Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Formação do inconsciente psíquico

Ao referir o inconsciente psíquico, parece que existe um desejo de tornar conhecido um outro inconsciente, o que não corresponde ás minhas intenções, cuja ênfase que lhe é dada, tem por finalidade admitir que a sua existência depende exclusivamente de uma relação física e química, que lhe é conferida pelo o impacto gerado entre os corpos.

O prefixo (in) indicia algo que está dentro, que se posiciona na interioridade de um corpo, que foi incorporado mediante um movimento de energia, de fora para dentro, através do qual um sentido tomou seu lugar.
Ao tomar sentido de determinado sentido, o corpo o reconhece como seu, admitindo desse modo que faz parte do corpo, pelo que não existe a necessidade de o reconhecer de novo.

O que passa a ser reconhecido como diferente será qualquer outro, que não faz parte de um determinado corpo.

Devemos perguntar, se, ao ser constituído, o inconsciente passa a fazer parte de uma dinâmica psíquica ?
Esta será uma, entre tantas dúvidas, que nos assaltam acerca da função, e organização ideativa do psiquismo, que devemos a nós mesmos uma explicação, daquilo que pode ser entendido por dinâmica psíquica.

Em primeiro lugar, um elemento por si mesmo não dará lugar a uma dinâmica, pois ele carece de outros para que tal seja possível.
Se assim entendermos, percebemos que será a diversidade, a relação e interação, que dará lugar a determinada dinâmica, e pode ser designado por sistema complexo.

Dinâmica psíquica será então uma sistematização complexa de um diversidade de elementos, a partir da qual tende a emergir uma síntese como resultante.

A evolução processa-se a partir de um elemento, que em si mesmo já é um complexo, mas que entendemos como unidade / corpo, algo inteiro, mas não completo, que depende do mundo exterior, da relação e interação com outros elementos, para que possa sobreviver.
Manter-se vivo, será assim a condição de dar e receber energia, em que depende do seu poder de adaptação, a sua própria transformação, entenda-se evolução, embora muito lenta, que pode possibilitar a mutação.
A resultante será um outro corpo, embora semelhante, que contém em si maior quantidade de elementos do original, mas que foi incorporado por algo que estaria fora dele, que passou a possuir.

O sentimento de posse é originária dessa necessidade de manter-se vivo, em que existe uma intencionalidade assumida pelo o corpo, o não deixar-se morrer, que se manifesta através dele, e o impulsiona a enxergar o exterior, cuja finalidade será obter os objetos exteriores de sua necessidade, e satisfação.

Tal processo o podemos encontrar na própria biologia, em que as uniões, cruzamentos, que são verdadeiras orgias colectivas, não são mais que relações necessárias num mundo interativo, em que a partir do dar e receber, a resultante será a criação de um corpo semelhante, mas nunca igual, que por isso mesmo será sempre diferente.

As evidencias passam despercebidas em virtude de uma transformação lenta, muito embora as relações possam dar-se a um ritmo acelerado.
Somos levados a considerar por isso, que as zonas periféricas do corpo, de contacto, sofrem a todo o momento o impacto das relações exteriores, mas cujos sentidos não são de imediato absorvidos pela sua interioridade, ou seja incorporados, existindo nessa viagem de fora para dentro, obstáculos, bloqueios e interrupções, que são responsáveis pela aceitação, rejeição, ou apenas o corpo parece mostrar-se indiferente ao que se passa à sua volta.

Notemos que o envelhecimento de um corpo parece ser devido a esse impacto com o meio exterior, em que aquilo que lhe é periférico está sujeito a uma maior degradação, como será o caso da pele.

Significa que a incorporação de alguma coisa, que pertencia ao mundo da percepção, posicionada no exterior, que seria, ou não, objeto de desejo, ou de uma necessidade instintiva, uma vez incorporado, admitido como algo que possa constituir-se em parte de um corpo, deixa, a partir desse momento de ser perceptível, ou melhor, objeto de percepção.

É o caso do inconsciente.

O inconsciente reconhece a si mesmo, como sentido incorporado, o que equivale a afirmar, que um sentido só reconhece um sentido semelhante, e que os diferentes são sinalizados como intrusos, em que a ansiedade é o produto dessa diferença.
A ansiedade é uma forma de fazer sentir ao corpo a existência de um outro corpo, ou de alguma outra forma, muito embora identificada, não possui as mesmas características de determinado sentido incorporado.

E aqui nos debatemos com o mesmo problema – Como o corpo reconhece, ou consegue captar as diferenças caracteriológicas entre as mais diversas formas ?

Através dos órgãos dos sentidos, dos sentidos incorporados e seus significados, que um dia foram incorporados.

A partir de um sentido, o corpo consegue extrair significados, proveniente de um impacto exterior com outros corpos, mas também consegue ganhar um sentido, a partir de uma forma verbalizada, que é preenchida por significados, que lhe é conferida por aquele que verbaliza.

Tantos uns, quanto os outros, podem constituir-se em sentidos, a partir de determinada percepção do mundo exterior, e da complexidade de suas relações.

Percebemos deste modo, que o ser humano está dependente de uma relação exterior, e pode ser condicionado por ela, da qual resulta um determinado sentido, que uma vez incorporado, passa a fazer parte de um corpo, que se transforma em inconsciente.

J.Laplanche – pág. 159 – Problemáticas IV ( O inconsciente e o id )

No inconsciente, dizia Freud, existem representações. E, acrescentava ele, - o que contraria frontalmente o caldeirão fervilhante -, nem mesmo há afetos no inconsciente. Nenhum afeto, pelo menos no sentido próprio, existe, certamente, o aspecto quantitativa do afeto, o ¨ quantum ¨ - mas o próprio termo afeto refere-se a uma consciência que é ¨ afetada ¨, e, precisamente no inconsciente, resta apenas o quantum sem o que é, por ele, afetado
De modo que a própria idéia de afeto diferenciado qualitativamente, como talvez toda a idéia de qualidade no inconsciente perde todo o sentido.

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