Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Os sonhos como realização de desejo

Ontem sonhei que me deixei acariciar e beijar por uma mulher, de que não senti repulsa alguma, bem pelo contrário. Qual o significado desse sonho ? Na realidade desejava interrogar-se acerca da sua possível inclinação homossexual. O sonho, se é verdade, que são realizações de desejos, como falar sobre o acontecido ? Aqui, voltamos á velha história que o desejo em si mesmo já será a construção do pecado, pelo menos muita gente assim entende, em que o sentimento de culpa antecede o próprio ato. Retirar a culpa daquele que ainda não agiu, e falar sobre isso exige uma sensibilidade e conhecimento bastante para que o diálogo não se encontre com a dramatização de fenômenos mentais que são da própria natureza, e que o ser humano não domina de todo. Podemos observar a existência de uma pulsão nesse sentido, mas não conseguimos, ou temos grande dificuldade em determinar como foi processada, muito embora possamos admitir, que tal sonho seja a realização de um desejo de um Ego objetal não permitido por outra instância psíquica. Aqui, somos levados a considerar que um objeto feminino, mãe, foi mais determinante em sua intimidade quando criança, que o objeto masculino, pai, mas continua insuficiente para explicação do fenômeno. Porém, trata-se de uma pulsão parcial interrompida por um superego que tende a destruir tais intenções, que por isso só no sonho pode ser possível, que não na vida real, embora possa vir a acontecer numa outra circunstância qualquer não determinada. O que antes era instinto, mas não reconhecido como sexual, faz agora sua aparição sob a forma sexualizada, devido à maturidade dos órgãos e da evolução de sua própria vida como ser humano. O que foi um dia erotizado apresenta-se hoje com todos os componentes desenvolvidos, em que a ligação da energia entre dois corpos, sejam eles quais forem, é processada de forma completa, digamos. Refira-se que a completude aqui descrita representa o clímax, o culminar de um processo afetivo que tem seu encontro com o corpo do outro, entendido como alguma dependência. A esta excitação, a maioria das pessoas designa por amor, quando, a meu ver, deve ser estudado e investigado ao nível da energia e seu deslocamento para objetos que possam merecer o afeto da pessoa, ou pelo menos assim julga. Se o corpo apresenta a tendência para o relaxamento profundo após um período de tensão porque passa o sujeito no seu dia a dia, o lado afetivo \ sexual do sonho tende a favorecer a descarga de alguma energia retida, que de vez em quando necessita de ser renovada. Renovação e sexo devem ter algo em comum, embora possamos reconhecer que a morte de um desejo ocasional, nada, ou muito pouco nos diz como foi construído.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

O mistério das relações

Meus relacionamentos não dão certo, mas não consigo descobrir porquê. Algo estou a repetir sucessivamente sem aperceber-me do que possa ser, e quais suas causas, que me conduzem sempre ao mesmo resultado. Desconheço este movimento interior que me leva à repetição. Depois de algum tempo de colocar a culpa no outro comecei a sentir-me também culpado, nem sei bem porquê, porém, duvidando que as pessoas com quem me relacionei fossem todas iguais, e que eu seria o bonzinho desta história mal sucedida, e as outras só pretendiam um momentos de diversão. Talvez fosse demasiado sério para as pessoas me levarem a sério. Esta intuição, de que a culpa fosse minha, fez-me pedir ajuda, que enquanto não tomei a responsabilidade de algo que não deu certo em minha vida, não a procurei. Deixei de perseguir o causador da minha angústia, o outro, libertei-me desse sentimento de vítima, e finalmente consegui enxergar o sujeito que estava a sujeitar-se à sua própria vitimização. Finalmente a liberdade, pensei eu, quando na realidade ainda não sabia a direção a tomar, embora soubesse o caminho a seguir, o da autonomia e libertação do outro, e de mim mesmo. Mas qual seria o outro de que pretendia libertar-me ? Não. O que fiz, foi dar a liberdade ao outro de ser tal como é, e não como gostaria que fosse, daí que a culpa se tenha virado para mim, como se fosse a interrogação relativamente à minha interioridade, que não conseguia dar uma resposta. A falta do objeto nos faz pensar um pouco assim. Afinal, o que minha interioridade sabia, ou executava, que eu próprio ignorava ? Devo considerar que o sujeito do conhecimento, por vezes, pouco ou nada sabe a seu respeito, do que se passa na interioridade oculta de seu corpo. Este sentir ignorante, e as sucessivas frustrações amorosas, criaram uma ruptura entre um desejo consciente, e algo interior que impedia a sua realização, provocando uma ruptura da energia que ligava ambos os corpos, deixando-me sozinho, entregue a mim mesmo, sem possuir o objeto de desejo. O que fazer com essa liberdade ? Nunca me fora dada a condição de caminhar por mim mesmo, que decerto não saberei, e a insegurança não se fez esperar, e foi talvez por isso, e não por sentir a culpa, que fui em busca de ajuda de alguém que dissesse o que deveria fazer. A insegurança de uma criança que espera a mão da mãe, ou do pai para a conduzir já não estava mais aqui, fora então substituída na pessoa do psicanalista, esperando dele exatamente o mesmo tipo de atitude de meus pais. Abandonado e inseguro resgatei o pai, pensava eu, no poder do psicanalista, que me iria conduzir ao paraíso, como se fosse o histérico a conduzir a dama neurótica por prazeres nunca antes experimentados, eternizando desse modo a criança dentro de mim. Triste e abandonado, deixo-me levar, pensava eu, em que não haveria esforço a fazer da minha parte, e tudo seria resolvido pelo papai, não percebendo que o comodismo é sinônimo da inação, e que por via disso, me mantive sempre de bico aberto à espera do alimento. Desse lugar teimava o psicanalista em não me tirar, como se não quisesse, ou pudesse fazer alguma coisa por mim, dando-me apenas os instrumentos necessários para salvar—me a mim próprio. Como salvar-me da aflição, dos tormentos, se minha alma atormentada, não sabe, nem percebe como fazê-lo ? Esse é o ¨ drama ¨ da análise, tanto para o psicanalista, quanto para o paciente, que deve ser gerido com todo o cuidado, em que não existe mistério, mas exige um saber.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Pulsões destrutivas e mal estar da civilização

A questão do mal estar da civilização de Freud é entendida como derivada da afetação do indivíduo em sua formação familiar, e da repressão sobre ele exercida através de modelos societários impostos. Não existe separação entre psicologia individual e coletiva, diz Freud. Se num primeiro tempo podemos perceber a afetação dos instintos animais exercida pela repressão familiar, num segundo momento damos conta de uma reação do corpo perante a agressão exterior, em que o poder do outro transforma-se em seu próprio poder. Podemos falar em pulsão destrutiva, mas ela será sempre posterior a todos os acontecimento que a antecedem, e que provocaram tal poder de destruição, pelo que falar de seus efeitos pertence à Sociologia e Filosofia, e de suas causas à Psicanálise. Falar do que é, mas não devia ser, será entrar num jogo neurótico onde se multiplicam razões e verdades absolutas acerca de um cenário a nossos olhos degradantes, que ao longo dos tempos não se vislumbra qualquer solução, e tende a agravar-se nos dias de hoje, quando a criminalidade impera, e as agressões ideológicas se multiplicam. Falar do que deve ser feito ao nível do indivíduo para o retirar, ou o impedir de algum modo de chegar até ao crime exige um outro tipo de trabalho, em que a prevenção tende a substituir o julgamento e punição Tentar estancar a fonte da miséria humana, do mal estar e da infelicidade é o campo preferido da psicanálise Freudiana.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Técnicas de análise

Técnicas de análise Responsabilizar o sujeito pelos seus atos, mesmo inconscientes que sejam, será como fixá-los no lugar que ocupam até que possam resolver seus conflitos, o que pode tornar-se doloroso em alguns casos, e prazeroso noutros. Talvez aqui possamos rever a história do neurótico e de um perverso, em que a tendência do psicanalista será retirar um do sofrimento e o outro do prazer. Essa tendência provém de uma mentalidade embutida na sociedade em que o prazer do perverso não é aceite e o sofrimento do neurótico exige compaixão. A questão da neutralidade do psicanalista, neste caso, parece ficar comprometida, a menos que para ele seja irrelevante, tanto o sofrimento quanto o prazer, entendido, claro, como essencial para a reelaboração e posterior resolução dos conflitos. Para além dos valores morais temos o sucesso ou insucesso de uma análise, e este problema que trago aqui, parece estar sempre em cima da mesa na relação entre psicanalista e paciente. Porém, um dado interessante que constato, é que ignorando os destemperos de uns e sofrimento de outros, quando a análise é bem sucedida a tendência será sempre para um ajuste do comportamento mais equilibrado.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Felicidade

