Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Aquém da consciência

Mas o caráter da clínica não destinaria a psicanálise a tratar sempre com um "sujeito", a despeito de todas as tentativas de compreendê-lo como efeito de um maquinário de significantes, cujo funcionamento estaria aquém da consciência?
FREUD, POLITZER, MERLEAU-PONTY
Reinaldo Furlan
Depto. de Psicologia e Educação - FFCLRP-USP
Julgo relevante referenciar este questionamento, não só pela constatação da existência de uma função genética / biológica, mas de registros psíquicos adquiridos durante o percurso de vida recheados de significados, simbolismos, cuja função, segundo o autor antecede a problemática da consciência. Desse modo, somos colocados perante a existência dos sentidos, como fator fundamental de um princípio de vida, do existencialismo, como elemento primário da própria constituição de um corpo, que contém vida. Nos colocamos perante o sentir de um ser vivo, indivíduo, sujeito que tenta verbalizar o sentido, o que está a sentir, percebendo-se, que na maioria das vezes não sabe de onde lhe vem tal sentido, nem porque ele existe, dado que apenas sente, não tendo consciência alguma acerca de tal sentido.
Parece faltar um elemento nessa cadeia, que impossibilita decifrar o enigma de uma certa forma de sentir, que embora fazendo-se sentir no corpo, o sujeito do conhecimento ignora, retirando desse modo a consciência deste fenômeno. O que parece invadir o espaço analítico será apenas o sentido de um sujeito que sente, que vive a angústia de sentir, e de, pouco ou nada saber do que está a sentir, que carece de ajuda para tornar o não compreendido, embora sentido, em compreendido, e em objeto da consciência.
A questão que se coloca de seguida, tem a ver com o papel desempenhado pelo o analista em todo esse processo, que o sujeito espera que o possa conduzir ao mais saber.
A resposta não está com o analista, porque isso seria invadir um corpo alheio, sendo ele próprio, em que o analista passaria a ser paciente, e o curandeiro das suas próprias feridas.
O problema da transferência, a que designo por ¨ transfere energético¨ leva consigo a esperança, que através dessa relação analista / paciente, possa dissolver a angústia que atormenta o sujeito. Mais uma vez somos confrontados com a importância do sentir, como algo que possa dar segurança ao sujeito, perante um mar de insegurança e angústia.
Se considerarmos que a segurança é proveniente de um poder, mesmo falso que seja, percebemos nisso o mundo das aparências, em detrimento de um mundo real, que não é em absoluto seguro, prevalecendo a ilusão de um controle, de uma proteção, que é de fato inexistente.
Assim, ao falar do sujeito, devemo-nos interrogar de que sujeito estamos a falar, do sujeito que sente, mas não sabe porque sente, e a que é devido tal sentido ? Nesse caso, o sujeito do conhecimento não existe, em que o cognoscível permanece oculto.
Ou do sujeito, que está, ou se sujeita á análise, cuja intenção será vir a transformar o oculto em cognoscível ?
Parece existir uma permanente agitação da alma através de uma sensação, que se posiciona numa zona obscura, ou se o quisermos neutra, mergulhado no mundo das trevas, em que a luz provém do saber, que não será mais que uma tentativa de associar palavras ao desconhecido, para o tornar conhecido, e na maioria dos casos em compreendido.
A este fenômeno chamo de argumentação.
E já agora, perguntemos, onde está a verdade em tudo isto ?

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