Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

terça-feira, 29 de março de 2011

Transcendência / Ontologia

O homem não cabe em si de contente, exterioriza, chegando por vezes ao êxtase, a uma euforia sem limites.
A questão de grau parece ser evidente, as diversas intensidades com que o ser humano sente as mesmas coisas são provenientes de uma forma de sentir a que está associada uma certa quantidade de energia investida.
Esse grau de importância, que o indivíduo empresta ás coisas é adquirida mediante a relação com os objetos, e o mundo envolvente, que são imagens e idéias incorporadas a partir de uma tomada de sentido.
O mundo consciente é o mundo exterior dos objetos, das cores, do movimento, das imagens, daquilo que pode ser conhecido e reconhecido, do observado e observável.
Este será o aspecto funcional ontológico proveniente de uma relação de um corpo com o meio que o rodeia.
Este é o mundo da transcendência psicanalítica, em que transcender significa saltar para fora, sair da órbita, colocando-se na periferia de uma outra qualquer, em que percebemos zonas de contato, que se tocam, relacionam, mas não se confundem, nem se fundem.
Transcendência para a psicanálise não pode ser entendido como ascendência, mas apenas desejo de expansão derivada de uma necessidade sentida pelo o corpo.
Transcender no sentido de ultrapassar suas próprias limitações, que se não for vivenciada poderá conduzir o ser humano á sua própria morte prematura, ou, o que é mais usual, á submissão de um poder alheio.
A interpretação filosófica fica assim prejudicada quando fala de superioridade do ser humano, elevação, ser superior a outra coisa, ou aos outros, que para a psicanálise são conceitos, que podem conduzir o sujeito á patologia.
Ascendência será caracterizada pelo o ato criador de um antepassado, como transmissor da vida, e do próprio sentido de vida, que é dada ao indivíduo através da transferência de uma certa forma de estar na vida do progenitor.
No entanto a interpretação filosófica apresenta outros motivos, ou seja, significados para a mesma palavra mediante uma diversidade de contextos, que tanto pode ser entendida como elevação, superioridade, predominância, como movimento dirigido para cima, como a festa católica comemorativa da subida de Cristo ao céu.
A nossa cultura cristã enraizada, não só é observada ao nível dos costumes, e dos rituais, como também se faz representar por um vocabulário rico de significados, derivados de um poder divino, com implicações importantes na verbalização.
Conforme o grau de importância que o sujeito lhe confere, o poder de interpretação fica condicionado, que tende a revelar-se através da interpretação, e da verbalização.
Nós somos a imanência dessa cultura cristã, ou seja, o fruto, que se traduz na forma de pensar e agir, embora separados de Deus, dos anjos, do céu e do inferno, que se posicionam num plano superior a nós mesmos.
O que nos habita é a cultura, o que nos transcende é o divino, porém, sem condição alguma de o alcançar, torna-se fantasioso, irrealista, e funciona como idealismo a ser perseguido, em que a neurose obsessiva, derivada da formação familiar impulsiona o indivíduo a procurar no céu, o que parece não encontrar na terra.
O que ele não encontra na terra, que procura no céu ?
Talvez o afeto e a proteção.
Num mundo, que dele emana o divino, que se encontra por toda a parte, onipresente, será a perfeita imanência em que acreditamos, que não pode ser tocada, dado transcender a capacidade humana de a habitar, embora sejamos visitados por anjos, santos, e profetas.
O desejar fazer parte desse mundo divino, parece ter uma relação intima com uma necessidade de proteção, daí a analogia que alguns autores fazem quando afirmam que Deus é mulher.
Onipresente e onipotência, revelam uma presença constante, e um poder que tudo pode, uma pressão constante, que de acordo com a intensidade sentida, pode ser entendido como um poder esmagador e punitivo, cuja falta de liberdade individual, apresenta como alternativa a entrega a um outro, cuja finalidade será alcançar a paz interior, que de outro modo seria impossível dadas as condições de repressão a que o indivíduo foi sujeito.
Nasce dessa forma de entender a relação, a hierarquia, que sendo sentida como algo emergente, emanado de um poder divino, onipotente, o indivíduo a ela se sujeita.

Marilena Chauí – a pág. 261 do seu livro – convite á filosofia- afirma o seguinte :
- Vimos que, pela lei divina, é instituída a ordem do mundo natural e humano.
- Vimos também que o conhecimento dessa lei tende a tornar-se um conhecimento especial, seja porque somente alguns são escolhidos para conhece-la, seja porque o texto da lei é incompreensível e exige pessoas capazes de fazer a interpretação (profetas e videntes), seja ainda porque a própria interpretação é obscura e exige novas interpretações.
- Magos, astrólogos, videntes, profetas, xamã, sacerdotes e pajés possuem saberes e poderes especiais.
- Sua função é trazer o sagrado para o grupo e aí conservá-lo. Pouco a pouco, porém, formam um grupo separado, uma classe social, com exigências e poderes próprios, privam a comunidade da presença direta do sagrado e distorcem a função originária que possuíam, transformando-a em domínio e poder sobre a comunidade.
A religião, como já observamos, realiza o encantamento do mundo, explicando-o pelo maravilhoso e misterioso.