Felicidade • O que ela não é. Até hoje ninguém deu resposta definitiva do que é a felicidade, ou possa ser, talvez, porque seja um estado transitório entre a alegria e a tristeza, a satisfação e insatisfação, a dor e o sofrimento. Portanto, felicidade não é um estado absoluto de alegria e satisfação, dado que de vez em quando é contrariado por estados de tristeza, de dor e sofrimento. Assim, devemos considerar que a felicidade depende muito mais da existência de conflitos emocionais, do que da procura em qualquer lugar, aliás, inexistente, dado resultar de um rácio entre satisfação e insatisfação. Desse modo, a felicidade eterna não pode existir, e quem a promete, mesmo que seja uma questão de fé, não passa de uma possibilidade por cumprir, uma ilusão. Trabalhamos sob a influência de uma ilusão de felicidade, que conseguimos por momentos, mas não a tempo inteiro, para apaziguar nossas angústias e tristezas, que não se encontrando neste lugar encontra-se no além. Se ela não existe, pelo menos não é visível, há que procurá-la, dizem alguns. O problema é que quanto mais a procuramos mais ela nos parece fugir, dado que existe uma teoria para a prática do bem estar que o ser humano não quer, ou não sabe enxergar, porque isso exigiria dele uma transformação real. Não a procurar parece ser a primeira condição, não para a encontrar, mas para refletir, como, e o que fazer, para que possa ser possível retornar a um estado de felicidade então perdido, que impõe a tristeza, a dor e o sofrimento. Se a procuramos é porque se transformou em desejo, devido a um outro desejo que não deseja sentir a tristeza e insatisfação, o que nos leva a estudar com maior cuidado os princípios básicos da psicanálise Freudiana, no que é referido ao princípio do prazer. Felicidade, por isso, não é sentimento a que tenhamos acesso de forma direta, que só se revela por intermédio de outras realizações, como sejam, as relações entre seres humanos, que devem ter em conta o respeito e consideração entre os semelhantes, sejam eles quais forem. Assim, a felicidade depende em primeiro lugar da forma como o ser humano se relaciona com o outro, e o mundo à sua volta, que tem seu aprendizado na formação infantil. Freud – A realização de um desejo infantil é o único capaz de proporcionar a felicidade.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Transformação, ruptura e adaptação

O processo de transformação é inerente à condição humana, no entanto existe uma outra força que se opõe, dependendo das circunstâncias, como tentativa do ser humano não sair do lugar ocupado, e que sente pertencer-lhe. Por isso, a vida pode ser comparada a um elástico, que mantém sua elasticidade partindo de um princípio, ponto de inércia, que pode estender-se até determinado ponto, a partir do qual será promovida a fragmentação. Podemos considerar a existência de uma violação de uma determinada base nuclear que rompeu com uma ordem existente, que pode ser ou não de seguida, restabelecida uma nova ordem, contudo tendo em conta algo de uma estrutura anterior. Porém, podemos considerar que devido à interseção de determinado elemento deu-se uma clivagem tão profunda, que alguns elementos do núcleo original o abandonaram, formando um outro em separado, apresentado-se como referência principal, grau valorativo. Será esse elemento de interseção que levou a formar um outro grupo, (Teoria dos grupos). Pelo exposto, podemos considerar a partir de agora duas estruturas em atividade, e não uma, pelo que ambas, quando solicitadas tendem a apresentar determinada resposta. Talvez possamos perceber tal fenômeno na esquizofrenia em seus movimentos de descontinuidade, mas que ambos parecem pertencer ao mundo dos instintos, em que a afirmação do sujeito apresenta uma grau de valorização exagerado. Tal como na química, a valência e a compatibilidade parece determinar a existência de núcleos diferenciados, referindo que a valência é estudada em psicanálise como economia, e a compatibilidade como dinâmica psíquica e respectiva associação. Não sei se poderemos estar de acordo, que para manter-se o núcleo original, deve, o elemento a incorporar, apresentar uma compatibilidade associativa, e um grau de valorização que se submeta ao representado pelo núcleo, ou seja semelhante, o que estará de acordo com o referido por mim anteriormente que a formação do indivíduo deve fazer-se através de pormenores.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Discurso perverso

Quando o discurso do psicanalista é pautado pela ideologia, estamos perante uma ideia social e política, que se encontra aquém e além dos princípios teóricos em psicanálise, sendo uma nova forma de exercer um poder como substituto de outro existente. Cada vez mais é notada a ausência da dissociação entre ciência e política, em que ao saber o sujeito exige um poder, que na realidade não deveria estar vinculado, dado que o mais saber deveria pautar-se pelo reconhecimento de sua própria ignorância. Num mundo globalizado, em que as novas tecnologias permitem a viagem e a comunicação em tempo real com os demais, sendo acessível ao mais comum dos mortais, a verbalização tende a perder algum de seu sentido, pelo que a sedução deve imperar para conduzir o sujeito naquilo que a outros interessa. Tenta-se combater o poder com outro poder, numa substituição infinita de objetos, que julgamos de outra dimensão, quando bem vistas as coisas, pouco vem acrescentar à problemática da humanização e socialização, de que seus autores tanto falam. Falar de poder e o desejar sem dar a ideia de o querer, nada melhor que combater o poder instituído, como forma de se instalar na cadeira do poder, dado que este não deve esvaziar-se de sentido, sendo a bússola que orienta qualquer ser vivo. Incorremos por vezes na prática de responsabilizar os mercados consumistas, ditos regimes capitalistas, pelo alastrar das crises psíquicas, do mesmo modo que o neurótico tenta responsabilizar sempre o outro pelos seus desaires, não percebendo o autor deste texto qual seja a diferença de ambos os comportamentos. Continuamos a fugir à responsabilidade de encontrar um caminho alternativo, que não passa pelo outro, mas por descobrir o seu próprio caminho, como forma autônoma de se apresentar perante a vida e os obstáculos que exigem superação. Falamos do gozo que nos oferece a liberdade de gozar em tudo que possa representar o estético, o atraente, tentando dizer que o sujeito do gozo que goza, só o pode fazer porque o poder capitalista assim o incentiva, transformando em coitados, aqueles a quem devia ser mostrada a força de sua energia dispersada no seu próprio gozo, transmitindo-lhes que podem, e devem tomar as rédeas de seu poder interior. Este tomar as rédeas de seu próprio poder interior é o fim último a que se propõe a psicanálise, a que só deve ser exigida uma coisa simples, embora pareça a alguns ser difícil cumprir, o respeito e consideração pelos demais. Fazer a apologia da destruição de um sistema, neste caso capitalista, consumista, logo nos assalta a ideia da substituição por outro mais tenebroso, dizem outros, por afetar a liberdade do sujeito, como seja o comunismo, ou o socialismo, pelo que nos enredamos em formas ideológicas, que pertencem ao mundo do coletivo, da sociedade, que não da individualidade. Devo afirmar que a análise é um processo individual, embora transportando consigo o histórico do sujeito adquirido ao longo de sua existência, não terá condições de sucesso se continuar a valorizar e a cultivar sentimentos de vergonha, constrangimento e de culpa, perante uma formação repressiva familiar e da própria sociedade. Valorizar um regime, seja qual for, é não se valorizar a si mesmo, em que o poder encontra-se no outro, e com o outro, tornando-se submisso e neurótico, sujeitando-se desta feita ás drogas autorizadas e à verbalização sedutora, será tratar o sintoma, que não a própria neurose. A psicanálise finda a sua missão quando, mediante a análise o sujeito recupera o gozo pela vida, em que o vício da vida tende a superar a morte, não cabendo ao psicanalista tentar seduzir, ou conduzir a vida do sujeito posteriormente, por intermédio de seu suposto saber.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Conceito filosófico de indiferença

Pirro de Élida( 365 - 270 a.C.) foi fundador da escola cética, ele distingue o que é o bem por natureza e o que é o bem pelas convenções humanas. A negação da própria natureza do homem e das coisas, como proibição mental para observar os fenômenos naturais, em essência, traduz-se por uma tentativa de indiferença face à realidade das forças constituintes do universo. Sendo assim, todos os conceitos ficam dependentes de convenções sociais, e chamaremos de princípios ao que emana de uma ordem universal, que apresenta um sentido e rege a relação entre todas as coisas, às quais o homem não consegue fugir. A sociedade pode ser indiferente às leis da própria natureza, mas em determinado momento a realidade universal faz cair por terra, todos, ou alguns de seus conceitos artificiais, derivando daí a frustração. Se considerarmos que só a verdade salvará, ignorar as forças da natureza será navegar na ilusão, que mais tarde ou mais cedo será destruída, sendo esta a realidade do ser humano, que se vê a braços em tantos momentos com a sua própria destruição. Navegar com a ideia da imortalidade não será navegar na ilusão ? Não será ela a responsável pelo despertar das forças narcisistas destrutivas poderosas ? A visibilidade da morte experimentada por um sentir debilitado entranhado no corpo nos parece transmitir a noção de nossa fragilidade, que escapando dela nos faz mais mansos e compreensivos, parece dar-nos a verdadeira dimensão da via terrena. Adquirimos a mansidão, entendido como tranquilidade, a partir de uma impossibilidade que nos faz sentir impotentes, e de vez nos entregamos à vida, até que a morte nos separe. O que parece ficar por esclarecer será essa necessidade do ser humano sentir-se potente, porque impotente o fizeram, surgindo o desejo de o demonstrar nos braços de uma mulher, ou numa forma estética, que tantas vezes, só o dinheiro pode comprar. Ser indiferente seria sentir sua impotência, e disso ter tomado sentido, em querer salvar o mundo, que não tem salvação, porque ele próprio tem suas leis e organização própria, que o ser humano não possui capacidade alguma para transformar. Talvez seja um saber limitado, muito embora real de suas capacidades, que levaria o ser humano a não criar ilusões, e julgar-se ele próprio dono da verdade, e de uma vontade interior de dominação, tentando ser Deus, quando simplesmente é humano. Se algo de útil existe no ser indiferente é que ele não cria grupos de oposição, que, quer queiramos ou não, atenta contra a própria liberdade do indivíduo e a preservação da espécie.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Estímulos e indiferença

