como sinalizador de um mal estar, é agora desviada para devorar os objetos, em que o princípio de satisfação, parece consistir nesse movimento, como forma primária.
Otto Fenichell – adianta que:
-          Campo em que o estudo da adaptação se apresenta particularmente proveitoso é a psicologia da vontade ou do desejo.
Como um corpo necessitado, é capaz de criar uma energia adicional, como forma de sinalizar alguma necessidade por satisfazer ?
Como um corpo seriamente debilitado, por exemplo, por uma doença, trauma, e ferimento grave, não possui essa capacidade ?
Como podemos entender, que um corpo a quem é negada a comida, por exemplo, ao fim de algum tempo, deixe de sentir a tensão interior, que sinalizou essa necessidade ?
Não existirá na realidade um deslocamento dessa energia inicialmente produzida, que o corpo tende a aproveitar para outros fins ?
São os desejos que  mudam sua perspectiva, que fazem deslocar a energia contida num corpo, para que possam ser realizados, que podemos observar como necessidades sentidas, através de um corpo biológico e psíquico.
Como desejos, coisa abstrata, pode levar o ser humano ao movimento num determinado sentido, e do mesmo modo, pode, devido a alguma circunstância, mudar o sentido original ?
Essa coisa abstrata chamada desejo, parece também possuir a capacidade de alterar o rumo a um movimento.
Coisa estranha, não lhe parece ?
Assim, somos levados a admitir, que o sentido de adaptação, provém de um desejo de um corpo em se adaptar ás circunstâncias. 
Mas a realidade nos faz saber, que em muitas ocasiões não existe tal desejo, em que o indivíduo tende a rejeitar a própria realidade que lhe é presente, e proposta, ficando o seu desejo ancorado a uma realidade interior, que é seu desejo.
Neste caso, o sentido de adaptação não se faz sentir, mas apenas um sentido interior de um poder narcisista, que pretende ver reproduzida no exterior, a sua própria realidade interior, pelo que será nula a sua capacidade de adaptação.

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