sábado, 26 de março de 2011

O devir eterno

Falarmos do ciclo da vida como função implica uma sistematização, um devir eterno, repetitivo, mecanicista, sem que exista nesse movimento, ou pelo menos, nós humanos não conseguimos enxergar qualquer tipo de alteração, como se fosse uma máquina programada num só sentido.
Esse movimento da vida só tem um sentido, a preservação da própria vida, procurando através do meio aquilo que a possa servir e satisfazer, cujo princípio designamos por princípio de satisfação.
No entanto, tal princípio é apenas uma possibilidade, que o corpo procura de forma instintiva, como forma de auto satisfação, em que existem probabilidades que tal venha a acontecer.
Pârmenides ao afirmar que ¨ O ser é e não pode não ser. Que o não ser não é e não pode ser de modo algum¨, parece existir para ele a imutabilidade de um sistema universal, regido por uma energia cósmica, que proporciona o ciclo da vida.
Deste conteúdo ideativo, tentam retirar alguns filósofos a conclusão, que tudo permanece como está, ou como é, e que a mudança é uma ilusão.
A mesma questão vamos encontrar quando falamos de consciência, do ser consciente, em que o ser humano é consciente, e deixa de ser, mesmo em relação ao mesmo assunto, segundo as opiniões de alguns filósofos.
Desde tenra idade o ser humano tem consciência que não deve matar, mas depende das circunstâncias, e de muitos outros fatores de formação, o fazer, ou não, em que aquele que mata, torna-se incapaz de produzir o ato, sem levar em conta o afeto, e a afetação.
Este é, e deixa de ser, não o podemos encontrar numa forma sistematizada, mecanicista, funcional, que apenas é dada aos princípios através da qual se rege a matéria, esses sim, imutáveis.
O movimento será apenas a forma visível dessa motilidade.
Desse modo, nos é dado a observar que não são as coisas que se tornam imutáveis, mas os princípios que as regem, cujas alterações encontram-se para além de uma determinada função.
De outro modo, não existiria liberdade na relação, o que terminaria num ciclo fechado, incorruptível, que não teria condição alguma em sobreviver.
Assim não me parece, que possamos extrair das palavras do filósofo tal interpretação, em que apenas somos levados a interpretar de acordo com os nossos sentidos, não percebendo o que pode ser entendido por vida, e um sentido emergente, que carece da relação para a sustentar.
Os princípios porque se regem a matéria são imutáveis, mas as coisas tendem á transformação de forma mais ou menos constante.
Esse devir eterno, entendido como infinito é promovido á custa do finito de um determinado estado, como provocador de iniciação de um outro que lhe sucede, em que podemos perceber em tal movimento, o repetitivo e infinito.
Se assim entendermos, não podemos falar de uma coisa, ou fenómeno, tendo em conta apenas uma visão parcial, dado que as partes, sejam quais forem tendem a estar relacionadas, e que sem essa ação / interação, as coisas não poderiam existir, e os fenómenos seriam inexistentes.
Heráclito tinha razão ao afirmar que nós nunca nos banhamos na mesma água de um rio, mas Parmênides tinha lá suas razões para afirmar que o ser que é, não pode deixar de não ser, dado que seria a sua própria inexistência, que não apresenta condição alguma de ser observada, nem observável.
Heráclito, porém, com a sua feliz frase, nos dá a saber a teoria de um movimento imutável e de um sentido dirigido, a água que corre, que uma vez brotando de uma nascente, fonte, tende a tomar uma determinada direção, gerando o movimento, e que o corpo ao ser envolvido tende a transformar-se quanto á sua forma.
Pedra mole em pedra dura tanto dá até que fura.
Podemos então entender, que a transformação, não será mais que a própria degradação das condições anteriores existentes.
As possibilidades derivadas do pensamento humano, debate-se com a probabilidade de ser exequível, ou com a impossibilidade, tantas vezes temporária, de ser implantado.
Sem preparação do terreno, a germinação pode dar-se, mas o vigor será débil, o crescimento lento, preguiçoso, e os frutos tendem a escassear.
Posicionados no campo das probabilidades, não pode haver exigência, mas apenas, e tão só, a preparação do terreno para lançar a semente á terra, provocando as condições para que a vida possa vingar.
Podemos entender como probabilidade, um conjunto de fatores, que relacionados, possam contribuir para a funcionalidade de um sistema, em que todos eles contribuem para a realização do que é proposto.
Tal proposta a vamos encontrar na natureza, sem que exista a verbalização, virtudes, ou defeitos, o bem e o mal, pura invenção humana, em que o fator compatibilidade pode promover a associação, e a incompatibilidade o bloqueio, ou até mesmo a explosão.
Parece existir neste caso, a separação natural de elementos, e a sua combinação nas devidas proporções, que tende a processar-se num mundo de valências, exigência de um poder abstrato, que se faz sentir na matéria.
Se o efeito multiplicador nos garante o infinito, a divisão o proporciona do mesmo modo, em que a valência não se esgota, apenas será perceptível, ou não, para o ser humano.
A quantidade de energia empregue numa determinada tarefa, potencializa uma força, mas ela é incapaz de alterar o seu aspecto valorativo, apenas o reclama, como característica inscrita na matéria, em que só a associação permite um ganho de resistência contra a erosão, a degradação.
A preservação desperta a resistência de um corpo contra a sua própria degradação, cujas reações podem ser da mais diversa ordem, assim como o movimento interior impulsiona o corpo a procurar no exterior aquilo que o possa alimentar, e manter vivo.
A reação contra as necessidade e desejos, que se encontram por realizar provoca um impulso, que faz movimentar o corpo, em que nos é dado a perceber uma forma de resistir á própria morte.
Podemos então perceber, que o sentido de morte não se faz anunciar, ele faz parte do próprio corpo, como sinalizador de uma impossibilidade sentida, que emerge da sua condição de repouso por necessidades sentidas, ou desejos por realizar.
A conclusão parece ser óbvia, os sistemas genético / biológico, e psíquico, estão
organizados através de valências, sem idéia nenhuma acerca de suas necessidades, e desejos, que só o pensamento humano pode dar.
Fazemos as coisas em função do que sentimos, como forma de o realizar, para sentirmos, que aquilo que sentimos, tem uma correspondência exterior, ou seja, que nos possa alimentar.