1 – Excitação de um órgão sensorial ( receptor de estímulos ). 2 – Transmissão da excitação através das vias sensitivas ao centro cortical. 3 – Recepção pelo centro cortical. Os órgãos dos sentidos são sempre invadidos por estímulos exteriores, da mais diversa ordem, mas uma vez recepcionados necessitam de serem transmitidos ao centro cortical, para que possa o cérebro fazer a recepção desses sinais elétricos. Sabemos que nem todos os estímulos provocam excitação, a ser assim, a transmissão não terá lugar, existindo uma certa indiferença relativamente a alguns estímulos exteriores, que não a outros. Como entender essa indiferença ? E devido a quê, e porque mecanismos, essa indiferença será possível ? Em primeiro lugar, seria absurdo pensar que todos os estímulos exteriores possam produzir uma excitação num ser humano, por outro lado, sabemos que os estímulos recepcionados apresentam uma intensidade de excitação diferenciada, tomando o corpo sentido de forma diferente. Em segundo lugar, os estímulos exteriores que nos são indiferentes, ou podem ser, não servem à preservação da vida, embora muitos possam servir à sua conservação, entendido, como continuidade da vida. Em terceiro lugar, parece existir uma analogia entre o ignorar do objeto e a indiferença ao estímulo que ele possa produzir, que em ambas as situações a excitação não é produzida na interioridade do ser humano. Como perceber então essa sensibilidade, ou a sua falta, perante os estímulos exteriores ? Seremos nós, enquanto corpo, insensíveis a determinados estímulos exteriores ? Ou, pelo contrário, todos somos sensíveis, e a questão reside no grau de valorização emprestado pelo indivíduo ao estímulo vindo de fora ? Parece que a transmissão só se dá, se o grau de valorização, importância, for dado pelo indivíduo receptor aos diversos fenômenos que se apresentam no exterior. Como se ganham graus diferenciados de excitação, dos quais o indivíduo toma sentido depende de múltiplos fatores, que a psicanálise tenta responder através do estudo e investigação da relação entre corpos e seu impacto.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Bilogia e psiquismo

O registro da fome é orgânico, afirmam alguns. A meu ver, será apenas a diferença de potencial entre elementos químicos no corpo que obedece a parâmetros estabelecidos funcionais, pelo que não devemos falar em registros físicos, mas apenas, e tão só, de limites, que o aparelho psíquico, mesmo rudimentar que seja, emite sinais, como despertador para agitar o corpo na procura de suas necessidades. O aparelho psíquico, por mais rudimentar que seja, reproduz os parâmetros funcionais orgânicos, emitindo seus sinais ao corpo, irritação, para que possa movimentar-se no sentido de satisfazer suas necessidades. Existe uma valorização crescente de acordo com as necessidades, que são sinalizadas pelo psiquismo, que sempre parece traduzir-se quando estabelecida a escassez. Daqui, talvez possamos retirar a primeira lição, que é propriedade de Freud, de que tanto a escassez, como os excessos serão prejudiciais ao corpo, o que nos remete para a ideia do que possa ser suficiente para a vida, e do sentido que possamos retirar dela. Supostamente podemos falar de qualidade, quando na realidade a função parece reger-se através de valências entre a diversidade de elementos químicos que constituem um corpo, apresentando elas um patamar preestabelecido, que possa ser traduzida em estabilidade funcional, ou seja,emocional. A partir daí, o que se coloca ao indivíduo será a motricidade suficiente para que possa alcançar a realização de suas necessidades, que no caso de um recém nascido não a terá por certo. Ao movimento condicionado pela biologia, mera função, deve seguir-se o movimento dirigido ao objeto exterior, pelo que a evolução e o aprendizado dependem das sucessivas relações do indivíduo com os objetos exteriores, em que de manipulado passa um dia a manipulador. Assim, somos levados a deduzir, que depende da forma como foi o indivíduo manipulado, que pode tornar-se em sujeito manipulador com, mais ou menos, as mesmas características incorporadas daquele que o manipulou. Entre o presente, que se traduz em passado, e o futuro, o indivíduo está posicionado no aqui e agora, como forma de adaptação de suas características inatas ao mundo exterior, que inexoravelmente necessita de tempo, em que o aprendizado será precedido de movimentos oscilantes, até que possa existir uma consolidação de uma forma conseguida de estar, e manipular os objetos exteriores. A repetição como forma de estruturação e construção do movimento, apenas parece refletir uma qualidade funcional de justaposição de atos semelhantes, até ser encontrada uma forma definida de lidar com os objetos exteriores e ideias a eles associadas. É alheia à função qualquer ideia de bem e do mal, designada pelo pensamento humano, pelo que a repetição se não for interrompida, não obstante tais designações, os atos daí resultante serão mais ou menos os mesmos, ou semelhantes. A dúvida persiste ao longo dos séculos, quanto à melhor forma de interromper o movimento repetitivo, em que o melhor deve ser observado através das consequências, e não de conceitos que possam traduzir-se no contrário. De que adiante construir conceitos, se colocados em prática na formação humana eles resultam na doença física, nos transtornos psíquicos, na violação e na agressão ao semelhante ?

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Tesão e afeto

Partindo do entendimento que aquilo a que designamos por tesão será uma sensação do corpo, que todo o ser animal experimenta, em que a sua erotização traz consigo uma determinada irritabilidade que deve ser descarregada para ser dissolvida, e o corpo voltar à sua condição de funcionalidade normal, diremos que se trata de um processo primário e circunscrito a uma ordem biológica. Tratando-se de sensações, diremos que elas são despertas apenas através da relação entre corpos, mas a realidade nos faz saber, que as coisas não são bem assim, dado que nos é dado a observar a ereção do pénis, nomeadamente em crianças de tenra idade, sem a participação ativa de outros objetos. Qualquer homem sabe, por exemplo, que ao acordar de manhã é muito usual o pénis mostrar-se ereto, sem que houvesse manipulação para que tal viesse a acontecer, pelo que devemos concordar que sua causa primária provém do organismo. Certo, que essa sensação, derivada de um acúmulo de energia vital se aloja tantas vezes nos órgãos sexuais, como sendo parte excedente de determinada ordem biológica, como forma de um corpo não a perder, e que por isso deve ser estimulada. O que fica por saber ao nível biológico será como essa ordem a fabrica e quais os estímulos que provocam tais sensações de volúpia, que devemos considerar, não possuir uma ideia definida relativamente a um objeto exterior, nem aparentemente podemos saber seu objetivo, apesar de considerar ser da própria natureza animal. Dirão que o objetivo será a procriação, mas a realidade nos faz saber, que numa criança de tenra idade tal fato é irrelevante por mostrar-se incapaz de ter relações sexuais e fecundar, pelo que devemos admitir a teoria de Freud do polimorfismo na criança como algo a levar em conta. Ou seja, uma força bruta da natureza, sem objeto exterior e supostamente sem objetivo, como sensação sentida no corpo derivada da biologia, a que urge dar uma direção, ao contrário da tentativa de a castrar, sendo esta a primeira causa das neuroses, em que a possibilidade da amputação garante ao ser vivo a sua inutilidade. Saber dirigir um carro e não proibir o indivíduo de o fazer parece residir o segredo de toda a formação infantil. Afinal para que serviria aquilo que a própria natureza nos deu ? Não tem qualquer lógica amputar a própria natureza, pelo contrário a lógica tem seu caminho na condução dessas forças que nos habitam, em que o bem estar coincide com a realização de um desejo nos objetos considerados pela sociedade como adequados. A psicanálise não pode ser invenção, mas construção, derivada de processos anteriores que se apresentam inscritos na ordem biológica, e não podem ser anulados. A análise serve para isso, descobrir caminhos e atalhos para o bem estar. Será pois, na relação objetal que reside o bem ou mau estar posterior, que qualquer ser vivo possa sentir. Como fazer para que parte dessa energia bruta, tesão, que apresenta como finalidade a posse do objeto sem os distinguir, não os separando em adequados e inadequados, possa ser distribuída por uma ordem que os possa reconhecer e os aceitar. Devemos entender que os inadequados não devem receber essa energia bruta, tesão, em que a questão da proibição do incesto nos vem mostrar essa impossibilidade, a transformando em afeto. Mas levanta-se aqui uma ordem de construção estrutural posterior, em que supostamente o afeto deveria vir em primeiro lugar, em vez de uma indiferenciação da própria energia fabricada pelo corpo, que se encontra em seu estado polimorfo. Freud - Vol. XIX – (8) A DISSOLUÇÃO DO COMPLEXO DE ÉDIPO (1924) A autoridade do pai ou dos pais é introjetada no ego e aí forma o núcleo do superego, que assume a severidade do pai e perpetua a proibição deste contra o incesto, defendendo assim o ego do retorno da catexia libidinal. As tendências libidinais pertencentes ao complexo de Édipo são em parte dessexualizadas e sublimadas (coisa que provavelmente acontece com toda transformação em uma identificação) e em parte são inibidas em seu objetivo e transformadas em impulsos de afeição. Assim, nos é a dado a saber pelas palavras de Freud, que os impulsos de afeição são derivados de inibições capazes de criar uma cisão nesse movimento repetitivo e natural das forças emergentes de um corpo, pura energia.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Psicanálise - Fazer acontecer

