Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

sábado, 30 de abril de 2011

O QUE VOCE ENTENDE POR LIBIDO

l — As chamadas fixações libidinais.
Não é necessário chamarmos, nenhum gênio, para concluirmos que o cuidado educacional deve começar, por assim dizer, no recém-nascido. Como assegura Robert Gaupp, "cada função tem a sua data em que com a maior ou menor rapidez ocupa o primeiro lugar, para depois se esbater lentamente em favor de outra".
Contudo, Gaupp acrescenta: "Tais alternativas não parecem ter sua origem em influências externas, senão em propriedades inerentes ao desenvolvimento biológico".
No entanto, essas mesmas propriedades inerentes ao desenvolvimento biológico podem ser alimentadas em demasia; ou melhor, viciadas pela ação do meio.
O infante de peito, por exemplo, que suga o seio materno em excesso, ou que depois é distraída pela chupeta, desperta para os lábios, que é uma zona erógena, (zona do corpo que produz prazer sexual) as "atenções" da "sexualidade". Ora, é precisamente nessa época que se instala a "fase oral da libido".
A importância dessa etapa da existência, é inimaginável, basta dizer que da "fixação libidinal", na fase oral, podem surgir, as mais diversas anomalias sexuais, bem como inúmeros vícios que aparecem mais tarde, na idade adulta, cujas raízes a análise descobre, mascaradas sob outras formas de exteriorização.
A tarefa profilática consiste em não prolongar as "mamadas" do lactante. O leite deve ser fornecido em horas certas, não deixando que a ingestão alimentar ultrapasse os limites prefixados pela puericultura moderna.
Se depois de alimentada, a criança "choramingar", inquietando-se, ou não podendo conciliar o sono, cabe à vigilância materna entreter o garoto por "outros meios" mais salutares, em vez de, por comodidade, distraí-la com "bicos" ou "chupetas".
Adejar desses objetos (ou mesmo a demora no seio materno) trazerem as conseqüências mais nefastas à educação sexual, acarretam, ainda, esses criminosos condutores de micróbios, os males mais imprevistos e, às vezes, irremediáveis.
Aqui não é lugar para explanarmos sobre higiene infantil, entretanto, para fazermos uma dissertação mais ampla a respeito. Consultem, porém, os leitores, os livros de higiene infantil.
O que é fixação da "libido"? "Fixar a libido" é imprimir no inconsciente a imagem viva de uma impressão forte. Não é difícil essa "fixação". Em geral as mães ou as nutrizes, têm o costume, vez por outra, (não raro até em tom de brincadeira), de censurar por meio de atos, palavras e festas à criança que chupa um "bico" que suga em demasia o seio, ou que se distrai com o dedo na boca.
Processos condenáveis, muitas vezes são aplicados, segundo a idade do petiz: "Não faça isso que é feio"; outras vezes dão "palmadinhas" na mão dos filhos, censuram-nos com olhares rancorosos, arrancando de súbito, os objetos ao alcance da boca. Por outro lado, colocam sal ou pimenta no bico dos seios... Utilizam-se, enfim, de mil e um recursos inúteis e perigosos.
O infante, em vez de se esquecer, como em geral se pensa, de todas essas "repreensões", plasma a impressão, em imagem viva, no inconsciente.
E, quando se tornam homens, sem saberem por que, tornam-se anormais no amor, adquirem vícios perniciosos, como o do álcool, por exemplo; graças às impressões gravadas durante a infância e que perduram por toda uma vida.
A "libido" volta ao "ponto fixado", tão desejado nos primeiros anos juvenis, sob uma modalidade disfarçada de atitude. Chama-se isso, em psicanálise, "regressão".
A "regressão", como conseqüência da "fixação", a "fixação", como resultado do "recalcamento", enlaçam, em última análise, toda a doutrina freudiana. Aí repousa justamente o que todos os educadores deviam saber antes de iniciar o trabalho educacional da infância. Sentimos não poder explanar nestas páginas um resumo, que fosse, das noções fundamentais da psicanálise, porém isto nos levaria longe, obrigando-nos a nos afastar da finalidade deste artigo.
Prosseguindo no que vínhamos dizendo, cumpre-nos acrescentar, que dessas impressões infantis, nem sempre surge anormalidade, o que porém ,a experiência psicanalítica demonstra é que tais desvios psíquicos têm as suas raízes nos primeiros anos da vida. "Tanto mais intensa é a estagnação de uma corrente, tanto mais retrocedem as águas". Quanto maior for o embaraço da libido no curso do seu desenvolvimento normal, tanto maiores serão as "regressões" aos pontos "fixados". Mas, como dizíamos, nós nunca argumentamos com as restrições.