.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Tempos de mudança

Continuamos a insistir, e a teorizar acerca daquilo que deve ser, e não é, ás voltas com uma organização social e política que não existe, desejando uma ética e moral que se mostra ausente, constatando o que qualquer ser humano enxerga.
A isso alguns chamam de ciência.
A repetição das mesmas referências ideológicas, inventando nomes para dar a idéia que se trata de coisas novas, quando apenas veste-se o velho com outra roupagem, cuja regeneração encontra-se no plano da educação e formação, que não na consciência.
Possuir consciência daquilo que não se toma consciência, ou seja, sentido, é verbalizar o que deve ser, mas não é, nem pode vir a ser, por não ser sentido.
O impasse de uma evolução apresenta por norma este cenário, em que se procura por algo diferenciado, em que o sujeito bate-se com uma resistência incorporada, como referência ideológica psíquica, que se tornou sistemática, sistémica, por isso mesmo repetitiva.
A resultante será procurar no que existe, algo que não possui, andando ás voltas, invadindo outras áreas do saber, na tentativa de procurar uma saída para o caos.
Falar em inversão é fácil numa sociedade de invertidos, entenda-se, submissos, passivos e dependentes, porque desse sentimento de impotência o sujeito tem consciência, em que a comunicação por si só parece ser incapaz de separar o poder, das questões éticas, políticas e sociais.
Para inverter é necessário, antes de reverter, suster um movimento repetitivo de um ideal instalado, que se pretende alcançar, cuja pausa pode proporcionar a tranquilidade suficiente para a reflexão.
Pegar no social, sem humanizar é tempo perdido.
Tentar humanizar sem educar e formar é construir uma ilusão.
Resultado o que enxergamos como evolução é simplesmente fruto de uma pressão, em que um dos lados tende a ceder um pouco para que possa prosseguir nas suas intenções, sem grandes solavancos emocionais.
Será antes o alívio de um sintoma psicótico perante a avalanche de impossibilidade de um meio social hostil, explosivo, mas não se trata propriamente de uma inversão, mas antes de uma falsa impressão de mudança de mentalidades.
Por isso retorna ao que sempre foi, porque nunca deixou de ser.
Neste caso quem detêm o poder se vê obrigado a ceder um pouco, como forma ¨ inteligente ¨ de o conservar.
Entretanto. A formação e educação fica mais uma vez adiada.
Até quando ?

sábado, 19 de março de 2011

Transtorno maníaco depressivo

Uma mente inquieta
Livro de Kay Jamison

Desde minhas lembranças mais remotas, eu era propensa a
inconstâncias de humor de uma forma assustadora, embora freqüentemente
maravilhosa. Criança de emoções intensas, volúvel quando menina, a princípio
gravemente deprimida na adolescência, e depois presa sem trégua aos ciclos
da doença maníaco-depressiva na época em que comecei minha vida
profissional, tornei-me por necessidade e por inclinação intelectual uma
estudiosa das alternâncias do humor. É o único meio que conheço para
compreender, na verdade para aceitar, a doença que tenho. Também é o único
meio que conheço para tentar exercer alguma influência nas vidas de outros
que também sofrem de transtornos do humor. A doença que, em algumas
ocasiões, quase me matou acaba matando dezenas de milhares de pessoas a
cada ano
Como minha doença de início parecia ser simplesmente uma extensão de
mim mesma, ou seja, dos meus entusiasmos, energias e humores
naturalmente inconstantes, talvez eu tenha sido complacente demais com
ela. E, como eu era da opinião de que deveria ser capaz de lidar sozinha
com a violência cada vez maior das minhas oscilações de humor, durante os
dez primeiros anos não procurei nenhum tipo de tratamento
Mesmo depois de minha condição se tornar uma emergência médica, eu ainda oferecia
resistência intermitente à medicação que tanto minha formação quanto o
conhecimento de pesquisas clínicas me diziam ser a única forma racional de
lidar com a doença que eu tinha.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Projeção da consciência !!!

Projeção da consciência forçada, compulsória, patológica ?
O que é isso ?
Consciência, será o ato a partir do qual o indivíduo toma sentido de um determinado ato praticado acerca do qual está cônscio (consciente)
Como alguém em estado de coma pode estar consciente ?
Como alguém em seu estado de sonolência, de imobilismo quase total do corpo, pode estar consciente ?
Consciência é um fenômeno externo, e não interior.
Na interioridade humana não existe consciência, mas apenas um sentido, e imagens, originadas desse fenômeno exterior, que nos é dado através da relação com outros corpos, a que designamos por consciência.
Consciência é apenas um atributo verbal ontológico, e não uma característica humana, em que a relação, tanto passiva, quanto ativa, faz com que um ser vivo, seja qual for, tome sentido do mundo que o rodeia.
Sem a tentativa de apurar os estados físicos, que é próprio da própria natureza das coisas, por sermos natureza,e os psicológicos, que são próprios da condição humana, e sem entender qual o espaço que as coisas ocupam na mente, a qual tenta organizar todos os conteúdos ideativos, não devemos facilmente tirar conclusões.
A crença desenvolve esse mistério de fazer cego quem enxerga muito bem, impondo ao indivíduo a negação, como recusa de entender as coisas para além da sua própria visão.
Diz-se consciente, aquele indivíduo que sabe acerca das coisas e do mundo, em que o saber lhe vem da tomada de sentido proveniente da relação com outros corpos.
Significa que sem os sentidos não existe saber.
Mas na prática, apesar do ser humano tomar sentido das coisas e do mundo exterior, não é garantia suficiente, que seus atos possam corresponder aquilo que alguns julgam, que deveria ser consciente.
Ou seja, existe um desejo expresso pela maioria dos formadores, e do coletivo, de tentar uniformizar a projeção de impulsos interiores de um corpo, os aprisionando a determinadas imagens e idéias.
Fragmentar a realidade não é possível, ela, contra tudo e contra todos, se expressa de modo próprio, indiferente ao julgamento do bem e do mal, do que deveria ser, e não é, porque inteira não se reparte, mas apenas reage segundo a complexidade circunstancial.
Na impossibilidade de fragmentar a realidade, alguns optam por ocultar parte dela, como se não existisse, quando ela se revela a todo o momento em outros corpos, produzindo outros fenômenos.
Ou seja, existe a tentativa de manter a criança inteira, através da negação de uma realidade, ocultando dela uma parte julgada nociva, a mantendo num estado primitivo, que se revela fragmentado em relação á realidade.
A resultante parece óbvia.
Como a criança que vira adolescente vai lidar com essa realidade inteira, se ela foi, e está fragmentada ?
Se a realidade é a totalidade de acontecimentos diversos, e alguém impede um indivíduo de gerir essa complexidade, por medo da contaminação, como pode ele um dia tomar conta dessa realidade exterior ?
De imediato nos vem à memória duas soluções para o problema – a fuga, ou a agressão.
Percebemos então, que aquilo que os formadores e a sociedade semearam, deu lugar a dois frutos impotentes de gerar vida, em que uns caiem no chão, outros são levados pelo o vento provocando a agressão.
O que era suposto evoluir para a humanização, no fim de contas não conseguiu medrar para além da sua juventude, não atingindo, ou tendo alguma dificuldade em atingir um grau de maturidade, que o possa conduzir a uma relação saudável.
Assim, nenhum de nós pode projetar o que não existe.

domingo, 13 de março de 2011

Catástrofes naturais

O que nós podemos fazer?

