Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

domingo, 30 de outubro de 2011

O mundo secreto dos loucos

Ás portas da loucura Aprendi com a loucura, que é apenas uma forma sadia de vivenciar o mundo e as coisas, muito embora por outro ângulo, em que a mente não é insana, e move-se exatamente pelos mesmos parâmetros, daquilo, que muitos de nós, considera normal. Adentrei ao interior de um paraíso louco, representado por medos de uma mulher jovem, que sabe-se lá de onde virão, que ao aproximar-me notei aos poucos o seu corpo a tomar formas rígidas, tortas, cerrando os punhos, como se fosse um gesto de defesa contra um intruso, que estaria ali para a violar. A recusa em falar e olhar de frente meu rosto, o que por vezes fazia de soslaio, pelo canto do olho, provocou em mim a sensação de tratar-se de uma menina assustada, muito embora se notasse em alguns momentos breves, um esboço de sorriso, que logo desaparecia de sua face, como por encanto. Aos poucos tomei conta de sua loucura, sem tornar-me louco, me fiz perceber semelhante, porque os diferentes não têm permissão de entrar nesse mundo, em que a loucura do meu silêncio a fez despertar. A verbalização para ela seria sinal de sedução, como forma de a conduzir por um caminho não desejado ? A sua fala é processada através de um corpo que se manifesta a todo o momento, sem que para ela seja necessária a verbalização. Falar com gente muda incomoda, porque os cujos ¨ normais ¨ exteriorizam suas emoções através das palavras, o que os leva a falarem demais, a serem agressivos, a dizer o que não querem, a verbalizar desejos irrealizáveis, traídos por um corpo excitado, que por vezes faz o contrário, não obedecendo a seu dono. Incomodada com o silêncio, que também me incomodava, afinal, ambos sentimos aquele quadro inusitado, como algo roçando o mistério, em que parecia ser antes uma pausa para algo, que viria a acontecer de seguida. Finalmente começou a falar, mas fiquei na mesma, dado que a verbalização só veio para colocar o carimbo do que era suposto através da expressão de um corpo em silêncio, deformado, com os punhos cerrados em guarda, começando por afirmar, que os homens não prestam. Transformou a mudez num falatório incessante, em que o desejo de estar naquele lugar, não dependia da forma de expressão, mas de sentidos inconscientes, e da sua alma atormentada, que a fizera desconfiada e temerosa. Criei a ruptura na sua vontade de falar, despedindo-me de repente, numa estratégia, não de negação, mas de não permissão de entrar na minha intimidade quando deseja, despertando nela o desejo de mais falar no próximo encontro.

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