Livro - Retalhos de uma vida - Lançamento Retalhos de uma vida, conta testemunhos de guerra, sexo e relações interpessoais, analisadas segundo a perspectiva do autor - João António Fernandes - psicanalista Freudiano, que as vivenciou. O autor optou por uma escrita simples, que possa levar a maioria das pessoas a entender a idéia Freudiana. http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7

sábado, 26 de março de 2011

O devir eterno

Falarmos do ciclo da vida como função implica uma sistematização, um devir eterno, repetitivo, mecanicista, sem que exista nesse movimento, ou pelo menos, nós humanos não conseguimos enxergar qualquer tipo de alteração, como se fosse uma máquina programada num só sentido.
Esse movimento da vida só tem um sentido, a preservação da própria vida, procurando através do meio aquilo que a possa servir e satisfazer, cujo princípio designamos por princípio de satisfação.
No entanto, tal princípio é apenas uma possibilidade, que o corpo procura de forma instintiva, como forma de auto satisfação, em que existem probabilidades que tal venha a acontecer.
Pârmenides ao afirmar que ¨ O ser é e não pode não ser. Que o não ser não é e não pode ser de modo algum¨, parece existir para ele a imutabilidade de um sistema universal, regido por uma energia cósmica, que proporciona o ciclo da vida.
Deste conteúdo ideativo, tentam retirar alguns filósofos a conclusão, que tudo permanece como está, ou como é, e que a mudança é uma ilusão.
A mesma questão vamos encontrar quando falamos de consciência, do ser consciente, em que o ser humano é consciente, e deixa de ser, mesmo em relação ao mesmo assunto, segundo as opiniões de alguns filósofos.
Desde tenra idade o ser humano tem consciência que não deve matar, mas depende das circunstâncias, e de muitos outros fatores de formação, o fazer, ou não, em que aquele que mata, torna-se incapaz de produzir o ato, sem levar em conta o afeto, e a afetação.
Este é, e deixa de ser, não o podemos encontrar numa forma sistematizada, mecanicista, funcional, que apenas é dada aos princípios através da qual se rege a matéria, esses sim, imutáveis.
O movimento será apenas a forma visível dessa motilidade.
Desse modo, nos é dado a observar que não são as coisas que se tornam imutáveis, mas os princípios que as regem, cujas alterações encontram-se para além de uma determinada função.
De outro modo, não existiria liberdade na relação, o que terminaria num ciclo fechado, incorruptível, que não teria condição alguma em sobreviver.
Assim não me parece, que possamos extrair das palavras do filósofo tal interpretação, em que apenas somos levados a interpretar de acordo com os nossos sentidos, não percebendo o que pode ser entendido por vida, e um sentido emergente, que carece da relação para a sustentar.
Os princípios porque se regem a matéria são imutáveis, mas as coisas tendem á transformação de forma mais ou menos constante.
Esse devir eterno, entendido como infinito é promovido á custa do finito de um determinado estado, como provocador de iniciação de um outro que lhe sucede, em que podemos perceber em tal movimento, o repetitivo e infinito.
Se assim entendermos, não podemos falar de uma coisa, ou fenómeno, tendo em conta apenas uma visão parcial, dado que as partes, sejam quais forem tendem a estar relacionadas, e que sem essa ação / interação, as coisas não poderiam existir, e os fenómenos seriam inexistentes.
Heráclito tinha razão ao afirmar que nós nunca nos banhamos na mesma água de um rio, mas Parmênides tinha lá suas razões para afirmar que o ser que é, não pode deixar de não ser, dado que seria a sua própria inexistência, que não apresenta condição alguma de ser observada, nem observável.
Heráclito, porém, com a sua feliz frase, nos dá a saber a teoria de um movimento imutável e de um sentido dirigido, a água que corre, que uma vez brotando de uma nascente, fonte, tende a tomar uma determinada direção, gerando o movimento, e que o corpo ao ser envolvido tende a transformar-se quanto á sua forma.
Pedra mole em pedra dura tanto dá até que fura.
Podemos então entender, que a transformação, não será mais que a própria degradação das condições anteriores existentes.
As possibilidades derivadas do pensamento humano, debate-se com a probabilidade de ser exequível, ou com a impossibilidade, tantas vezes temporária, de ser implantado.
Sem preparação do terreno, a germinação pode dar-se, mas o vigor será débil, o crescimento lento, preguiçoso, e os frutos tendem a escassear.
Posicionados no campo das probabilidades, não pode haver exigência, mas apenas, e tão só, a preparação do terreno para lançar a semente á terra, provocando as condições para que a vida possa vingar.
Podemos entender como probabilidade, um conjunto de fatores, que relacionados, possam contribuir para a funcionalidade de um sistema, em que todos eles contribuem para a realização do que é proposto.
Tal proposta a vamos encontrar na natureza, sem que exista a verbalização, virtudes, ou defeitos, o bem e o mal, pura invenção humana, em que o fator compatibilidade pode promover a associação, e a incompatibilidade o bloqueio, ou até mesmo a explosão.
Parece existir neste caso, a separação natural de elementos, e a sua combinação nas devidas proporções, que tende a processar-se num mundo de valências, exigência de um poder abstrato, que se faz sentir na matéria.
Se o efeito multiplicador nos garante o infinito, a divisão o proporciona do mesmo modo, em que a valência não se esgota, apenas será perceptível, ou não, para o ser humano.
A quantidade de energia empregue numa determinada tarefa, potencializa uma força, mas ela é incapaz de alterar o seu aspecto valorativo, apenas o reclama, como característica inscrita na matéria, em que só a associação permite um ganho de resistência contra a erosão, a degradação.
A preservação desperta a resistência de um corpo contra a sua própria degradação, cujas reações podem ser da mais diversa ordem, assim como o movimento interior impulsiona o corpo a procurar no exterior aquilo que o possa alimentar, e manter vivo.
A reação contra as necessidade e desejos, que se encontram por realizar provoca um impulso, que faz movimentar o corpo, em que nos é dado a perceber uma forma de resistir á própria morte.
Podemos então perceber, que o sentido de morte não se faz anunciar, ele faz parte do próprio corpo, como sinalizador de uma impossibilidade sentida, que emerge da sua condição de repouso por necessidades sentidas, ou desejos por realizar.
A conclusão parece ser óbvia, os sistemas genético / biológico, e psíquico, estão
organizados através de valências, sem idéia nenhuma acerca de suas necessidades, e desejos, que só o pensamento humano pode dar.
Fazemos as coisas em função do que sentimos, como forma de o realizar, para sentirmos, que aquilo que sentimos, tem uma correspondência exterior, ou seja, que nos possa alimentar.

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