Em nossos dias em que achamos que somos modernos, e que podemos fazer tudo o que queremos , e que somos seres superiores, as nossas próprias origens , nos transformamos em seres prepontentes, achando que a natureza, nos serve , e que somos superiores a ela.
Claro que nem todos , mas todos os problemas com a natureza é algo natural, que sempre aconteceu, nós é que estamos no momento errado, e no lugar errado. Vemos casas sendo destruídas, inundações, essa catástrofe que acontece no Japão, e nos vemos como pequeninos seres , a mercê de a qualquer momento , sermos seres humanos , onde tudo pode acontecer na natureza.
Mas se tomassemos cuidado será que seria diferente, será que está idéia ambiental, não é uma farsa?
No mundo sempre aconteceram essas revoltas naturais, isso acabou com os dinossauros, com alguns homens e animais, precisamos nos adaptar ao nosso meio, mas achamos que somos superiores, grande erro.
Somos animais como qualquer outro, não é porque temos toda tecnologia, que nos é fornecida, que podemos controlar o mundo, tudo é para nos controlar-mos, não a natureza que nós não conseguimos controlar.
Modernos esses acontecimentos sempre aconteceram, é que estamos no lugar errado e em lugares que não tem condições de vida, como o Japão, é uma ilha , e uma ilha sempre sofrerá isso, podendo até desaparecer.Mas precisamos planejar, e sermos mais humildes diante dela , nunca desafiar a natureza nem aos seus poderes que ela exerce sobre nós , temos que respeitá-la, é o que devemos fazer somente assim sobreviveremos.

(www. Artigonal. com SC #4396954)
Wagner José Siebra - Perfil do Autor:
josesiebra@bol.com.br

