Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A lei do pai

A nossa amiga Kénia, futura psicóloga e psicanalista, observadora e interessada em mais saber, me questionou acerca do que poderia entender por lei do pai, dado tratar-se de um termo muito utilizado por vários autores, mas cuja definição parece ficar por conta da interpretação de cada um.
Dizer o que eu penso por lei do pai, não implica necessariamente que ela exista, segundo a visão que tenho do que é, ou pode ser a relação familiar, e mesmo que ela seja percebida pelos os demais, tal como a entendo. A prova, a podemos encontrar na diversidade cultural do universo, em que damos conta ainda hoje da prática do incesto, por exemplo, admitida em algumas comunidades como coisa natural, desde há muito banida da maioria das sociedades. Por isso, e antes de tudo, somos colocados perante a diversidade cultural, que no fundo podemos perceber nisso os vários andamentos de um percurso de vida humana, que corresponde ás diferentes formas de estar na vida, e ao entendimento do que ela deve ser. A questão que coloco de seguida, é se na realidade, como estudioso das coisas da mente eu deva possuir um modelo próprio, do que possa ser entendido por lei do pai.
Faço esta pergunta a mim mesmo, dado que a nenhum de nós deve ser pedido para opinar, e meter a colher na panela alheia, em assuntos tão delicados como o será decerto as diferenças culturais. Tenho esse cuidado, dado que o julgamento dos homens em relação a aspectos culturais, só tem conduzido os homens á guerra, e á sua própria destruição.
É este deve ser, que uma vez verbalizado funciona como uma ordem dada a mente, que aquilo que deve ser, é forçoso que o seja, de cujas palavras podemos deduzir uma intencionalidade, que deve ser cumprida. Pois bem, entendo, que não tenho direito algum de impor a quem quer que seja a minha maneira de estar na vida, e muito menos julgar que os outros estão errados, e eu estou certo. Perante tais afirmações sobem ao palco, todos aqueles que necessitam de referências absolutas, e só desse modo parecem entender o que é lei, discordando daquilo que afirmei anteriormente. Para esses afirmo que está incorporada em mim a lei do pai, do meu pai, que me semeou, e fez crescer segundo uma visão particular, do que ele entendia por estar, e relacionar-se com os membros da sua família. Nenhum de nós pretende falar da lei da mãe, que nos tempos que correm parece substituir a todo o vapor a lei do pai, ganhando uma importância que há um século não possuía.
Quando Freud pariu a psicanálise a predominância masculina era evidente no seio familiar, mas desde os anos sessenta que essa predominância vem sendo colocada em causa através dos movimentos femininos, que exigem para si a liberdade de expressão, e o comando de suas próprias vidas, o que vem alterar as formas ideológicas anteriores, segundo uma perspectiva feminina.
Certo ou errado ? Quem disse, que cabe ao estudioso e investigador julgar as mudanças culturais ?
Quem teve essa idéia absurda, que a psicologia humana deve bater-se pela consolidação dos processos culturais, e costumes adquiridos ?
Se a cura só pode ser promovida pelo o afeto, como sujeitar um indivíduo á análise, tentando o recalque daquilo que o afeta ?
O analista não é pai daquele que padece, e para ouvir o que seu pai sempre disse, ainda por cima pagando por um serviço prestado, não valeria a pena recorrer aos seus serviços. Não significa, contudo, que o analista esteja a colocar em causa a lei do pai, daquele pai pelo menos, mas antes a relação entre pai e filho, que se tornou doentia, e faz sofrer o indivíduo. Quem tem razão ? Pai ou filho ? Que interesse tem isso para a amálise ?
Nenhuma. Para além de todos os acontecimentos em sua vida, quem tem de dar conta de si, é aquele que padece, tentando encontrar uma saída, que podemos entender como adaptação a um novo modelo de vida desejado.
Ao falar da lei do pai, vem logo á mente a palavra autoridade. Mas como conciliar essa autoridade do pai, que cada vez mais, parece perder força, face á autonomia da mulher ? Falamos da autoridade do pai, da mãe, do policial, do Estado, do governo, e das instituições públicas, que faz saber a existência de um poder, ao qual devemos obediência. Pois bem, a meu ver, quando refiro a lei do pai, não tem nenhuma relação com essa autoridade, ou se o quisermos, ela está relacionada com uma autoridade consentida, em que deve imperar o respeito e consideração mútua.
É a partir desta regra, respeito e consideração, que podemos alcançar uma relação afetiva entre os membros da família.

Não é por acaso, tal como Freud afirmou, que a psicanálise, é em essência uma cura pelo amor.

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