Neurose intelectualizada

Segundo Freud, o princípio básico do aparelho psíquico tem por finalidade evitar o desprazer no corpo, ou seja, tudo aquilo que possa oferecer perigo, ou afetar o corpo, uma vez experimentado será, por norma, recusado, sendo motivo de preocupação e de atenção, mais ou menos em permanência. Sem esta ordem de organização o ser vivo não conseguiria sobreviver por muito tempo, por isso, o psiquismo por mais rudimentar que possa ser apresenta essa característica funcional biopsíquica. Assim, devemos deduzir que essa ordem funcional tem em vista somente a afetação do corpo, ou simplesmente a sua possibilidade perante a visualização dos movimentos externos relativamente a outros corpos, que ofereçam, ou julga o sujeito oferecer um perigo eminente. Porém, no plano das ideias, na intelectualidade assumida, que não oferece perigo algum em bater-se por elas, desistir delas, ou simplesmente as transformar mediante a reflexão e discussão, continua grande parte das pessoas a mover-se através desse processo primitivo e arcaico. O que as faz ficarem agarradas, estacionadas nesse patamar primitivo em termos funcionais, quando a sua evolução intelectual é tremenda nos dias de hoje, devido à evolução tecnológica à diversidade de meios de ensino e informação, como o Facebook, por exemplo, em que a participação escrita e falada atinge milhares de pessoas no planeta ? Decerto, não será na intelectualidade que podemos entender tal fenômeno, mas antes na evolução da construção formativa familiar, que o possa sustentar, embora de forma inconsciente, não permitindo ao indivíduo passar de seu estado animal para a humanização e socialização. É nos dado a perceber as ¨ feras do saber ¨, que enchem o peito com as curtidas, mas que se dão muito mal com comentários desfavoráveis às suas postagens, cuja alternativa é a defesa contra um perigo inexistente, entendido como afetação do corpo, que procuram resguardar-se através do silêncio, com reações intempestivas, ou com um filosofar descabido ao que lhe foi proposto. Se no plano das ideias, nomeadamente nas disciplinas das ciências humanas não existe qualquer perigo que o corpo seja afetado, de que tentam resguardar-se ? Da preservação de sua vida não será decerto, pelo que a explicação só a podemos encontrar na afetação de seu sentido de vida, que durante a sua evolução formativa não conseguiu ultrapassar o estado primário e rudimentar biopsíquico. Apelam ao afeto, ao amor, como quiserem, e falam em psicanálise, esquecendo seu princípio básico da não afetação do corpo que possa conduzir o indivíduo ao desprazer, sentido este, que vem determinar no fundo as relações entre os homens. No fundo esquecem a prática psicanalítica, que se rege pela tentativa da solvência dos desprazeres sentidos, pelo que somos a considerar o velho ditado: Faz o que eu digo, mas não faças o que eu faço. Por outro lado, o amor, ou afeto, é uma designação verbal associada ao princípio de satisfação e de prazer, que não é mensurável, de intensidades diferenciadas em cada pessoa, que momentaneamente pode apaziguar a sensação de desprazer, mas que de fato é incapaz de a anular. Por isso, tem-se mostrado ineficaz esse apelo, por não se tratar daquilo que é a essência da organização biopsíquica, como seja a evitação do desprazer. Esses apelos insistentes e exagerados ao amor, assim como ao divino e ao oculto, em que alguns se sentem Deus julgando os demais, será a tentativa de encontrar além, o que não conseguem enxergar aqui e agora, recusando olhar para dentro de si, e tentar perceber o que está a afetar. A culpa é sempre do outro. Mas voltemos à questão principal, o que um simples comentário versando a didática pode colocar em perigo a existência de um ser humano ? O afetado confunde o plano das ideias com o perigo que possam representar para a sua existência, mas na realidade o que nos está a dizer é bem diferente, é que pretende conservar intacto o seu poder de alienar os outros, os subjugando à sua vontade. Eis o supra sumo da intelectualidade doentia que está a levar o mundo à desgraça.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Vontade e inconsciente

Uma impossibilidade é sempre a abertura de uma brecha, em que novas oportunidades podem surgir mesmo que o sujeito não as possa observar nem perceber que elas possam existir, porque ocultas não se dão a conhecer. De inicio a aceitamos como desafio, nos rebelamos contra ela, mas de seguida podemos ficar passivos, embora a aceitando, parece existir um desejo de a qualquer momento transformar essa impossibilidade em possibilidade. Porém, não raro assistimos ao afrontamento compulsivo de tentar transformar essa impossibilidade numa possibilidade, como se estivéssemos batendo com a cabeça no muro das lamentações sem resultados práticos. Existem de fato outras possibilidades mas não as que decorrem de um impossibilidade, em que flanquear o inimigo será sempre melhor que o enfrentar quando somos mais fracos, mas que exige uma mudança de direção embora o objetivo possa ser o mesmo. Sabemos bem, que agarrados a uma forma de estar na vida, tentamos recusar outro modo de entender as coisas, relacionar com as pessoas e o mundo á nossa volta, como se fosse essa a única maneira de o fazer. De entre milhares de pessoas escolhemos uma para nos relacionar, nos apegamos como se fosse a única criatura ao cimo da terra, como Adão e Eva. Esse elo, pura energia, que designamos por afeto, ou amor, que une as pessoas, por vezes é tão grudento, que o indivíduo prefere morrer do que desprender-se de tal obsessão. Desapegado à força do ventre materno, a criança desce a este mundo desconhecido para ela, para de imediato se prender ao leite materno e ao corpo da mãe, que mais tarde não deseja perder, pelo que a mãe deve desempenhar o papel de seguir a própria natureza deixando livre a criança para começar a ter novas experiências, o que nem sempre acontece. O desapego ao ventre materno, o desamparo, provoca em simultâneo a procura do amparo, que mais tarde perante a morte só a terá através da visibilidade ilusória de algo que se encontra para além dela. O que antes era real, a mãe e o pai, já não existe mais, pelo que deverá imaginar uma outra figura que possa desempenhar o papel do amparo, e essa sensação será mais intensa, quanto mais for sentido o amparo, ou encontrar-se desamparada. Acreditamos que o amparo e o desamparo sentidos, de forma mais ou menos intensa, pouco terá de relação com a velha teoria de precisarmos uns dos outros, mas antes de não ser permitido uma dose de autonomia bastante para não necessitarmos de bengalas. Porque elas já não existem mais, a sensação de desamparo tende a evidenciar-se. É a partir desta sensação de desamparo que o indivíduo procura algo, ou alguma coisa para recuperar a sensação de amparo, e será a partir desse momento que as experiências acontecem, que podem colidir, ou não, com o princípio de satisfação e prazer. A impossibilidade de viver um grande amor devido a uma ruptura, cria a possibilidade da procura na pessoa de outro, como a tentativa de o substituir nessa missão de sentir o amparo anterior, em que percebemos a dependência relativamente a pessoas e coisas, que sem elas parece ser impossível viver. Dizemos que são pessoas frágeis e sensíveis a rupturas, a frustrações, mas nos esquecemos, que alguém nos fez frágeis, por nos tornar dependentes, negando o caminho de outras experiências de forma autônoma. A vida, em sua natureza é um constante apego \ desapego, basta reconhecer que do ventre materno a criança passa para o exterior, cuja única ligação com o corpo da mãe, é seu leite jorrado de seu corpo, em que sente o calor e o aconchego, mas de uma outra forma. Segue-se a libertação da intimidade do corpo da criança com a mãe, que retirada do peito senta-se à mesa para comer, num rumo natural até que consiga ter uma vida autônoma constituindo-se seu próprio lar. Quando interrompida esta forma natural, o adulto, embora o seja no corpo, não o será na alma, porquanto apresenta grandes dificuldades em se apresentar sozinho perante a vida, mesmo acompanhado que esteja, em que qualquer frustração o pode derrubar. A nossa formação infantil que deveria seguir o rumo da própria natureza, tende a seguir modelos artificiais urdidos pela própria sociedade, em que os conceitos de estética parecem tomar a dianteira. Entre o apego e desapego encontra-se pelo meio uma mãe em primeiro lugar, e o pai de seguida, que desempenham um papel importante na tentativa de equilíbrio dessas duas sensações, que embora possam subsistir sempre serão sentidas de forma menos intensa, através do campo das experiências adquiridas como alternativa. Sem esse caminho alternativo empurrado pelos pais para que a criança possa ser autônoma, terá grandes dificuldades em o percorrer, porque nunca lhe fora dado a conhecer, daí a resistência, por isso não o reconhece como válido, nem sabe como fazer. O perverso sabe bem o caminho alternativo, o neurótico não, em virtude de seu sistema psíquico estar invadido por duas leis distintas acerca da mesma coisa, ou assunto, ele se torna, por isso, dissimulado por medo da punição, mas transgressor quando pressente que não possa ser apanhado. No neurótico prevalece a ideia da transgressão, como desejo por realizar, mas, na maioria das vezes, realiza os desejos do outro, tornando-se num falso ativo, que damos conta de sua reclamação mas não da atividade que possa levar à realização de seus desejos. A semelhança entre perversão e neurose será a existência de dois desejos, com a diferença que na perversão lhe foi permitido transgredir em determinadas condições, que a este lhe foi sempre negado, o que nos remete ao problema da formação infantil. Devo acrescentar que não estamos objetivamente perante a problemática da repressão, mas sim da não permissão, no que se refere ao indivíduo perverso, o que parece configurar um dado novo quanto ao entendimento que devemos ter desse processo formativo, que não conduz necessariamente à repressão. Assim, o que depende da vontade de um corpo nele se encontra virgem, decerto sujeito a outras vontades que lhe são alheias, tende a incorporar como processo secundário, em que o grau de valorização depende do processo formativo, pelo que aquilo que era inconsciente se tornou em consciência (sentido) do próprio corpo. De que vontade desejamos falar ?