quinta-feira, 10 de março de 2011

NIETZSCHE EM BUSCA DA MULHER IDEAL

Acabo de ler em três dias do feriado de Carnaval de 2011 a vida de FREDERICO NIETZSCHE, uma leitura densa de um livro lançado em 1909(1ª edição) na França, do autor Daniel Halévy, cuja disposição para leitura, traduzido para o português, está no site: http://www.consciencia.org.
Agradou-me muito conhecer detalhes de Nietzsche para além de seus livros, pois para mim ficou a nítida impressão de que precisamos fazer uma diferença entre o Nietzsche como um ser humano afável, bondoso, cordial, gentil e o Nietzsche escritor. Entre Ele e sua Filosofia. Falo isso para aqueles que não conseguem enxergar além do Nietzsche Ateu e cético.
Neste livro, encontra-se um trecho de uma carta em que Nietzsche escreve a sua irmã Lisbeth, em 25 de janeiro de 1888, e fala sobre um sentimento que teve ao ver uma bela jovem:
"É preciso que eu te conte uma pequena aventura: Ontem, quando fazia o meu costumeiro passeio, ouvi, não longe de mim, uma voz e um riso cálido e franco (parecia-me estar ouvindo o teu riso), e, quando a pessoa em questão passou junto a mim, vi uma encantadora moça de olhos escuros, delicada como uma corça. Isto reanimou por um momento o meu coração, meu velho coração de filósofo solitário: pensei nos seus conselhos matrimoniais, e, durante todo o passeio, não pude mais afastar de mim a imagem daquela jovem e amável criatura. Não há dúvida de que me seria muito proveitoso ter ao meu lado um ser tão delicioso; mas, para ela, seria igualmente proveitoso? Não ficaria esta moça infeliz com as minhas ideias? E meu coração não se despedaçaria (supondo que a amasse), ao ver sofrer uma criatura tão encantadora? Não, não! nada de casamento!"
Na realidade o que Nietzsche percebeu foi que é difícil achar alguém que nos compreenda. E compreenda principalmente o "SER" do filósofo. Ou posso dizer: para a maioria superficial é difícil compreender alguém que foge dos padrões do geral.
Hoje, em pleno século XXI, os "nietzsches" estão cada vez mais sós neste mundo de pura vaidade. A pequenez da alma humana cada vez mais definha para a sordidez. O egoísmo humano impede os bons relacionamentos.
O espírito de um sábio não pode se mesclar com a burrice de um ser superficial. É uma tortura olhar e verificar a vacuidade do pensar.
Nietzsche olhou para aquela bela jovem e sua beleza o encantou. Sentiu dentro de si o desejo da intimidade. Compartilhar, trocar ideias, fusão de mundos... alguém para lhe ser uma "auxiliadora idônea".
Contudo, as excentricidades de um filósofo não se encaixam nas mesmices e nos caprichos dos seres em geral. As esquisitices(leia-se modo de ser) de um Nietzsche não é algo fácil de ser apreciado por alguém cuja mentalidade não passa de um software pré-programado para pensar e agir de acordo com o sistema entorpecedor da inteligência humana.
Para estas mentes condicionadas, as "formas" têm mais valor do que o conteúdo. O aparente e as ilusões das comodidades do bem-estar passam a serem os únicos critérios de escolhas, mais importantes do que aquilo que É como essência e verdade, como diamante lapidado pelas provações.
É lastimável hoje conversar com a maioria das jovens. Há uma superficialidade de alma quase intragável durante 3 minutos de conversa. A cultura abestalhada que massifica 99% das mentes atuais, produzindo seres ‘robotizados", agindo e se comportando tudo de modo sempre igual. O que muda é apenas a exterioridade, o conteúdo do ser reflete sempre a mesma imagem de uma cultura diluída nas idiotices de um sistema que atende um mercado de grande comércio. A globalização engloba tudo e faz de todos, um todo só igual.
Assim, está mais difícil para um "nietzsche" de hoje pensar em casamento. O mágico ilusionista do sistema espalha a materialidade enganosa como uma fumaça negra diante do espelho da alma em que cada pessoa passa a não se enxergar como deveria se enxergar, mas vê como desejosa de parecer igualzinha aos demais "parafusinhos" da engrenagem mecânica do sistema cultural.
Neste sistema, um "homem para casamento" passou a ser um GRANDE CAPITAL, sistema em que as mulheres se multiplica como gafanhotos do egito, oferecendo como moeda de troca sua beleza e sua juventude. Moeda de troca que na realidade não vale um centavo se apenas isto tiver a oferecer. No entanto, a pequenez da alma humana estar tão rebaixada que os vales lamacentos são bebidos e desfrutados como o que há de melhor no mercado.
A verdade é que um "nietzsche" que age e pensa no que há de melhor em termos de valores não se deleitará com alguém cujo ser não passa de um esgoto fétido em que, há muito, nada mais é do que um canal de escoamento dessa lama que nossa sociedade se encontra mergulhada.
Há uma náusea no meu estômago diante das leis de comportamentos burrificadas que se repetem quase todos os dias de um agir que busca a aprovação da maioria e o glamur das massas entorpecidas pela vanglória da pura vaidade.
Gente superficial, com quilos de conhecimentos de livros, que só servem para quem não sabe ler, no entanto, a sabedoria do viver prático não se manifesta.
Frederico Nietzsche em sua vida teve a oportunidade de conhecer uma bela mulher, chamada Cosima Liszt, uma admirável mulher ativa e lúcida, atenta e eficaz. No entanto, era casada com um de seus melhores amigos - Richard Wagner.
Daniel Halévy, assim expressa os pensamentos de Nietzsche, pouco tempo antes de enlouquecer mentalmente, recordando o passado na casa de seu amigo:
Nietzsche recorda aqueles admiráveis dias de Triebschen, quando Cosima o acolhia, ouvia suas ideias e seus projetos, lia seus manuscritos e se mostrava benévola e atenta. Nietzsche exalta-se. O sofrimento e a irritação deformam suas recordações. Interroga-se: não teria amado Cosima? E ela mesma, não o teria amado? Nietzsche gostaria de acreditar nisso e, efetivamente, acaba acreditando. Sim, houve amor entre eles, e Cosima tê-lo-ia salvo como salvara Wagner, se, por um favorável acaso, o tivesse conhecido alguns anos antes. Mas o acaso sempre fora adverso a Nietzsche, e também nesta ocasião Wagner o despojara, ficando com tudo: glória, amor e amizades.
Cosima era uma mulher de cultura, compartilhava com Nietzsche as leituras de seus livros, lhe presenteava belos livros de grandes autores até então desconhecido dele.
Cosima era casada com um grande homem, um grande artista da música clássica. Ao contrário do que normalmente acontece: mulheres de boa personalidade, às vezes, as vejo casadas com grandes patifes.
Uniões de verdadeiros encaixes de afinidades necessitarão de um "acaso" – uma coincidência divina - orquestrador do momento certo e da hora certa.
O fato é que há poucas "cosimas" neste mundo de diluição dos melhores valores. O que mais se verifica é um bando de homens sacanas e de putas das mais diversas categorias.
Sim, o Brasil é um país onde se encontra as melhores putas do mundo. No estrangeiro, as brasileiras estão entre as melhores das latinas calientes. Este país é um país de turismo sexual, as putinhas se vendem em troca de dinheiro vivo, na hora, pago pelo programa realizado; ou aquelas putas civilizadas que "dão" em troca de um belo ca-$-amento.
Diante dessa facilidade de mulheriu no cio no cambio do mercado matrimonial e daquelas postas à venda, ou dispostas a qualquer aventura, os homens cretinos "adoram" o país tropical, abençoado por Dionísio - "deus" grego da orgia.
Nietzsche se interessou também por uma outra jovem, a russa Lou Salomé(depois tornou-se conhecida como psicanalista e colaboradora de Freud). Porém foi dispensado, pois esta preferiu ficar com o seu amigo Paul Rée. Tratou-se de uma paixão não correspondida. E por causa deste incidente, o autor Alfredo Naffah, no livro Nietzsche: a vida como valor maior, dizque: "O episódio terminou com a união de Lou Salomé e Paul Rée e o rompimento de Nietzsche com ambos e com a própria família. Já nessa época, ele usava os mais diferentes tipos de drogas para aplacar seus sintomas: sais, soporíferos e haxixe. Após a desilusão com Lou Salomé, perseguiram-no ideias de suicídio: por três vezes, ingeriu doses abusivas de narcóticos."( FTD, São Paulo, 1996, pág. 22)
Já dizia o GRANDE SÁBIO: "Mulher virtuosa quem a achará? O seu valor muito excede ao de rubis". Prov. 31.10. Nietzsche experimentou este texto na carne. Se queixou muitas vezes para seus amigos de sua solidão. Diversas cartas endereçadas aos amigos mostram como eles eram muito importantes para Nietzsche, pois a este lhe faltava uma companheira idônea. Seria então, esta solidão, porque este filósofo era alguém cuja personalidade seria de difícil sociabilidade?
Creio que não, pela leitura que fiz da vida de Nietzsche verifiquei que ele sempre foi um homem muito amoroso para com seus amigos, sua irmã, sua mãe. Na maior parte da leitura sobre ele, percebi que o que de mais se sobressai foram os rompimentos de seus amigos para com ele, deixando-o só, abandonando-o, não respeitando suas convicções filosóficas.
Era um homem, como disseram dele, de sorriso fácil, que admirava as paisagens belas da Europa, e que se deleitava com músicas e arte. Não era um ser perfeito, tinha como qualquer ser humano seus defeitos, como um excesso de auto-confiança, melancolia, e um certo estilo aristocrático. No mais, como ser humano em seus relacionamentos, sempre foi cordial. Nietzsche muda apenas quando se aproximava sua insanidade iminente(por volta de seus -+44 anos...) Nietzsche torna-se um ser amargo, irritado e com surtos de grandeza.
Enfim,
Como bem coloca a antropóloga Mirian Goldenberg em seu livro POR QUE HOMENS E MULHERES TRAEM? - De leitura agradável e ótimo, livrinho barato e acessível:
"Uma grande mulher se expressa quando ela é amiga, amante, companheira, parceira, cúmplice. Ela deve ser o equivalente de todas as mulheres do mundo, sem faltas ou vazios que poderiam ser preenchidos por outra. Ela deve ser única, especial, plena, insubstituível. (...) Uma grande mulher é aquela que ensina, transforma, instiga, provoca, desafia. Não é alguém que quer mandar à força, ou mudar o homem com suas críticas, reclamações, cobranças e exigências. Ela deve provocar a admiração do seu homem. (...) não será necessariamente bonita, jovem, gostosa, sexy, mas sempre terá outros capitais como a capacidade de ensinar algo, de mudar a visão de mundo, de introduzir a mundos novos, de ser companheira, de ser carinhosa, atenciosa, compreensiva".(Edições Bestbolso, Rio de Janeiro, 2010, p.122-23)
Assim era a mulher que Nietzsche procurava...
Assim é o tipo de mulher que me agrada também...
Não sou filósofo, mas sou um homem que tem bom gosto também...
Por quê não?
Marcos Paulo A. Morais
09 de Março de 2011
Teresina(PI)

