Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A procura da verdade

Quem procura a verdade com tanta insistência são apenas alguns intelectuais, que dedicam parte do seu tempo a procurar agulha em palheiro, que ao longo dos séculos ainda não conseguimos eleger aquele que a possui. Afirmar que é possuído pela verdade, é coisa dada ao demónio, dado que a luz que os possa iluminar não traz consigo a verdade, mas apenas a possibilidade de transformação de uma suposta mentira. Isso será a verdade ? Ou apenas uma forma diferenciada de perceber as coisas e o mundo ? Que verdade é essa que julgamos possuir ? A verdade é divina. Mas a verdade é demoníaca, quando a mando da verdade, cometem-se as maiores atrocidades. A verdade de hoje é a mentira de amanhã. O homem simples não quer saber de procurar a verdade, ele simplesmente a vive, o que julga ser para ele a verdade. A verdade não vem do mais saber, porque o conhecimento pode não ser a verdade que observamos, e conhecemos, nem aquela que nos dizem ser a verdade. O que o conhecimento nos traz é uma forma diferenciada de entender e perceber as coisas, julgando o ser humano tratar-se da verdade. A verdade de um povo que está de acordo em enviar para uma guerra seus filhos, será semelhante aquela, que após alguns anos de tanta dor e sofrimento, deseja acabar com ela.
A primeira verdade fora mentirosa, dado que a segunda que emergiu de uma realidade sentida na carne e na alma, se superiorizou, o que nos quer dizer, que a realidade de ontem já não é a mesma de hoje. Porém vos digo, que não existe verdade mentirosa ou verdadeira, mas antes uma realidade, que é circunstancial para a qual existem argumentos, que a transforma em verdade do sujeito. A verdade provém daquilo que se ousa chamar por consciência, que no caso visado, parece deixar muito a desejar, porque ela foi e já não é, sendo uma outra que se enraizou na mente do ser humano dada as condições que ele próprio observa. A verdade é universal afirmam alguns. Mas o que será, de onde é proveniente, do que é constituída para que saibamos que na realidade a verdade é universal ? A partir do avanço tecnológico, e das descobertas cientificas, que a todo o momento nos faz saber que a verdade está na emergência de um sentido de uma complexidade fenomenológica, como aquele que desperta os órgãos da percepção, parece existir um reajuste das próprias convicções do ser humano. A energia já é percebida como fator essencial para a vida, e como já não é possível esconder o Sol com a peneira, o poder de adaptação das pessoas as leva a considerar o mesmo que antes, arranjando em face das descobertas novos argumentos para sustentar suas idéias. Atrelam-se á ciência, porque já não capazes de a contrariar, para afirmar que os espíritos são pura energia, ou, que esta é emanada de um Deus todo poderoso, esquecendo-se porém, que o diabo, se é que existe, também depende dela. Nisto consiste o pensamento humano, que nada tem de intelectual, quando teimosamente tende a bater-se por suas crenças adquiridas na infância, dado que apenas conseguimos descortinar o poder de adaptação a novas circunstancias que são propostas a cada um de nós, mantendo-se os pressupostos iniciais. Se a ciência mantivesse as suas propostas iniciais, e outras formas de percepção não existissem, estaríamos ainda na primitividade de conceitos estabelecidos.
O que tem acontecido com a psicanálise desde que Freud a apresentou publicamente insere-se segundo a mesma perspectiva, em que a incapacidade para demonstrar a sua ineficácia, não parece ser suficiente para a derrubar, em que poucos se batem por ela, e muitos, dela se apropriam para os fins que consideram mais convenientes, metendo o demónio dentro de casa, porque não sabem viver sem ele. Por medo de uma argumentação falha de racionalidade, o que os levaria decerto á negação, que não conseguiriam provar, em que a sua intelectualidade estaria colocada em causa, melhor seguir na onda, que é uma outra forma de negação, na tentativa de imporem uma nova versão de uma verdade psicanalítica. Assim foi na era de Freud, assim é na nossa, o que nos leva a considerar que a mentalidade de hoje é a mesma de ontem, não obstante toda a evolução tecnológica e científica.
A suposta verdade, faz de um poder mental, o mentalista, o falso intelectual, que tende a seduzir os outros com aquilo que julga ser a verdade, mas que não pode provar.
Mas o mais curioso, é que o contrário também não pode ser provado, talvez porque não exista o contraditório, mas apenas o diferente que o ser humano recusa enxergar.
E eis que os filósofos descem a terreiro, ou sobem ao palco, e afirmam que eu próprio estou a bater-me por uma suposta verdade, em que a objetividade do ser animal, que não humano, e muito menos intelectual, numa tentativa de destruir o outro, já nem sequer se importa com princípios e conceitos misturando tudo, para dar a entender, que todos somos iguais. Parece que a intenção, muito embora inconsciente, é deixar as coisas tal como estão, em que a dialética tende a confundir as coisas em vez de as tentar aclarar, em que a interpretação tende a definir conceitos, segundo formas arbitrárias, tentando negar os princípios que regem a própria existência do ser vivo. Se existe em cada um de nós uma verdade, não podemos afirmar que exista uma verdade, em termos objetivos, absolutos, embora possa ser objetivada através da forma de sentir do sujeito, será perante o universo, subjetiva, embora possa ser coincidente em alguns momentos.
