Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Amarre o seu amor em três dias

Lembro-me deste anúncio de jornal, quando alguém, muito embora dissertando sobre temas de psicanálise, fala em amarragem. O sentido que está no inconsciente salta fugaz para a fogueira da realidade, em que as palavras malditas, e não mal ditas, transporta consigo um demônio, que parece impedir o meu amor de estar comigo, como se alguém possa roubar, aquele que aqui não deseja estar. A bolinha de cristal bem no centro da mesa, que também pode ser o centro da neurose, ou da psicose, ou de outro transtorno qualquer, nos confere a sensação do além, que para além está uma figura, que vai fazer com que o meu amor / objeto de consumo, de meus desejos, não seja perdido no mar revolto de uma sociedade em constante transformação. Engolido pelas tramas de uma sociedade travestida de virtudes, que afinal parece produzir a cada passo frustrações, e traumas, nos vemos no mar das lamentações, que faz do ser humano o eterno reclamante, que chora agarrado ás calças do pai, cuja intenção é obter o chocolate, que lhe faz parecer, que sua vida é um eterno derrame de um infindável pote de mel. Chego a pensar se aquele, que tem a bolinha de cristal não sofre do mesmo transtorno, que aquele outro, que o procura só para olhar para ela, como o crente, que espera sentado, colocando toda a sua fé na existência do milagre das rosas, mas não em si próprio, dado já não ter forças para levantar-se, e andar.
Durante tanto tempo de espera, nenhum de nós pode saber o que pode cair no seu regaço, ou, se passou uma vida inteira á espera de nada, que uma vez descrente aceita tudo quanto lhe queiram oferecer, porque uma migalha será sempre melhor que morrer á fome. Aquele que tem fé no outro, porque lhe falta a si mesmo, embora padecendo, sujeita-se a ser cliente de um eterno mal estar, cujo bem, parece morar fora de portas, recusando-se a sair perto da lareira, por ter a sensação que pode sucumbir aos ares de uma primavera deslumbrante, numa combinação de cores e luz, que o parece cegar. Meu Deus, porque vejo tudo negro ? Meu filho, como pode enxergar, se teima em ficar com os olhos fechados ?
Meu Deus, eu arregalo bem os olhos, mas não consigo perceber qual o caminho que devo seguir ? Deixa-te guiar pela tua fé, e não deixes que alguém pegue tua mão para te levar por um caminho, que não conheces. Afinal, acompanhado tens a sensação que não tens medo, no entanto desconheces do mesmo modo se esse caminho pode trazer de volta a sensação de bem estar, como o cego, que pela mão do outro tem a sensação de estar a salvo de um atropelamento, deixa-se guiar convicto das boas intenções do acompanhante.

Mas meu filho, de boas intenções está o inferno cheio.

A sociedade dos homens é bem parecida com a do leão, que devora tudo quando está com fome, na ânsia de saciar as suas necessidades, mais parecendo uma máquina trituradora de um açougue qualquer, que deixa a carne em mil pedaços, para depois a amassarmos, e fazer bolinhas com ela.
A psicanálise nos fala de energia dirigida, em que o investimento de uma certa quantidade de energia tende a promover a ligação do sujeito a determinada imagem, ou idéia, e que uma vez retirado esse investimento deixa de existir tal ligação.
O que podemos perceber em psicanálise é esse estar, e não estar ligado, como duas possibilidades, que não pode ser determinado como coisa benéfica, ou prejudicial, dado que, estar ligado pode ser um sinônimo de mal estar, e o não estar ligado, pode corresponder á satisfação.
Pelo meio só podemos encontrar movimentos, mais ou menos agitados, ou tranqüilos, de um ser humano em permanente transformação, ou em vias disso, e só podemos falar de indecisão, quando se deixa ficar, mesmo que esse estar possa provocar seu mal estar.
Esta atitude é inconsciente, em que nos parece transmitir a sensação de não saber escolher o caminho, devido exatamente a essa ¨ amarragem ¨ a que alguns autores se referem, como sendo a tábua de salvação para as aflições do indivíduo.
Quando Freud desenvolve esse tema, nos quer dizer, que para além de todos outros aspectos, que possam ser, ou estar associados, existem duas condições fundamentais, e primárias, que consolida a ligação do sujeito com as pessoas e o mundo á sua volta – O afeto, e a quantidade de energia investida nas coisas exteriores, que por elas o sujeito tende a nutrir algum afeto, o que implica de imediato um investimento de energia.
Este é o núcleo da vida, e não da neurose, psicose, ou de outro transtorno qualquer.
Você tem que estar amarrado a um centro de decisão para que possa decidir. Quem disse isso ? Decerto os neuróticos. Não decidir, também é uma forma diferenciada de exercer o poder de decisão, que cada um de nós possui de forma natural. Tal decisão, ou indecisão, tem em vista o sentido da vida, exceto quando o vício da vida já morreu, que neste caso só nos resta esperar pela morte, sentado, tentando adivinhar, quando passa por ali o carro funerário, esperando que alguém nos vista a roupa de domingo, como se fossemos para um casamento.
O corpo não precisa do pensamento para agir e reagir, e isso está estudado e investigado, que pertence á Biologia, que não passa pela definição do inconsciente Freudiano, que se encontra para além do biológico, mas cujo sentido dele é derivado, e por isso devemos ter em atenção, cuja finalidade será tentar entender qual o caminho que um corpo tende a trilhar, quando sente estar, ou julga vir a estar afetado.
Presunçosos seremos, e por isso mesmo convencidos, que podemos alterar uma função genética / biológica, introduzindo uma outra funcionalidade qualquer, que possa destruir o animal que existe em cada um de nós, o substituindo por um humanóide, mais consentâneo com o estudo da robótica, do que propriamente com as ciências da natureza, e da psicologia humana.
É isso mesmo que Freud nos diz, quando nos dá conta da impossibilidade de eliminar a força emergente dos instintos de um animal, que um dia pretende ser homem, e humano.
Mas não só ficou pela constatação, nem pela revolta da sua ignorância, face a algo que desconhecia, e muito menos inventou uma desculpa, em que os argumentos falhos será sempre bem pior, que a própria ignorância, dado que a pessoa continua a fazer o mesmo, apesar dos resultados não serem motivo de satisfação.
Nesse caminho solitário descobriu, que embora o ser humano não seja dono dos seus instintos, os poderá conduzir num determinado sentido, desde que seja autônomo, e não se deixe conduzir como se fosse um ceguinho á espera de alguém para atravessar a rua.
Mas que fazer para fugir do trauma da psicose e da neurose ? Parece ser em essência a questão que se coloca nas atitudes psicológicas ¨pós modernidade¨, que bem vistas as coisas parece ser um tema bem velhinho, com alguns séculos de existência, cuja solução parece merecer a cada instante a oposição, de quem a devia defender.

Por que será ?

Que responda quem souber.

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