(www,Artigonal.com- SC #4379430)

marcos paulo almeida morais - Perfil do Autor:
área de estudos: jurídica
interesses gerais: filosofia. política, psicologia, religião, sociologia

terça-feira, 8 de março de 2011

O grito da angústia

Assim falava Zaratustra

“Sê bem-vindo, adivinho da grande lassidão – disse Zaratustra; – não foste em vão meu hóspede e comensal. Come e bebe hoje também na minha morada, e deixa que se sente à tua mesa um velho alegre”.
– “Um velho alegre? – respondeu o adivinho, meneando a cabeça.
– Quem quer que sejas ou desejes ser, Zaratustra, já o não serás por muito tempo cá em cima; dentro em pouco a tua barca já não estará ao abrigo”. “Acaso estou eu ao abrigo?” perguntou, rindo, Zaratustra.
O adivinho respondeu: “Em torno da tua montanha sobem mais e mais as ondas da imensa miséria e da aflição: não tarda a erguer a tua barca e arrastar-te com ela”. Zaratustra calou-se, admirado.
– “Não ouves, ainda? – continuou o adivinho.
– Não sobe o abismo um zumbido, um rumor surdo?
” Zaratustra permaneceu calado e escutou.
Ouviu então um grito prolongado, soltado de uns para os outros abismos, pois nenhum deles o queria reter, tão funesto era o seu som.
Sinistro agoureiro, – disse afinal, Zaratustra
– isto é um grito de angústia, e grito de um homem; provavelmente sai de um mar negro.
Que me importa, porém, a angústia dos homens! O último pecado que me está reservado... sabes como se chama?
“Compaixão! – respondeu o adivinho, cujo coração transbordava, erguendo as mãos.
– Ó! Zaratustra!
Venho aqui fazer-te cometer o último pecado!”
Apenas pronunciadas estas palavras, tornou a ressoar o grito, mais prolongado e angustioso do que dantes, e já muito mais próximo.
“Ouves, ouves, Zaratustra? – exclamou o adivinho.
– A ti se dirige o grito, é por ti que chama: vem, vem, vem; já é tempo; não há um momento a perder!”
Zaratustra, entretanto, calava-se, perturbado e alterado. Por fim perguntou, como quem hesita interiormente: “E quem me chama lá de baixo?”
“Bem o sabes – respondeu vivamente o adivinho.
– Por que te ocultas? É o homem superior que te chama em seu auxílio”.
“O homem superior! – gritou Zaratustra, admirado.
– E que quer ele?
Que quer o homem superior?
O que que quer ele aqui?
” E o corpo cobriu-se-lhe de suor.
O adivinho não respondeu à angústia de Zaratustra: escutava e tornava a escutar, inclinado para o abismo. Mas como o silêncio se prolongasse muito olhou para trás e viu Zaratustra de pé e a tremer.
“Zaratustra, – começou a dizer em voz triste:
– não aparentes brincar de alegria.
Embora quisesses dançar diante de mim e dar todos os teus saltos, ninguém me poderia dizer:
“Olha, aí tens o baile do último homem alegre!”

Em vão subirá a esta altura quem procurar aqui esse homem: encontraria cavernas e grutas, esconderijos para a gente que se precisa ocultar, mas não poços de felicidade nem tesouros, nem novos filões áureos de ventura

Texto de Nietzsche

Pensamento do dia

Quem esperar pela noite para ganhar tranqüilidade, sua alma viverá atormentada por sonhos fantasmagóricos.
João António Fernandes

Parabéns a todas as mulheres!!!

Abstrato Feminino - Parabéns a todas as mulheres!!!
por Luciana Penteado, ) Facebook ]terça, 8 de março de 2011 às 01:35
Não sou simples, não sou previsível,
Fecho as cortinas para um dia ruim.
Ora sou chama que queima e devora
Ora sou brasa procurando o seu fim!

Não me cobre certezas se não sei, não vivi
Sou um quadro abstrato, colorido, espontâneo
Ignoro os avisos para o perigo iminente,
Descubra em mim o meu eu momentâneo!

Busco respostas no silêncio da noite,
Deixo as perguntas para o acaso do dia
Posso ser repleta de desejos insanos
Ou incoerente, insistente, um sonho profano!

Não desperdice o meu olhar mais humano
De tudo o que desenho, sou apenas um traço
Não se apresse, espere eu dizer que "te amo"
Tome o seu lugar se eu deixar um espaço!

Encontro prazer no sentido de ódio e amor
Se o vento virar, logo serei tempestade
Sou brisa, porém, se eu amar de verdade
Enigma latente, envolvente, sem fim nem pudor.

Sou apenas mulher, inconstante na essência
Transpiro uma a uma, todas as minhas vontades,
Sou reticências, incoerências, não me leve a mal
Meu caminho é uma busca, sem ponto final!