O tabaco, por exemplo, produz o nicotismo do coração. Vêem-se, entretanto, velhos de mais de 80 anos que nunca tiraram o cachimbo da boca, gozando a mais perfeita saúde. Nem por isso devemos basear-nos nesses exemplos isolados, tão a gosto dos espíritos contraditórios.
2 — Comportamentos sentimentais
Partimos, agora, aos beijos, aos carinhos excessivos das mães em relação aos filhos. Neste ponto Watson pondera: "As mães não sabem que quando beijam as crianças, quando as agarram e balouçam, acariciando-as e levando-as ao colo, modelam aos poucos um ente incapaz de lutar contra o mundo que vai cercá-lo".
E questiona:
"Que dizer sobre as amizades e o comportamento sentimental das crianças? Serão espontâneos? Quererão insinuar que o amor aos pais não é instintivo? Um fato apenas provocará reciprocidade afetiva na Criança — isto é, o contato da pele, dos lábios, ou dos órgãos genitais. Não importa quem os toca. Ela amará que os tocar. Deste barro se forma todo o amor, seja maternal, paternal ou conjugai. Difícil de crer, mas verdadeiro".
"E necessário desempenhar, cultivar socialmente certo grau de reciprocidade afetiva, mas poucos são os pais que percebem exagerar facilmente este sentimento na criança. A simples idéia de refrear o amor paterno ou filial, pode ser dolorosa, mas se se convencerem de que só trará benefícios ao pequeno, porque não se sacrificam?".
Talvez não será uma questão de sacrifício, senão uma maneira "difícil" de ser removida pelos pais em relação aos filhos. Os pais, por certo educados também com carinhos excessivos dos seus, não podem compreender, sem uma grande reação anímica, aliás, salutar, que os excessos do sentimentalismo, prejudicam o futuro de seus "pequenos".
As complexões, recheadas de afetos familiares, sufocam o raciocínio, ou melhor, a razão.
Inconscientemente dizem muitas vezes: "Eu sei que isto é nocivo. Mas, eu não posso. Tenho que acariciar meu filho, se possível a todo o momento",
Faz-se necessário, assim, uma espécie de ginástica mental. A pessoa deve conversar consigo mesmo a esse respeito. Tudo aquilo que a razão já aceitou como nocivo deve ser eliminado como nosso inimigo. Se sabemos que os carinhos em excesso são altamente prejudiciais, não custa submetermo-nos a uma auto-analise, nesse sentido, deixando que as nossas fraquezas íntimas venham à superfície da consciência, sem nenhuma crítica, ou melhor, afrouxando toda a nossa "censura" pessoal.
Muitas vezes dizemos: "Ora! Se meus pais não fossem tão bondosos para mim, se não me fizessem todas as vontades, hoje certamente, eu não estaria assim!..." Por isso diz Ralph: "Dê aos seus ouvidos a oportunidade de ouvir, de sua própria voz, a expressão desses pensamentos desagradáveis que até agora tem conseguido dissimular-se nas sombrias e inacessíveis regiões do seu espírito".
Ser "abrupto" com osfilhos jamais. Ao contrário. Bondade não quer dizer nunca fraqueza de ânimo nem exclui o dever de orientar. "A bondade é a caridade da inteligência". Com inteligência podemos ser "bons", "amáveis", "estimados" pelos nossos garotos, sem que eles percebam os limites das nossas concessões inteligentes.
Prosseguindo, já não é difícil concluir que "se uma criança for educada de acordo com os princípios ideais, não será nem extravertida, nem intravertida. Será equilibrada entre aqueles dois extremos. Qualquer desvio nessa posição normal indica que a personalidade foi atingida pela "mão morta" das influências nocivas".
"Segundo a regra geral: as tendências citadas resultam da maneira pela qual reagiu a suscetibilidade psíquica infantil aos temperamentos das pessoas com que está em contato mais direto: pais, tutores, educadores; depende da repulsão ou da atração entre esses dois fatores. Quando existe a repulsão, isto é, quando a influência sobre a vida infantil é extravertida, resulta um estado patológico conhecido, em psicanálise, pelo termo - complexo. Em caso contrário, de influência intravertida, de atração, o resultado patológico tem. o nome de - fixação
3 — Ã fase anal sádica.
Assim como vimos, à "fase oral da libido" sucede uma outra denominada "fase anal sádica". É um novo despertar de sensações. A criança começa a perceber que o ato de urinar e defecar constitui para ela fonte de prazer. Procura, por isso, prolongar esses atos fisiológicos o mais possível.
