Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Onde mora a consciência ?

Treze anos, entrada da adolescência, pais divorciados, vive com a mãe, que segundo ele pega no seu pé, dizendo o que deve, ou não fazer a toda a hora.
A mãe ansiosa e com medo, passa a ansiedade e o medo ao filho.
Preocupada com os estudos toma posições rígidas, xinga, não admite notas menos boas.
Sempre vigilante por medo do filho trilhar caminhos impróprios, reclama por tudo.
O filho criou a ansiedade por não corresponder ás suas expectativas, temendo a cada passo o fracasso, que o faz temer as provas que tem de prestar na escola.
Resultado, a sua prestação é fraca.
Eu compreendo a matéria, mas no exato momento da prestação de provas, fico nervoso, dá um branco, e parece que todo o meu conhecimento desaparece como por encanto.
Aquilo que mais temo acontece.
No inicio do ano escolar não ligo muito á matéria, mas quando vem as provas e as notas fico aflito, porque não quero decepcionar a minha mãe.
Acho que gosto da vida fácil, diz ele.
Onde mora a consciência, se na realidade você está a fazer tudo para que aconteça o que não deseja ?
Porque não fecha essa ferida ?

Um ser consciente por instantes.

Tenho consciência do que faço, cujas consequências não desejo.
Sei o que devo fazer para que tal não aconteça.
Mas não consigo deixar de fazer o contrário, o que me conduz ao tormento.

Enfim estou consciente de tudo que me acontece, mas algo me impede de fazer aquilo, que supostamente me faria feliz.
Não sei de mais nada, e sinto-me confuso.
A realidade é que sinto a felicidade durante um período, e a infelicidade vem logo de seguida, como algo que é inevitável, mas que não desejaria que acontecesse.

As palavras rolam como as cerejas, num estranho labirinto que se estreita até acabar na visibilidade de uma atitude não desejada, não causando qualquer estranheza quando aos olhos dos outros se apresentam como satisfatórias.
Apenas desejos que se encontram na esquina da vida, que uns não desejam o que parece satisfazer outros.
Não se trata do contrário, mas apenas do diferente, que coexistem lado a lado, que uns tentam, expurgar, exterminar, para que a vida seja toda ela pretensamente cor de rosa..
Não pensem que esta é a história de um ¨ maricon ¨ ou de um ¨ veadão ¨, mas apenas a história de muitos seres humanos que desejam viver, e sentem que aos poucos estão a morrer, pressentindo a morte, porque algo, ou alguém os impede de viver.
Onde estás consciência, que não me deixas ser consciente a tempo inteiro ?
Talvez a luta entre o ser e o estar, que se traduz na fragmentação, que não na continuidade, estabelecendo por isso a separação entre o ser que tem desejos, e um estar que o incomoda.

J. Laplanche – pág. 125 – Problemáticas IV

A consciência jamais foi considerada por Freud a não ser como um campo, uma aparelho de atenção, ou seja, um dispositivo complexo que permita fazer voltar ao nível da percepção, através de conexões muito refinadas, o que tinha desaparecido da sua atualidade.

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