Luciana Maria Penteado

sábado, 5 de março de 2011

O eterno retorno

Se a evolução é processada por diferenciação daquilo que deve ser, ou não deve ser feito, nos remete a um processo primário onde as coisas permanecem inteiras,carecendo de fragmentação para que seja possível a evolução, como se fosse um broto que tentamos eliminar, que logo dará origem a tantos outros.
Fragmentos proveniente de fragmentações formam a diversidade, sem no entanto ser desvirtuada a sua origem, cujas características tendem a manter-se, em que apenas podemos observar a disseminação de corpos semelhantes.
Uma parte que se tornou corpo autônomo tende a definhar e morrer, como o broto retirado da árvore em crescimento, que não consegue receber a seiva que o possa alimentar, não só porque afastado das raízes, mas por impossibilidade de as criar entretanto, deixa-se morrer.
Mas a natureza é sábia, dizemos nós, quando no fundo ela rege-se pelo o princípio da vida, em que arranja sempre uma maneira de fazer face á destruição de que pode ser vítima, lançando ramificações laterais na impossibilidade de um crescimento vertical, multiplicando dessa forma os brotos que vai gerar no futuro.
No entanto, deixada ao seu próprio critério, sem que nada a incomode, a árvore um dia para de crescer, começando a criar uma copa larga, devido ás variantes das suas próprias ramificações, tentando ganhar desta feita um equilíbrio na horizontal, o que fora conseguido antes na vertical.
Quem a limita no crescimento vertical não sabemos bem, julgando nós que tem uma relação com a profundidade de suas raízes, que tenha condições de sustentar seu crescimento vertical, cuja ação dos ventos, por exemplo, pode colocar em perigo a sua atitude erétil.
A uma forma erétil lhe antecede uma base solida, que apresenta a finalidade de a sustentar, porém nunca será suficientemente sólida quando exposta a ciclones, cuja velocidade dos ventos tende a arrasar tudo por onde passa
A própria natureza transforma limites em destroços, talvez para repor as suas próprias limitações, que sabe-se lá porquê foram alteradas, voltando tudo ao princípio, em que o poder de criação é obrigado a fazer de novo, não do mesmo modo, mas semelhante.
A natureza parece ser semelhante aquele meninos de escola, em que a borracha apaga o que mestre não lhes ensinou, repetindo a ação do fazer, que para se realizar, outras características deve ter, de onde podemos deduzir, que o semelhante não é igual, em que parece existir uma identidade de características, que não de formas.
Talvez a qualquer forma corresponda suas características particulares, em que o todo tende a construir uma forma harmoniosa, em que nos é dado a perceber a adaptação de uma diversidade de caracteres, pelo que podemos deduzir, que o corpo não está sujeito a uma característica singular, sendo um produto de uma relação e interligação de uma diversidade caracteriológica.
Se assim o entendermos, a referência perde a sua importância relativamente á diversidade, em que a uniformização será o eterno regresso a uma condição de estabilidade, que possibilita a vida de acordo com determinadas condições ambientais, cujas características se assemelham ao do próprio corpo.
Não nos custa admitir perante o exposto, que a forma de um corpo pouco interesse tem para análise de suas características, sendo o invólucro, a embalagem de que o corpo está revestido, como se fosse uma máscara de carnaval.
O ditado popular é bem o sinônimo do que acabo de referir – Quem vê caras, não vê corações.
Consideremos então, que a diversidade mantém uma relação estreita com a ontologia, nessa procura incessante por objetos exteriores, que sirvam as nossas necessidades, as realizem, e que a tentativa de uniformização, apresenta como finalidade criar a estabilidade do sistema genético / biológico/psíquico, que corresponde ao princípio de satisfação.
O sistema é algo semelhante á língua do camaleão, que se estende para além do próprio corpo para apoderar-se das suas presas que lhe servem de alimento, regressando á sua posição interior, quando satisfeitas as suas necessidades.
O núcleo da vida, que tem sua própria função e seus princípios, não apresenta condição alguma para a desagregação, o que implicaria a inércia e a morte do sistema, pelo que só o poder de associação a outras formas existentes pode contribuir para a sustentação da sua própria vida.
O poder de atração como necessidade funcional, contrasta com a idéia da existência de uma energia dispersa, anárquica, sem qualquer tipo de ligação, que a meu ver será uma ilusão construída em face daquilo que sabemos e sentimos.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Ontologia e transcendência