Geralmente, a demora com que são realizados leva as mães a chamarem, a atenção dos filhos, inibindo-lhes assim um desejo que procura, naturalmente, a satisfação.
Tanto os meninos, assim como, as meninas, não sabem ainda por que prazerosamente gostam de ficar sentados nos vasos sanitários por algum tempo. Essa atitude dos instintos, e que eles não compreendem, é apenas agradável. Dá-lhes uma sensação de bem-estar e nada mais.
Determinado número de crianças, brincam mesmo, com o produto de suas defecações, lambuzam-se com a urina, entretendo-se nesse "esporte" por um espaço de tempo, às vezes grande.
Tudo correria "sem maiores conseqüências" se as pessoas que cuidam desses "garotos travessos" os vigiassem delicadamente, impedindo, com destreza de atitudes, que eles alimentassem esses atos por espaço de tempo.
Claramente. A vigilância deve ser aí a mais dissimulada possível. Horas certas. Tempo apenas necessário. Se a criança insiste em ficar sentada no vaso, ou, em uma palavra, se reage e toma atitudes para continuar, persistindo nesses atos "intermináveis", deve-se distraí-la, cuidadosamente, procurando-se chamar a sua atenção para "outra coisa qualquer" mas nunca despertá-la em relação ao "não faça isso que é feio".
Criticá-la, dando a entender que "aquilo" é indecente, gritar, bater, "por de castigo", ameaçá-la com "quartos escuros" é criar para o inconsciente as primeiras impressões de um mundo hostil, cuja razão dessa hostilidade ele ainda não pode compreender.
Abster-se, por outro lado, que a criança fique à vontade, ou porque as mães não se queiram, preocupar "com isso", ou ainda porque tenham "pena", é alimentar e, portanto deixar que a "libido", talqualmente como explicamos anteriormente, comece a ter "preferências" por uma zona também acessível às "fixações".
Bem como na fase anterior, a "anal sádica" refere-se também a uma zona erógena ano-retal e que se define, graças às excitações da mucosa aí existente.
Comporta dois períodos:
O primeiro com o prazer de alimentar as excreções através do prazer recebido:
O segundo, quando a criança percebe, por causa das restrições, que deve reter as fezes.
Importantíssima é esta fase. Ai aparecem aumentadas as tendências agressivas infantis, bem como certos traços caracteriológicos de grande e indiscutível importância na idade adulta.
Além disso, da "fase anal sádica", pode-se, mais tarde, determinar até mesmo os traços de caráter futuros, quer já na época escolar, quer no adulto.
Esses traços serão evidenciados:
1º) pela tendência chamada captativa;
2º) conservadora;
3º) produtiva, que são as três tendências primitivas encontradas pela escola francesa no dinamismo da "fase anal sádica". Essas tendências ou são aceitas integralmente, ou então se transformam através das repressões e da sublimação, como quer que seja, uma vez rompida a época prégenital, podemos resumir todo o trabalho do educador em um só gênero, diante dos caracteres diversos que se lhe apresentem, ,de acordo com o destino que tomou uma dessas tendências primitivas, se elas não sofreram a sublimação natural. Assim, basta, como preceitua Sampaio Doria, que o educador "desloque a predominância impulsiva dos interesses baixos para as idéias superiores, para a consciência do dever". (Sublimação educacional).
Aceitar, porém, que a criança não é culpada de seus atos instintivos, é tudo para o educador e para o educando. Não é, porém, agora o momento de insistirmos nesse ponto.
(Fonte - www.Artigonal.com SC #4686991)
Wagner Paulon - Perfil do Autor:
Psicanalista e Mestre em Psicopatologia pela (Escola Paulista) em SP-BRASIL; Formação Integral e Análise Didática em Psicanálise; Psicólogo Clínico pelo (Saint Meinrad College) em USA; Pedagogo pelo (FEC-ABC) em SP-BRASIL; MBA pela (University Abet) em USA; Curso de Especialização em Entorpecentes pela (USP) em SP-BRASIL; Livre Docente em Faculdades e Universidades Brasileiras; Exerce atividades Clinicas e Educacionais há mais de trinta e cinco anos; Membro de varias Sociedades Científicas Internacionais; Membro da "Cruz Vermelha Brasileira - Filial Estado de São Paulo"; Membro da Organização Internacional "Médicos Sem Fronteiras" e Atual Diretor do Centro Psicanalítico de Ubatuba-SP.

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