terça-feira, 30 de julho de 2013

Consciência e lixo tóxico

Tudo começa com a existência, em que apenas sabemos que existimos, tal como as coisas e o mundo, mesmo que não saibamos porque tal acontece. A partir desse princípio já pronto é verdade, sabe-se lá por quem, ou devido a quê, talvez o sopro divino tenha produzido tal efeito, o fato é que caímos aos trambolhões neste mundo repleto de coisas agradáveis, de muitas incertezas e perigos. A princípio somos todos seres inconscientes, sem noção, e como alguns preferem jogar com as palavras, desprovidos de consciência, embora não saibam exatamente o que ela possa ser, como se produz, ou mesmo se de fato existe. Sempre gostámos de jogar com as palavras, em que se pretende que o romantismo possa quebrar a realidade, talvez para não sofrermos os efeitos dela, que um dia inexoravelmente nos arrasta para a morte, daí nascendo a noção da imortalidade que deve estar ligada à existência de uma consciência, seja terrena ou divina. Marilena Chaui, filósofa, começa por tentar perceber o que possa ser a consciência, indo em busca do que ela não é, e que pelos vistos não possa representar, o que nos vem mostrar que será parte de alguma coisa, ou, quem sabe, de coisa alguma. Observamos a intensidade dos fenômenos físicos e psíquicos, mas apresentamos alguma dificuldade em perceber como, e porque são produzidos, pelo que só tomamos consciência de seus efeitos, dado que isso é dado ao corpo que sente e não pensa. A qualidade que lhe emprestamos através da verbalização tem em conta os efeitos sentidos, geradores de sentimentos, que são subjetivos, dado que o sentir parece depender de outros, que nos fazem de sentir de uma forma, que não de outra. Tentamos reproduzir através das palavras o investimento de energia aplicada às ações, que se traduzem por excessos, para os diferenciar do que julgamos ser a normalidade, sem que possamos de fato medir com exatidão, em que a qualidade de afetar depende muito mais de quem se deixa afetar, do que daquele que tem essa intenção. Quem se deixa afetar recebe o fluxo energético do exterior, os recolhendo em seus corpos como receptores de todo o lixo tóxico, do qual posteriormente pretende livrar-se, embora não saiba como fazê-lo, vive irritado, com manifestações por vezes agressivas, violentas, e até mesmo assassinas. Quem nos garantiu tal sentido de deixar-se afetar ? Julgamos que o ser humano estará por conta do aprendizado e da repressão que ofende a liberdade do corpo, que nos pode fazer passivos, como esponja que tudo possa absorver, que uma vez invadidos, nos deixamos invadir novamente, em que os arrufos da atividade parecem ser mais a resposta à morte, do que propriamente sentir-se ativo para seguir seu próprio caminho, só digno das almas criativas. Talvez o poder da criação exista para que a visibilidade da morte não seja sentida de forma tão intensa. Quem sabe.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Depressão, morte aparente e consciência.

Energia e movimento serve à consciência de um corpo, que deixa de existir assim que a energia deixa de poder movimentar um corpo, embora possa manter alguma energia em suas partículas, o que nos garante uma morte aparente. Partículas dissociadas de um corpo, que por diversos fatores já não conseguem conexão com os elementos que o constituem, mas serão capazes de regressar ao movimento através de outras conexões diferentes, tornando-se numa forma viva diferenciada, nos sugere a existência de uma reorganização. Na depressão damos conta da perda de algum movimento provocado por um bloqueio, sendo provável que as partículas associadas apresentem alguma dificuldade em dissociar-se para fazer ligação a outras, como forma de regressar a um movimento que possa representar para o corpo o bem estar. Por isso, podemos deduzir que o bem e o mal não existe para a organização biológica e psíquica, mas apenas o bem, ou mal estar, satisfação e insatisfação, prazer e desprazer provocado, não devido ás conexões, mas antes à forma de relação que impuseram ao corpo determinado sentido e despertou emoções. A questão da autonomia, ou a sua falta, o afeto e afetação podem conduzir as partículas de um corpo a um bloqueio, devido a uma intensidade energética, em que o problema da frustração não foi capaz de produzir um equilíbrio entre o princípio de satisfação e insatisfação, entre o prazer e o desprazer. Falamos de dualismo, quando na realidade ele só parece existir mediante a inexistência de um terceiro elemento, que seja capaz de produzir um equilíbrio entre dois pontos, pelo que a vida ativa nos leva a considerar a complexidade, a interrelação e subjetividade, num modelo flexível, que possa ser tolerado pelo sistema genético \ biológico e psíquico. Se o corpo não tiver a consciência em Si desse terceiro elemento, terá outra consciência diferente daquele que a possui.