A ontologia pertence ao campo das experiências, a partir de um movimento endógeno / exógeno, que apresenta como sentido o que está para além do próprio indivíduo, representado por objetos exteriores.
Esta representação é real, como movimento do indivíduo dirigido ás coisas e o mundo, cuja finalidade será a satisfação da sua própria interioridade, entendida como necessidades básicas, que tem na relação física o ponto de encontro do sujeito com o exterior.
A transcendência será sempre aquilo que supera a realidade, que nela não existe, mas que é suposto pelo o indivíduo, que possa existir, em que a imanência será o ato a partir do qual o corpo liberta algo de si, como energia, que viaja no tempo, sem objeto, nem sujeito, como se fosse algo independente.
O fenômeno da transcendência e da imanência pertence ao imaginário, como algo supostamente existente, mas sempre oculto, em que o objeto não existe, e o objetivo será apenas um desejo.
Não podemos encontrar uma resposta científica a partir de uma base espiritual, dado que ela não se sustenta, porquanto estamos a lidar com fantasias, fantasmas, figuras virtuais e fantasmagóricas, que são sentidas no corpo do ser humano, impondo medos, para as quais a mente tende a arranjar uma imagem, como justificação para o que está a sentir.
Este fenômeno talvez nos queira dizer, ao contrário daquilo que é veiculado por algumas pessoas, que a transcendência pode ser na realidade um fenômeno restrito a um plano inferior da evolução do ser humano, que é processado em separado do princípio de racionalidade, e anterior á própria organização mental, no que se refere a conteúdos ideativos.
Explicando melhor; os sentidos não necessitam do pensamento para sentir a relação com as coisas e o mundo, em que o princípio de satisfação é o alvo a atingir de forma natural.
A primeira divergência quanto a esta matéria é proveniente de uma cultura assente na privação, no culto da dor e sofrimento, como forma de atingir a felicidade, que apresenta como finalidade recusar o gozo, e os objetos que possam levar o indivíduo á satisfação, sacrificando o corpo.
A imanência, entendido como ato de libertação de um corpo aprisionado, não pode ter lugar no mundo físico, porque proibido, pelo que a transcendência, que tende a transportar o indivíduo para além de si mesmo, e das coisas terrenas, será um modo encontrado pela mente, para que o indivíduo possa sobreviver á repressão.
A referência a um plano inferior da evolução do ser humano, deve ser entendida como primária, primitiva, como surgimento das primevas imagens, que conduzem o indivíduo á associação de imagens e idéias, cuja finalidade é tornar compreensível, o não compreendido, e que tantas vezes impõe o medo de que algo possa acontecer de ruim.
Nessa primeira etapa da existência de qualquer ser humano nada está determinada para além da genética e da biologia, segundo seus princípios, que são pertença da sua própria condição de ser vivo, que uma vez bloqueado, castrado, é impedido de seguir seu caminho de forma natural, em que o instinto de preservação, desperta a negação, e ao mesmo tempo a procura de formas capazes de sustentar a sua própria vida, e a preservar.
Será então, perante a impossibilidade, que o corpo tende a manifestar-se de forma mais intensa,e m virtude da tentativa de superação perante um obstáculo, que tenta impedir a continuidade de um movimento dirigido, em que nos é dado a observar o poder reativo.
Esta tentativa de superação apresenta como finalidade o afastamento do objeto não desejado, que pode levar até á sua destruição, como forma de abrir caminho para a própria liberdade do ser vivo.
Como podemos perceber, não se trata propriamente de superar a si mesmo, mas antes tentar arranjar mecanismos, que possa conduzir á superação do outro, entendido como obstáculo.
A impossibilidade em prosseguir um caminho, que é da própria natureza do ser vivo, gera uma impotência, que tende a apresentar uma conseqüência reativa, que não ativa, que é capaz de se acomodar, ou procurar uma acomodação, mas que é incapaz de eliminar os instintos de sua própria natureza.
Assim, essa forma reativa, nunca será ativa, em que a existência de ressentimentos emerge, e permanecem, embora possam estar ocultos, como forma reativa proveniente de uma pressão excessiva, designada por repressão, em que o indivíduo se vê obrigado a amar, segundo uma outra condição, ma tentativa de superar a afetação.
Amor e ódio podem ser entendidos segundo a perspectiva de um sentido de afetação, que parece ser o fator diferencial, que pode conduzir o indivíduo á ambivalência emocional.
Parece existir uma sujeição aparente por necessidade, que uma vez não admitida de modo natural, pode levar, por exemplo, uma mulher sujeitar-se a um homem, devido a um desejo psíquico interiorizado, que o dinheiro possa promover o seu bem estar, e que uma vez obtido tal requisito, pode conduzir ao abandono daquele que realizou seus desejos.
A impossibilidade tende a ser geradora da transgressão, não respeitando e considerando o outro nos seus desejos, como também não o foi antes devido a uma formação infantil repressiva.
Contudo, o que nos é dado a perceber é a tentativa de castração, de um bloqueio de movimentos, que não encontrando objeto, nem sujeito, tende seguir seu movimento na tentativa de o encontrar, julgando encontrar-se no além como força poderosa, que o impede de prosseguir seu próprio caminho.
A imanência, entendida como projeção energética, que não é capaz de encontrar o objeto, porque ele não existe, porque proibido, que por isso não pode ser representado, nem representável, uma vez não compreendido, tende a ligar-se a uma imagem imaginária, virtual, como forma de sobreviver á sua própria prisão, castração.
A esse movimento, que provém da imanência, designamos por transcendência.
Se a mente não é capaz de apresentar uma dinâmica psíquica, sem a representação da imagem e seu significado, resultando daí a associação de imagens, que formulará uma síntese, e a conseqüente ação, elas de algum modo são forçadas a existir para que possam ser compreensíveis e determinar a atitude humana.
Em resumo, num plano inferior, ou primário da existência do ser humano, a existência de imagens é fundamental, e sem elas não pode haver o simbólico, nem pensamento, e como lhe foi dado pela própria natureza a capacidade de pensar, o indivíduo é forçado a fazê-lo, por ser essa uma condição do seu próprio organismo.
Como, e por intermédio de que mecanismos pode obter as imagens, para que possa conseguir organizar o pensamento em face daquilo que lhe é dado a observar, pertence a um plano de busca, que ao não ser encontrado o objeto nas coisas terrenas, o procura no além.
Não se trata, a meu ver, de algo inusitado, que não possa ser percebido como característica humana, dado que o recurso a imagens virtuais é próprio, de quem é impedido de viver a realidade através das relações entre humanos de forma natural.
O plano de transcendência nada tem a vercom a superação de dificuldades, apenas sendo uma conseqüência, e muito menos terá alguma relação com imagens reais observadas, que o indivíduo tende a fantasiar, em que estas pertencem ao mundo físico, e aquelas a um mundo inexistente.
Existe por isso, a necessidade de existir algo semelhante no além, ou mais além, que nos possa oferecer aquilo, que os humanos tendem a roubar ao outro, o poder interior.
A resultante será a demonstração de um poder que não existe de fato, que emerge de um sentido de impotência, que baqueia perante a agressividade alheia, e pode conduzir á destruição, ou á imobilização, por interiorizar a sua própria impotência.
Desse modo, podemos perceber que a atitude reativa é sempre proveniente de um falso poder, dado que apresenta poucas condições de afirmar-se por si mesmo, e somente tende a fazê-lo quando na presença, e no combate a um outro indivíduo.
Para o cérebro não existem diferenças, quer se trate de formas ontológicas, ou transcendentais, em que aquela é sustentada por um objeto, e esta não o será em princípio, mas á qual é associada uma imagem, cujos significados já existem, para que possa ser organizada do mesmo modo.
Nos é dado a observar a construção de imagens virtuais, imaginárias e fantasmagóricas, dada a ausência de uma representação individual, porque proibida, pelo que se vê obrigado a representá-las noutro lugar, que pouca importa se existe de fato, ou não, dado que a função assim o exige.
A existência de um fluxo energético produzido por um corpo carece de ligações a objetos, pelo que as relações, e sobretudo a forma como são sentidas pelo o receptor, considerado passivo, e por conseguinte induzido, tende a influenciar o modo como vai, e pode ser organizado tais fluxos no organismo do ser vivo.
Talvez não nos custe entender, que a vida, por isso, será um constante fluxo de energias, que necessitam de serem organizadas segundo uma condição genética / biológica, em que o pensamento não se torna fundamental.
A impossibilidade, provocada pelo o bloqueio de energias dirigidas, tende a formar um ser impossível, que por impossibilidade não se torna naquilo que é, que se tornará em outra coisa qualquer, que pode causar dissabores a todos aqueles, que estiverem por perto, e a si mesmo
Desse modo, podemos deduzir que as imagens produzidas por uma necessidade de transcendência, são imagens impossíveis, que não são provenientes de uma imagem real, cuja finalidade parece ser a sustentação de uma possibilidade proibida, que alguns homens tentam tornar impossível.
Podemos perceber quanto inglória será essa determinação psíquica.

Referência bibliográfica :
- Texto de Luís Carmelo – Universidade Autónoma de Lisboa ( Portugal )
- Signo, tempo e consciência; Gilles Deleuze e António Damásio

Para António Damásio a intencionalidade provém da capacidade do cérebro em contar histórias.
Essa capacidade precede a linguagem, o que é até, afinal, uma condição para a (própria) linguagem.