A esses lhes direi que me bato pela diversidade, pela probabilidade, que em si mesmo não poder ser entendida como verdade, porque ela tende a revelar-se a cada momento, sem contudo ficar agitado com a suposta verdade dos outros. Não estou incomodado com a descoberta da verdade, mas antes empenhado em entender e perceber a complexidade dos fenómenos mentais, pelo que não puxo a carroça para um lado, quando o caminho me pode conduzir a um outro lugar.
A diferença entre nós não se encontra na verdade, nem numa vontade de poder que nos transmita a sensação de possuir a verdade, por isso reina a tolerância e a liberdade de ser semelhante aos demais, mas não igual, em que os considero com suas diferenças.
È a intolerância que leva o ser humano a bater-se pela sua realidade interior, pelo seu Eu – dourado – como supra sumo de uma criação divina, que não respeita as leis de Deus, mas a ele parece dever todo o poder. É essa diferença entre nós, em que na verdade, não sei onde se encontra a verdade, o que pressupõe que ela possa existir, mas a minha pequenez não permite afirmar que ali se encontra a verdade, pelo que todos, sem excepção, somos crentes, mesmo que neguemos a suposta verdade de um outro.
Chegámos ao ponto crucial para que nos possamos entender. A psicanálise tem sido julgada a partir de uma crença, que possui na objetividade, na unidade / referencia o seu suporte, como o marco através do qual o ser humano tende reger a sua forma de estar na vida. Ora, são esses conceitos, que não princípios genéticos / biológicos, ou deles derivados, que uma vez incorporados desde há muitos séculos atrás, são transmitidos através de gerações, que nenhum ser humano deseja colocar em causa, dado que eles se constituíram na sua lei interior psíquica.
È neste ponto, que reside a primeira grande diferença entre os seres humanos, dado que alguns são filhos de pais, que não pensam como outros, pelo que a sua evolução na forma de estar na vida é diferenciada dos demais.
Ou seja, a verdade de uns, não será a verdade de outros.
Por outro lado ao existir aquilo que julgamos ser a mentira, nos indica de forma clara, que existem duas verdades, pelo menos as pessoas assim julgam, pelo que derrotar a verdade do outro, deve corresponder a um desejo interior do indivíduo que assim pensa.
Não será isto a demonstração de uma hostilidade exacerbada contra a suposta verdade de um outro ? Mas a questão essencial, é tentar entender, e perceber a partir de quê, e a devido a quê, que tende a emergir essa forma exacerbada hostil, uma vez que não é conferida á vontade humana, de forma racionalizada, exterminar a hostilidade, porque pertença da própria função do organismo. Se assim parece ser, não nos custa admitir, que será exatamente devido á ausência de um princípio de racionalidade na formação infantil, açoitando o ¨ anima ¨, o animal, que as pessoas desejam socializar, que ele reage de forma animalesca.
Se essa energia universal é emergente de Deus, e se essa é a verdade, o simples mortal pode ser a vontade de Deus, como efeito da sua atitude criadora, mas não será possuído de outra verdade, senão daquela que lhe deu origem, pelo que a sua vontade será pura energia emanada de um poder universal.
Podemos deste modo entender a frase tantas vezes ouvida, que todos somos filhos de Deus, que não depende da nossa vontade ser, ou não ser, incorporado de uma verdade, que a outro pertence, Deus, acerca do qual muito pouco sabemos, que por isso mesmo reza o terço, que seja feita a sua vontade assim na terra como no céu.
Crer nessa vontade divina, nessa energia, que os homens da ciência pretendem desvendar, apenas será a vontade de entrar no mundo do céu, cuja intenção não deve passar, por transformar essa verdade, numa outra verdade qualquer, que podemos julgar tratar-se da mentira. Talvez seja este encontro com Deus, que a ciência nos propõem, que sem medo, desejamos nos encontrar com ele. Fervorosos ateus que despertam paixões, que de forma disfarçada, são tão, ou mais crentes, do que aqueles que dizem acreditar em Deus, que em vez de estarem do mesmo lado, entretêm-se a esgrimir suas armas, cuja finalidade é sempre a mesma, a descoberta do grande nada.
Talvez porque a verdade esteja em nós, mas não sabemos o que ela é, que uma vez agitados e confusos, somos levados a lutar por aquilo que nos aflige, e nos parece faltar.
O que é a verdade ?
Não sei o que ela é, porque se constitui, e devido a quê tal será possível, mas sei que sou crente nos valores da vida, que tem uma relação com o meu sentido de vida, que não é forçoso ser diferenciado de outro ser humano qualquer, mas que em muitas coisas o será decerto.
O dado objetivo que me traz vivo é o sentido de preservação e de liberdade de movimentos, que é estritamente uma condição animal, que coexistindo com um outro sentido, desta feita adquirido através da formação infantil, o respeito e consideração pelo o semelhante, tende a garantir a valorização de um sentido, que julgo ser divino.

Justamente parece ser devido a essa capacidade de pensar, que será a verdade que nos é presente através do pensamento, que emerge uma sensação de sermos possuídos por ela.

Mas se a verdade é puramente existencial, ela não existe para além das próprias coisas, em que só o sentido parece despertar no ser humano o pensamento.

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