domingo, 21 de julho de 2013

terça-feira, 9 de julho de 2013

Estímulos e processo neural

Se entendermos por qualidades sensoriais a captação de estímulos exteriores através dos cinco sentidos, podemos perceber que esses órgãos se encontram na periferia do corpo, cujos estímulos serão descodificados no cérebro, favorecendo a identificação ao meio ambiente como forma de o corpo a ele se adaptar e mover-se. Os sentidos funcionam como sensores do meio ambiente, tentando, em essência, a auto preservação da vida de um ser vivo. Podemos perceber nos sentidos uma porta de livre acesso aos estímulos exteriores, a que o cérebro e sua estrutura neural tenta decodificar e dar uma resposta, visando a preservação da própria vida de um ser vivo, pelo que devemos considerar que os estímulos são tratados interiormente. Se existir algum erro de cálculo será devido a uma decodificação neural, talvez por falta de mais informação derivada de outros estímulos associados que não foram captados pelos sentidos, o que nos garante um conhecimento limitado da coisa observada. Somos a considerar que a diversidade perceptiva pode garantir uma ideia mais aproximada da coisa real, e que a uniformidade tende a restringir o ângulo através da qual a possamos observar e perceber, e que o processo de auto afirmação é resultante da interiorização dessas duas formas de percepção, que entre si podem apresentar variáveis e variações. Se o cérebro, e sua região neural deverá ter em atenção os estímulos derivados do exterior, o primeiro passo será o respeito e consideração por tais estímulos, que deve incluir a coisa, ou pessoa que os emite, como forma de a ter em atenção. Podemos designar a captação de estímulos exteriores de consciência, mas ela não parece garantir a forma interior de tais estímulos serem organizados tal como nos são presentes, ficando sujeitos a uma ordem interna pré-estabelecida neural, que julgo processar-se através de um grau valorativo tendo em vista a preservação da vida, levando em conta a associação de estímulos. A preservação da vida e sua continuidade implica o sentido de sua própria satisfação em que o corpo tenta munir-se de tudo quanto a possa favorecer, em que a estabilidade é garantida por um bem estar, designado por agradável, e a instabilidade por um mal estar, que por isso mesmo será sentido como desagradável. Assim, o sentir será medido pelo mais ou menos agradável ou desagradável, o mesmo será afirmar, mais ou menos bem estar, ou mal estar, em determinados momentos da vida. O patológico parece depender de momentos prolongados de mal estar do corpo, e que os momentos de algum instabilidade, que têm de existir, ao serem superados faz regressar o corpo à satisfação, e por conseguinte, ao bem estar interior. A imagem e o som permitem ao cérebro interpretar uma relação a determinada distância que tenta decifrar mediante condições sugeridas de alguma agressividade ou passividade, em que os gestos e o som podem indiciar tais propósitos, mediante parâmetros estabelecidos na própria organização cerebral. O tato, o paladar e o cheiro desempenham um papel sensitivo mais intimo, em que o corpo tende a relacionar-se com outro corpo dentro de um raio de ação muito mais próximo, pelo que devem ser considerados como elementos primários fundamentais no aprendizado e no desenvolvimento da formação da criança. A fala que sucede ao som só mais tarde será associada ao gesto, à relação, como afirmação da prática gestual. O aparelho de percepção é constituído por esses órgãos dos sentidos, que leva o ser vivo a conhecer o que o rodeia, em que o conhecido apresenta diversos graus de valorização, e até mesmo se revela através da indiferença relativamente a alguns estímulos exteriores. Devemos perguntar quem, ou, o que garante determinado grau de valorização nessa fase primária da existência de um ser vivo, como no bebê, por exemplo ? Decerto não será o sujeito, que ainda está sujeito a um processo formativo, que tende a processar-se ao longo de muitos anos, como fazendo parte de um aprendizado, que de associação em associação tende a consolidar-se, pelo que devemos considerar o papel que desempenha o corpo, o cérebro e zonas neurais, como receptor, organizador de estímulos exteriores, aos quais tende a dar uma resposta tendo em vista a preservação da vida.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Ciclo de conferências de Psicanálise

Venha pulsar com a diversidade, em que o seu saber será importante.
Será que o inconsciente Freudiano é a mesma coisa que o automatismo das incorporações conscientes ?

terça-feira, 28 de maio de 2013

Consciência em Si

Como um ser vivo não poderá possuir consciência em si, sem primeiro ter vivenciado uma realidade e por ela ser estimulado, a consciência não existe para ele no plano exterior, mas apenas na sua interioridade, quando incorporada. Assim, a mera observação nos garante o ato de conhecer, o conhecimento da imagem, mas pode não garantir a consciência em si, no indivíduo, do conhecido. Ou seja, pode conhecer a forma mas nada sabe acerca de suas características interiores. São estas características interiores que servem ao estudo e pesquisa em psicanálise, pelo que não será a forma do objeto, mera proposta de identificação objetal, mas sim os elementos que a constituem que podem servir de analise, que não são as mesmas, embora semelhantes para todos os objetos. Podemos designar como consciência em si, os elementos ideativos incorporados em determinado corpo, que se constituíram em organização mental, que podem ser diversos, de onde resultará uma síntese como resposta do raciocínio, conferindo uma possibilidade de ação ao próprio corpo em suas manifestações. A consciência em si, a podemos entender como uma rede de informação, como sentida em si, que serão registradas no cérebro, proveniente de estímulos, que os percebe após seu impacto de diversas formas, que é sempre parcial , relativamente aos objetos e ao mundo que rodeia o ser vivo. Tal significa, que sem vivencia e sem estímulos não será despertada no ser vivo qualquer tipo de emoção, sendo indiferente aos acontecimentos observados por si no cotidiano. Desse modo, devemos colocar a problemática da percepção, como visão única, que pode ser restrita ou alargada referente ao mesmo assunto, objeto, ou do próprio mundo, pelo que a totalidade percebida acerca da mesma coisa será difícil de alcançar. Portanto, a mesma coisa deve ser vista por vários ângulos para se ter uma ideia aproximada de suas características, e quanto mais as conhecermos mais amplo será o material associado a ela, que entrará na dinâmica psíquica. Por isso, em vez de respostas prontas devemos fazer perguntas para exercitar o cérebro na procura de algumas características acerca das coisas por nós desconhecidas, sendo a falta de respostas motivo de interrogação, funcionando para o indivíduo como um não saber, que pode criar o desejo por mais saber. Essa consciência adquirida em si é proveniente dos estímulos aos sentidos do corpo, que uma vez estimulados emitem sinais elétricos ao cérebro, entendido como informação que é registrada algures em regiões determinadas por sua própria organização, servindo como regras no seu relacionamento posterior com o exterior. Daí, que possamos observar que a postura dos filhos será muito semelhante à sua relação com seus pais, embora possa identificar-se mais com um, do que com o outro. Assim, somos levados a considerar que as conexões entre instâncias psíquicas se farão sempre com os elementos ideativos que possam ser associados, e, que, existirá uma grande dificuldade em associar quando um, ou vários elementos ideativos, ou imagens vindas do exterior não possam ter alguma relação com o material incorporado e organizado. Neste caso, dizemos que se trata de uma dissociação, que não será mais que uma dificuldade interior em associar, pelo que as conexões neurais, neste particular, não serão ativadas, porque de fato não existe nada para ser ativado, em que algo vindo de fora tende a ser rejeitado. Porém, o corpo apresenta a particularidade de criar neurônios e suas respectivas conexões para que possa ser possível o aprendizado, como algo desejado pelo indivíduo, e que gostaria de incorporar em si, mas que terá alguma dificuldade para o fazer. Assim sendo, relativamente a esse fenómeno o corpo não possui a consciência em si do que lhe é presente, a realidade.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Milagres não acontecem

Tenho dúvidas, que possamos ajudar o outro, quando desconhecemos as bases científicas que originam as respostas do corpo, e formam os sintomas e os transtornos psíquicos. Os argumentos sucedem-se após um ato cometido, uma evidência, para o qual o ser humano tenta dar uma explicação, se posicionando para além do ato, com o desconhecimento de tudo aquilo que o possa ter provocado. Formas de aliviar a dor e o sofrimento corporal e psíquico são apenas balsámos contra a instabilidade, o mal estar, que será necessário apaziguar, mas que nada explica porque o acontecido aconteceu daquela forma sofrida, dolorosa. Para a próxima você deverá fazer desta, ou daquela maneira, diz o observador atento, sem perceber, que a interioridade de cada um é constituída de formas particulares, cuja dicas, por isso, podem não resultar, e se seguidas podem apresentar resultados bem mais desastrosos. Esta coisa da verbalização, da consciência, se desse o resultado esperado, o mundo e as pessoas estariam bem melhores, bem pelo contrário, tudo parece caminhar para a uma situação de caos, incontrolável, as estatísticas falam por si, sem que possamos visualizar no horizonte o remédio que opere o milagre. Estou a lembrar-me da carta enviada como resposta a Einstein de Freud dissertando sobre a inevitabilidade da guerra, por não estarem constituídas as condições necessárias para uma paz duradoira, em que a irreversibilidade de um processo, è devida ao que dele não consta, e que seria necessário para a evitação. O que está fora do discurso parece ser mais importante que ele próprio, o oculto, que se desconhece, ou que muitos não ligam importância, em que as questões consideradas por muitos como pormenores, se apresentam mais definidoras e fundamentais. O radical sempre foi o provocador, e os pormenores se revelam organizadores. Retirar o radicalismo ao próprio radical não será possível, sem a incorporação de algo que seja capaz de o modificar, pelo que nenhum de nós consegue retirar nada de nós, nem dos outros, mas pode oferecer algo, que uma vez aceite, possa levar à transformação. É a lei da própria natureza das coisas, da matéria, e do corpo, que seguem suas instruções sem querer saber do pensamento humano. Aqui, também, o pensamento é um derivado de atos cometidos, experiências vividas, do imaginário conseguido através dos sentidos, de algo antes organizado no corpo, que pode até não fazer sentido algum para o sujeito e para os outros. È a perfeita loucura dizem uns, apenas por não reconhecerem a resposta do corpo, por não ser compreendido sob a égide de uma organização genética \ biológica, que não carece do pensamento humana para reger-se a si própria e ter respostas. Ao continuar a renegar o corpo, daremos como respostas científicas algo que se encontra aquém ou além dela, sem de fato a tocar, em que a superficialidade das afirmações produzidas por uma determinada mentalidade construída, nos leva a ter políticas públicas em saúde mental desajustadas da realidade interior do sujeito que padece. Daí, a ser refletida na sociedade é uma questão de tempo, em que os resultados estão aí para quem os pretenda enxergar. A questão da proibição e punição nunca sairá do horizonte humano, porque necessária, mas é muito pouco, faltando uma política de prevenção, cujas bases assentam num profundo conhecimento científico das causas que despertam as manifestações corporais destruidoras, não respeitando e considerando o outro, colocando em causa a própria existência. As respostas do corpo resultam em primeiro lugar de uma relação objetal, da relação pais \ filhos, em que a verbalização ainda não apresenta um significado, até aos 12 meses de existência, em que os quadros eventuais patológicos são construídos por imagens que possam afetar a criança. Por outro lado, nos é dado a observar que a verbalização entre pais e filhos, serve apenas para vincular suas atitudes, que desde sempre foram conhecidas e sentidas pela criança. João António Fernandes Psicanalista Freudiano ANALIZZARE – Centro de Estudo e Pesquisa em Psicologia e Psicanálise

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Inconsciente biológico e psíquico

À medida que a neurociência avança em suas descobertas, vão surgindo escritos, até em revistas científicas, que apresentam alguma dificuldade em distinguir o inconsciente biológico do inconsciente psíquico, ou Freudiano. Urge fazer essa distinção para que os leitores, e os estudiosos da mente humana não sejam levados ao erro, supondo que se trata do mesmo quando de fato são coisas distintas. Quando não se distingue o que é estritamente animal, portanto, biológico do inconsciente Freudiano, a tendência será afirmar que são registrados avanços nessa matéria, quando de fato estamos na mesma. A primeira questão a saber, é que sem o inconsciente Freudiano qualquer ser vivo consegue fazer sua vida de forma natural, dado que a resposta do inconsciente biológico lhe basta para a sua sobrevivência e tentativa de preservação, como podemos observar nos animais. Autores, como Otto Fenichel, nos dizem que o arco reflexo, ou seja, uma reação a uma ação é uma forma animal e primária de estar perante a vida, mas que de fato ainda não podemos falar de mente humana. Assim parece estabelecida essa diferença entre o humano e os animais, em que estes apresentam um sistema primário de resposta, e os humanos podem possuir múltiplas respostas, que não passa exclusivamente por esse arco reflexo. Essas múltiplas respostas já não passa pela preservação da vida, mas pela incorporação de um sentido de vida, que deriva da formação infantil através da repetição e do recalque dos instintos biológicos ( Recalque primário ). Porém, urge perceber o que é um recalque primário e como ele se estabelece, porquanto não se trata de anular um instinto animal, o que levaria à morte do indivíduo, sendo imposto pela formação, que apresenta uma força maior para impor sua vontade, coexistindo ambos como instintos. Porém, todos os instintos, sejam inatos ou adquiridos são alimentados pela mesma fonte energética, o corpo, em que podem atuar em separado ou associados. Por isso, a psicanálise sinaliza instintos primários e secundários, correspondendo ao que acabei de referir. Imagens, memória, os cinco sentidos, a capacidade para a síntese, a motricidade e o aprendizado não tem nenhuma relação como o inconsciente Freudiano, cujo processo é estritamente biológico, embora possam sofrer de sua influência. A neurociência estuda o cérebro e não a mente.

terça-feira, 23 de abril de 2013

A psicanálise pergunta: Você é feliz ?

Momentos de felicidade A felicidade não existe, dizem uns. O que existe são momentos de felicidade, dizem outros. Podemos perguntar como designar os outros momentos que não são entendidos como felicidade ? Nenhum de nós ignora a existência de momentos de perturbação emocional, angustiantes, de uma tristeza profunda devido a perdas irreparáveis, ou simplesmente devido a essa possibilidade, sofrendo o sujeito por antecipação. Porém, um terceiro momento pode ser observado, em que o sujeito parece encontrar-se entre esses dois polos, entendido como inércia, ou estado de repouso, como se fosse o descanso do guerreiro, em que parece não estar aí para nada. Partindo desta terceira posição como ponto zero da excitabilidade, ou da inércia, como quisermos, pode o ponteiro deslocar-se para um, ou para outro lado, tornando o sujeito feliz ou infeliz, em que a divisão a podemos entender, muito embora ambivalente, não dualista, mas formando um triângulo como probabilidades. Em qualquer dos casos, feliz ou infeliz, damos conta de uma determinada quantidade de energia, que serve à excitabilidade, em que o bem estar, e disso temos poucas dúvidas, exige a quase ausência de energia. De salientar que a excitabilidade que serve aos momentos de felicidade servem á descarga, e os momentos de infelicidade apresentam um processo primário de retenção da energia, com seu consequente aumento desmedido. Ou seja, a produção energética que se faz sentir parece resumir-se á função, pelo que, parece evidenciar a necessidade de tratar os conflitos psíquicos para que o aumento de energia não seja de modo a provocar excessos no psíquico e biológico. Aqui, entre em ação o somático e psíquico, em que podemos perceber que o indivíduo pode ser levado à excitação através da relação de seu corpo com outro corpo, ou pode criar a excitabilidade mediante complexos ideativos confusos, ou mal resolvidos, que interferem com o biológico. Seja como for a aderência ao corpo das relações e conflitos psíquicos não deverá causar estranheza, porquanto será por ele, e devido a ele que tudo é representado, sendo a representação do que lhe possa acontecer na relação com o meio. Se assim considerarmos, podemos entender, que os momentos de felicidade quando não superam os infelizes, devido à existência de perdas e permanentes conflitos, causam no corpo uma carência, reclamando, por via disso, por afeto, que tende a garantir uma dependência objetal. Assim, devemos olhar para a problemática da felicidade, não com o olhar da possibilidade vinda, vá lá saber de onde, mas como uma probabilidade proveniente da solvência de conflitos psíquicos, que enquanto durarem os momentos de infelicidade tendem a superar os de felicidade. A razão da análise, e da psicanálise resume-se a uma pergunta: - Você é feliz ?

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Borderline

Permitam-me falar um pouco do corpo, não só Border, mas em geral, dado que os princípios são os mesmos, embora o caminho a partir daí seja trilhado de diferentes maneiras. A exigência dos pais castradores, idealistas, que pretendem afirmar-se perante a criança, a qual não tem escapatória provoca a exaltação de suas forças, vulgo instintos, daí a hipersensibilidade. No entanto a liberação total provoca, mais ou menos, os mesmos efeitos. O corpo sente e reage, e o princípio de racionalidade fica prejudicado, porquanto a resposta procede de um sistema nervoso alterado, pelo que somos levados a pensar que existe a separação do corpo e da mente, em que o Border funciona em primeiro lugar com o corpo. Significa, que estará fixado nesse primeiro estágio de seu desenvolvimento em criança, que se revela apenas como reação a uma ação exterior. Porém, toda essa formação infantil foi incorporada no corpo, funcionando como lei, pelo que, mesmo sem uma realidade adversa, o Border é levado a um mundo interior de tristeza, angústia, cujas reações apresentam a finalidade de expulsar algo estranho, que o afeta, mas que de fato se vê impotente. A meu ver, para além da medicação, a análise é fundamental. A energia quando projetada, seja qual for a direção, implica uma descarga no sistema biológico afetado por ela, que não no sistema psíquico. Porque afirmo isso ? Se o sistema nervoso periférico serve à distribuição de energia, uma vez suas vias congestionadas por determinada quantidade de energia produzida pelo corpo, este tende a forçar a sua liberação, como forma de aliviar a tensão interior. Não importa para o sistema nervoso como pode, ou o vai fazer, apenas exige que deve ser feito, sob pena de entrar em colapso, emergindo daí uma ruptura. Aqui podemos perceber a frase tantas vezes ouvida – Agir sem pensar -. De fato este processo encontra-se separado de outro mais elevado, o princípio de racionalidade. Ora é perante o colapso e a consequente ruptura, que o Border tenta cortar-se, por entender que a culpa é sua, ou acabar com a sua vida, dado que não provém dela nenhum prazer. Assim, a vida tenta acabar com a própria vida, por impossibilidade de viver.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

O ¨ isso ¨

Um corpo não fala se expressa, agitado se irrita, como caricatura de um corpo em uma outra dimensão, espelha um sentido, que não contido aflora em sua periferia sendo a irrupção de algo sentido em seu interior. A fala evoca, e encontra-se para além do sentido, a linguagem articula palavras, como manifestação de um corpo que sente e pode pensar mediante a associação de imagens, ideias e seus significados. Esse algo que é o ¨ Isso ¨, que por isso, o sujeito não consegue destrinchar, desconstruir, será apenas o signo, o simbólico reproduzido pela verbalização como isso, cuja amplitude nos deixa nas trevas. Assim, o ¨ Isso ¨ não é o inconsciente. Fale mais sobre isso ? E aí as dificuldades aumentam, e as explicações tendem a ser da mais diversa ordem, sem que o sujeito e analista percebam onde está localizada, e qual a representação do representado nessa designação ¨ Isso ¨ . O ¨ Isso ¨, talvez não seja nada disso que o sujeito e o psicanalista estejam a pensar, pelo que o isso será apenas uma manifestação verbal, pura síntese, produzida por um complexo ideativo e energético. No fundo o ¨ Isso ¨ não é linguagem mas a fala que evoca, dado que aquela só tem lugar a partir da verbalização das associações, garantida a partir da evocação de uma síntese, que possa provocar uma imaginação, que se encontra na ordem dos argumentos e tentativas de explicar um fenômeno psíquico que o próprio sujeito desconhece. Nos é dado a perceber que anteriormente á verbalização do ¨ Isso ¨, não se encontra o inconsciente, mas antes uma organização complexa associada a um quantum de energia como investimento, a que não devemos ser indiferentes. O representante do inconsciente deve encontrar-se ali, mas não é o ¨ Isso ¨, dado que suas representações se apresentam diluídas e associadas a um complexo, que possui imagens, ideias, e sentidos, constituindo uma amálgama de conteúdos, os quais deram origem à síntese. Continuamos a tentar encontrar uma agulha no palheiro, cujas certezas esbarram com tantas probabilidades, que nem dúvidas podemos ter quanto ao emaranhado de que é constituído o ¨ Isso ¨. Será necessário falar mais sobre o ¨ Isso ¨, ou apenas ser indiferente a ele, e estar a atento ao que se encontra fora dele, cuja finalidade será encontrar algum conteúdo que se encontra oculto através da evocação do ¨ Isso ¨. E mesmo assim, tantas vezes descobrimos, que afinal não era bem isso, ficando na mesma. Jorge Forbes foi feliz ao dar o título a um dos seus livros – Você quer o que deseja.

sábado, 23 de março de 2013

Fora de tudo à procura de nada

Sem limites, ou limitados ? Não me canso de referir em minhas palestras e seminários, que o respeito e consideração pelo outro, e por si próprio, é o limite exigido para que a relação com o outro seja saudável, não conflituosa, gerando dessa forma um clima de paz entre os homens. Não necessariamente temos de estar de acordo com os demais, mas devemos dar a hipótese de terem seu próprio pensamento, que não sendo convergente, servirá a uma reflexão, e mesmo que o ignoremos, pelo menos que não o julguemos por ser diferente. Cada vez mais assistimos a julgamentos, regressando à mentalidade da idade média, quando falamos em evolução. Afinal, na própria evolução, talvez seria melhor falar em transformação, cometemos o pecado mortal de cada vez mais sermos intolerante e prepotentes. Estamos sem limites ? Ou aprisionados, estamos limitados ? Numa sociedade onde dizem imperar a liberdade, associada à palavra democracia, como bem poderia algum entre nós dar-lhe outro nome qualquer, surgem vozes de autoridade desmedida exclusivistas, que colocam em causa a liberdade e a democracia, a coberto de uma suposta superioridade intelectual, religiosa, política, social e econômica. Esta trajetória seguida, de alguns anos a esta parte,conduz a uma tentativa de apropriação, não só dos meios para atingir seu fim, a superioridade de uns relativamente a outros,com o renascimento das castas, que apenas estariam adormecidas, e que agora se revelam, mas também tem o propósito de aniquilar todo e qualquer conhecimento, que alguns senhores julguem por inconveniente, ou inadequado. As estrelas do céu desceram à terra e repousam em seus ombros, o que lhes parece conferir o direito de ditar as regras do jogo. O poder tem destas coisas, com prejuízo para quem entra no jogo deles, em que a banca fica sempre a ganhar. A coberto de suas estrelas, sejam elas de político, de doutorado em alguma área do conheciemto, servem-se delas para mandar recados e exercer repressão sobre tudo, e todos, como se fossem Deus, decerto disfarçado de diabo, para vergar os outros aos seus desejos de uma ânsia desmedida de poder. Em vez de sem limites, prefiro falar em limitações de ordem formativa, em que a própria sexualidade os incomoda,talvez a sua e a dos outros, vá lá saber porquê, tendo uma vontade imensa de bitolar a sociedade. Servem-se dos cargos que ocupam para mandar recados, e ditar ordens, que não são de sua competência, mas passam a ser desde que ninguém lhes meta o dedo no nariz, porque entendem serem os representantes do bem, que possuem a missão divina de destruir o mal, exaltando as forças do instinto alheio que afirmam desejar combater. Dessa forma, são exímios em violência verbal, julgamentos e punições públicas das condutas alheias, apelando a seus valorosos guerreiros para a guerra, afirmando querer a paz, só despertam nos demais a negação e resistência, que todos sabemos não conduz o homem a lado algum, a não ser à guerra. Limitados sim, porque os relatos históricos falam por si, apenas são cegos e sedentes de sangue, proveniente de uma razão qualquer exacerbada até ao limite do insuportável, e de um idealismo fanático. A continuar assim, a história apresenta a tendência para se repetir, onde só a desgraça terá lugar. No fim das contas seus desejos supostamente de pureza levados até ao limite apresentam a tendência para dar resultados contrários aos desejados. Mas como a manada não tem limites, só nos resta esperar pelo abismo.

sexta-feira, 22 de março de 2013

quarta-feira, 20 de março de 2013

Amor e ódio – Fenômenos quânticos

A negação e afirmação, amor e ódio, que dizemos dualista, de fato é ambivalente, pelo que devemos considerar um determinado quantum de investimento de energia, mas não devemos considerar coisas diferentes, como opostos, em que o emprego da linguagem não consegue dar a ideia dos fenômenos quânticos. O que pertence a um outro corpo é a afirmação, que tantas vezes tenta negar a afirmação de um outro, que por isso, nenhum deles se nega, nem nega a própria função, mas apenas tenta afirmar-se, pelo que a energia apresenta um sentido único, tal como o universo. A negação dessa afirmação, entendida como energia única, levada a extremos pode desencadear uma explosão por colocar em causa o sentido único da força, voltando depois à mesma ordem anterior, tal como acontece com a relação entre seres humanos. Depois da tempestade vem a bonança, como se fosse um saco a encher que necessita de ser esvaziado de qual forma, por impossibilidade da existência de dois sentidos diferenciados, cujos sentidos da força são diferentes. A afirmação não suporta a negação, e o amor não consegue suportar o ódio, por isso, tal como o ser humano, o universo tende a reagir para afastar a negação de suas próprias forças, que possuem um sentido único. Se o amor, entendido como afeto, energia, tenta superar o ódio, nos é dado a perceber a afirmação como sentido único energético, em que a negação de si mesmo será o ódio como sentido, que deve ser banido. Talvez por isso a guerra e os transtornos psíquicos, nos possam dar a verdadeira dimensão de um fenômeno quântico alterado.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Consciência e matéria

• Sentido da vida e da morte ( funcional ). O que levaria um cachorro a defender-se e atacar, se não fosse o seu sentido da vida e da morte ? Podemos afirmar, que se trata da dor que provoca a agressão, que sendo dolorosa, mais ou menos insuportável, predispõe o sistema biológico e psíquico á defesa de sua própria integridade, pelo que devemos aceitar que a dor será o primeiro indício, entendido como sinal dado ao corpo, de qualquer ataque externo, ou interno. A dor também será um importante sinal de desprazer para o corpo, que por essa via, transmite as zonas periféricas que algo, ou alguma coisa o está a incomodar. Porém, devemos fazer a pergunta: - Porque essa necessidade de transmitir de sua interioridade, algo que está a acontecer na sua interioridade ? Estarão na periferia os mecanismos próprios que possam levar a sua leitura ? E se assim é, quais serão ? Mas em primeiro lugar devemos entender, que existe uma mecanismo de descarga que é processado através dos terminais nervosos, como se fosse um mecanismo funcional cujo objetivo será aliviar a dor interna de um corpo. Parece existir nesse processo uma tentativa de diluição \ repartição da dor, que por essa via se faz sentir-se em parte, ou na totalidade do corpo, pelo que devemos aceitar que a energia móvel transita entre o prazer e o desprazer, afeto \ afetação, entendido como sentido que é dado ao corpo, e a um corpo. Se os sentidos são próprios da função, então, não esperemos encontrar na matéria outra coisa, a não ser sentidos, que será a própria consciência em Si dos fenómenos relacionais. Por outro lado, tal consciência só é despertada por uma relação, que provocam os sentidos interiores da matéria, ao que ela tenta reagir. Tal visão nos conduz pelo caminho da existência de sentidos da própria matéria, como condição inata, pelo que ela própria deve ter alguma consciência de Si mesma.